Entrevistamos com exclusividade o diretor e roteirista Daniel Gonçalves, estrela e criador do longa Meu Nome é Daniel. Conversamos com ele e o resultado você logo abaixo.
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Vortex Cultural: Seu filme é bastante inspirador e pessoal. Há coisas ditas e mostradas nele que claramente só ocorrem tão bem e com caráter tão verdadeiro porque foi o próprio biografado que fez. Te pergunto desde quando há esse desejo em contar essa história?
Daniel Gonçalves: A história começa com um curta, que eu fiz em 2014 chamado Como Seria, e nesse curta eu tento imaginar como seria a minha vida se eu não tivesse essa deficiência. A princípio eu fiz esse curta para um desses concursos de internet, mas acabou não indo para frente, e depois disso eu decidi lançar o filme no Facebook e no youtube, e o vídeo viralizou. Ao analisar toda a repercussão percebi que havia mais história para ser contada. Assim eu comecei a desenvolver o projeto do longa, que começou em 2015, com um campanha de financiamento coletivo, e através dessa campanha com a TV Zero, e o Roberto (Roberto Berlinier) quis entrar, depois disso ganhamos o primeiro edital, então a história começa de 2014 para cá.
Vortex Cultural: Dada a qualidade do filme, espera-se que você continue fazendo filmes, há ideias de contar outras histórias ou sua ideia é dar continuidade a outros acontecidos autobiográficos?
Daniel Gonçalves: Sim, eu desejo e quero continuar fazendo filmes, e no momento eu, a minha produtora e mais alguns amigos estamos desenvolvendo três projetos: um documentário sobre um artista brasileiro Flávio de Carvalho, um documentário sobre sexualidade e pessoas com deficiência e um documentário sobre educação inclusiva. Desses, o que está mais avançado Acessexibilidade, que fala de sexualidade e pessoas deficientes.
Vortex Cultural: Ao final do filme há uma reflexão sobre as suas dificuldades e facilidades. Onde você acha que a sua história te ajudou a montar um filme tão belo e inspirador?
Daniel Gonçalves: Tiveram algumas coisas que colaboraram para isso… a primeira é o fato dos meus pais terem me gravado tanto, sem esse material de arquivo, dificilmente o filme existiria da maneira como ele é. Depois, a própria maneira como eu hoje enxergo cinema, em especial documentário. Eu tendo a gostar muito de filmes mais pessoais, de filmes que só o diretor mesmo pode fazer e o Meu Nome é Daniel só existe porque eu mesmo estou contando essa história. Apesar de eu saber que ele inspira as pessoas, nós tentamos tirar dele tudo que poderia causar uma emoção automática e barata, quase não há música, a minha narração é mais descritiva do que emotiva e a gente evitou ao máximo o clichê do coitadinho ou do cara “super foda”, quase como um arauto da superação, um super-herói. É um filme bonito, mas a emoção dele não é barata, é uma emoção muito legítima.
Vortex Cultural: Há alguma negociação para que o filme entre em circuito comercial, se sim, quais são suas expectativas quanto ao público geral conseguir vê-lo?
Daniel Gonçalves: Nós temos um contrato de distribuição com a Olhar Distribuição, de Curitiba. O filme entrará em circuito, e provavelmente, será lançado ano que vem. Eu espero que a carreira dele nos festivais seja positiva, e se ele passar de 10 mil espectadores eu ficarei muito feliz, pois é um número muito bom para documentários.
Vortex Cultural: Ao terminar de assistir Meu Nome é Daniel dá uma vontade de pegar uma câmera e partir pra gravação de um filme. Digo isso mais pela ternura da história e o modo de contar do que pelas dificuldades comuns de fazer arte no Brasil. Você imaginava que poderia causar isso nas pessoas que veriam seu longa?
Daniel Gonçalves: Eu confesso que é a primeira vez que ouço que meu filme inspirou pessoas a quererem fazer filmes. Em relação a isso não imaginava que isso poderia acontecer, mas eu fico feliz, porque eu acho que a grande potência do filme é mostrar a riqueza dessas coisas que aparentam ser banais (refere-se a gravações de coisas de família) mas que num contexto do filme, quando é montado de uma determinada maneira, essas imagens podem ganhar uma força muito grande. Acho que no fundo a gente faz cinema para isso, pra gerar vontade, pra gerar desejo, pra gerar reflexão nas pessoas.