Filmes sobre feitos jornalísticos tem ganhado um peso grande recentemente. Foi assim com Spotlight – Segredos Revelados, e talvez tenha sido isso que fez Steven Spielberg pensar em finalmente trazer à luz a historia de The Post: A Guerra Secreta, onde se conta a famosa história por trás da publicação do Washington Post de um estudo encomendado pelo ex-secretário de defesa Robert McNamara a respeito da participação americana na Guerra do Vietnã.
O filme se fundamenta dramaticamente na relação entre dois personagens, Ben Bradlee, vivido pelo antigo parceiro de Spielberg, Tom Hanks, editor do jornal, e Katharine Graham, proprietária do Washington Post – feita por uma inspirada Meryl Streep, que consegue variar entre a mulher que fica do lado de fora do jornal mas ainda assim é preocupada com o que veiculam no noticiário de sua família e a insegurança de não possuir verba suficiente para pagar todos os custos das operações do periódico. As discussões entre os dois guardam as partes mais importantes e divertidas dos filmes, e ajudam a montar o quadro de fatos, como as questões envolvendo a concorrência com outros periódicos e a dificuldade de se manter vivo apesar do boicote do então presidente Richard Nixon.
Esse é um filme bem mais dinâmico que parte da filmografia recente do diretor, em especial Cavalo de Guerra e Lincoln, embora não seja tão envolvente emocionalmente quanto Ponte de Espiões, certamente rivaliza com esse em peso e qualidade. Há um pequeno problema de ritmo, uma vez que a primeira parte é um bocado arrastada, mas isso de certa forma conversa um pouco com o cotidiano. Além disso, duas coisas impressionam, que são os comediantes e as perucas que visam caracterizá-los. Além disso, é curioso ver o comediante David Cross fazendo um papel sério, assim como Bob Odenkirk, ainda que este esteja mais habituado com personagens dramáticos.
A construção do quadro político dos Estados Unidos é muito bem exemplificado, sobretudo na personificação de Bob McNamara, de Bruce Greenwood, que na primeira cena demonstra ser um sujeito contra o conflito no Vietnã, contudo, em aparições públicas precisa falar a favor do embate. A forma dúbia como ele age e a falta de certeza de sua participação no vazamento de informações sigilosas para os jornais casa muito bem com o clima de paranoia que imperava durante a Guerra Fria.
Próximo de se decidir finalmente se a coisa será publicada ou não, há enfim o apogeu do jornalismo, com Katharine decidindo seguir o conselho de seu velho amigo. Spielberg torna toda a espera e suspense sobre as possíveis punições aos responsáveis em um thriller dos 1970 – inclusive referenciando visualmente o clássico de Alan J. Pakula, Todos os Homens do Presidente – e mostra em imagens o quão bonito e idílico pode ser o jornalismo romântico, ao mesmo tempo que não esquece do pragmatismo do cotidiano vivido pelos jornalistas. O tom denunciativo de The Post: A Guerra Secreta é muito bem-vindo, em espacial ao enxergar semelhanças básicas com o que ocorre atualmente no mundo.
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