Sábado foi o dia mais movimentado em Paraty. No dia seguinte, o público começa a diminuir e, talvez não por acaso, a décima nona mesa do evento, às 17h, A arte do ensaio, foi deixada para o último dia com a consciência de que parte do público não se importaria de perdê-la. Um erro por parte do público.
Diferente da denominação comum da palavra ensaio tida no país, a expressão não significa no exterior o estilo de texto acadêmico presente em nossas universidades que é, normalmente, erudito demais quando não engessado ou empolado ao extremo.
Com mediação de Paulo Roberto Pires, editora da principal revista ensaística do país, a Serrote, do Instituto Moreira Sales, dois dos grandes ensaístas contemporâneos, o britânico Geoff Dyer e o americano John Jeremiah Sullivan conversaram a respeito de uma das formas mais livres da literatura.
A mesa foi a última conversa do evento. Já que o próximo encontro, programado para o início da noite, reúne diversos autores lendo trechos de seus livros de cabeceira. Até esta conferência, uma importante constatação, até então ignorada por mim em eventos acadêmicos, veio à tona: a importância do mediador.
Paulo Roberto Pires foi exemplar. Soube transitar entre os temas abordados e as perguntas do público como quem produz uma fala única e bem composta. Pontuava considerações nos momentos certos e levantava boas questões que fazia os ensaístas dialogarem entre si.
Escolheu ir além do tradicional, optando por primeiro conversar um pouco com os autores para depois, com público integrado a cada um deles, ouvir a leitura de cada um. Como estilo considerado livre pela maneira com que mescla erudição, opiniões pessoais e um estilo narrativo próximo da ficção, os escritores foram estabelecendo pontos de referência para que público compreendesse sua importância.
Sem ter um formato próprio, o ensaio permite que o escritor deforme o estilo a favor de seu tema. Escolhendo uma voz adequada para abordar cada assunto que vem à tona sem a intenção formal. Por isso a indefinição do gênero e, não por acaso, a maneira com que escolhi abordar as crônicas do evento, sempre escolhendo a abordagem no estilo que parecia mais adequado com cada debate, tentando ao máximo produzir um bom texto referente.
Dentre as mesas às quais assisti, elegi esta uma das melhores pela fruição com que autores e mediador conversavam, dialogando sobre o tema de maneira natural. Uma sensação que também reflete no público, menor que os dos dias anteriores mas não menos interessado.
Coincidentemente, os dois ensaios lidos pelos autores tinham como tema a música. Dyer apresentou texto de seu livro sobre jazz, Todo Aquele Jazz, e Sullivan leu um pungente texto sobre Michael Jackson, de Pulphead – O Outro Lado da América, ambos da Companhia das Letras.
Ao abordar o ensaio e fazer dele a última mesa dialogada do evento, a FLIP finaliza sua décima primeira edição privilegiando um dos grande temas deste ano, o prazer do texto e da leitura. E, naqueles aplausos no final da conferência, a festa literária anunciava seu final. Faltando apenas a reunião épica de autores que leriam seus trechos preferidos e, sem dúvida, falariam de si mesmos, sempre egocêntricos que são.