A franquia Resident Evil nunca teve medo de se reinventar, gostemos ou não. Ao mesmo tempo que não fazia algo totalmente inovador, acabou criando novos paradigmas dentro da indústria. Os três primeiros capítulos da série principal são fortemente inspirados em Alone in the Dark, porém acabou se tornando referência e deixando sua fonte inspiradora pouco conhecida pelo grande público. A partir do 4, apostou numa jogabilidade mais voltada à ação, que se estendeu ao 5 e 6. Neste sétimo jogo da franquia principal, a Capcom, nitidamente, se inspirou em jogos de terror recentes, tais como Outlast, Amnesia e Alien Isolation. E mesmo assim conseguiu manter a essência da franquia. Ou não?
A grande mudança está na perspectiva de visão, agora em primeira pessoa. Porém, esta não foi a primeira tentativa. No Playstation 1 tivemos o péssimo Gun Survival, além de jogos de “tiro sobre trilhos” em outras plataformas. O que podemos dizer é que Resident Evil 7 achou o tom certo e conseguiu aplicar boas ideias nesta perspectiva de primeira pessoa.
O jogo conta a história de Ethan, que certo dia recebe um e-mail de Mia, sua esposa desaparecida. O e-mail pede para que Ethan a encontre em determinado local no interior da Louisiana.
A trama se passa em uma casa isolada onde Ethan terá o desprazer em conhecer a família Baker, que parece ter saído do Massacre da Serra Elétrica – Parte 2. Ethan precisará lutar por sua vida e utilizar recursos bem limitados para isso. Neste ponto, Resident Evil 7 talvez seja o capítulo mais survival horror da franquia. Seu personagem é lento, a munição é escassa e a todo momento nos sentimos acuados, indefesos, numa atmosfera desesperadora. O fato de a visão ser em primeira pessoa impossibilita visualizar o inimigo quando estamos correndo dele. Isso causa ainda mais terror.
A ambientação contribui muito para gerar esse clima. Os cenários são muito bem construídos, o som ambiente muito bem colocado. A trilha sonora é pontual, gerando aquele sentimento de solidão. Tal como em Dark Souls, o barulho de seus passos será a trilha sonora principal. Tudo isso traz ainda mais imersão por causa da visão em primeira pessoa.
Todo o stress de Ethan é passado ao jogador, são vários momentos de tensão e alguns de susto. As primeiras horas de jogo são fantásticas, uma verdadeira experiência de terror. Sem dúvidas o ponto forte do jogo são os cenários muito bem construídos e críveis, mesmo com aqueles puzzles típicos da franquia. Muitos deles possuem uma justificativa, o que é impressionante. Houve um cuidado incomum nesse ponto. Os elementos do cenário e da trama conseguem fazer uma simbiose lógica.
Um dos recursos narrativos mais interessantes são as fitas VHS. Encontre algumas e, ao assisti-las, é você quem controla o filme. As fitas ajudarão a descobrir mais sobre a história e a resolver alguns puzzles.
Parece familiar?
Existem trechos que podem causar certa frustração aos jogadores mais afoitos. Você precisa lembrar que está numa situação de sobrevivência, de desespero, então não perca o controle. Poupe munição e itens de cura, evite matar quando possível, corra quando houver oportunidade, se esconda se tiver amor à vida. As limitações físicas de Ethan irão lhe lembrar isso a todo instante, o que é ótimo para a proposta do jogo.
De uma forma geral, Resident Evil 7 tem um saldo bem positivo. Deu a impressão de que prolongaram desnecessariamente a duração do jogo, sendo este, talvez, o motivo pelo qual o tom criado no início se perca em certos momentos. Terminei o jogo satisfeito, porém sem vontade de jogar novamente. Os fãs mais puristas irão desdenhar este jogo, mas saiba que a essência da franquia está ali. Não entrarei em maiores detalhes pois um dos méritos do jogo é te surpreender. Dar maiores detalhes de jogabilidade, cenário e personagens estragarão sua experiência (nem assista ao trailer abaixo). Saiba apenas uma coisa: jogue de mente aberta, dê uma chance e aproveite um baita jogo de terror com a essência de Resident Evil e referências aos clássicos do cinema B. Disponível para XBox One, Playstation 4 e PC.