Terceiro volume publicado da série (e oitavo editorialmente), O Pato Donald por Carl Barks: Em busca do unicórnio segue a qualidade gráfica de seus antecessores, e apresenta histórias sensacionais. Barks parece estar mais à vontade com os personagens, principalmente os recém-criados por ele, como Gastão e Tio Patinhas. Esses dois apresentam algumas características que foram aos poucos se perdendo nas histórias mais recentes. A história-título, Em busca do unicórnio, apresenta algo impensável para o Tio Patinhas dos dias de hoje: o velho sovina oferece uma gorda recompensa em dinheiro ao seu sobrinho caso ele cumpra a tarefa de capturar o último unicórnio vivo na Índia. Roteiristas mais novos costumam fazer com que Donald receba apenas 30 centavos por hora de seu tio, ou acabe até devendo algo a ele pelo uso de equipamentos. O Patinhas ainda embrionário de Barks não toma a dianteira da expedição, como faria em futuras obras do autor, terceirizando a ação. O Gastão, também embrionário, não é apenas um ganso sortudo. Ele “faz” a própria sorte, através de meios muitas vezes escusos, enganando e trapaceando seu primo para conseguir encontrar o unicórnio antes dele, e de forma menos trabalhosa. Assim, ao final das histórias com a dupla Donald/Gastão, nem sempre o primo ganso leva a melhor e a justiça poética parece funcionar. Donald pode, vez por outra, usufruir de uma parcela da riqueza de seu abastado tio, afinal!
Em outra história apresentando a relação entre o pato e seu tio rico, Carta para Papai Noel, vemos um Patinhas menos avarento esbanjando seu rico dinheirinho para presentear seus sobrinhos-netos no natal. Essa história formidável (com direito a uma luta de retro-escavadeiras) já tinha sido republicada recentemente no especial de capa dura Contos de Natal, mas aqui apresenta a paleta de cores original, como todo o volume.
Talvez o maior destaque da edição seja a história O felizardo do Pólo Norte, na qual Donald arma um esquema para se livrar do seu primo esnobe Gastão, mandando-o a uma infrutífera expedição no gelo polar. As cenas em que o pato sente o peso na consciência de sentenciar o ganso a uma morte glacial são de uma genialidade característica de Barks, e um dos momentos mais humanos do volume.
A terra dos ídolos é mais uma daquelas histórias que se utilizam dos estereótipos raciais da época ao retratar os nativos americanos. Guardadas as devidas precauções para que não haja um julgamento anacrônico de valor, a história é sensacional! Donald arruma um emprego como vendedor de bugigangas e procura os povos mais isolados da América para empurrar suas quinquilharias. A transformação dos ídolos do título (totens, na verdade) em um enorme órgão à vapor é uma das cenas mais divertidas da edição!
O volume apresenta Carl Barks bastante à vontade e em sua melhor fase. A qualidade das histórias é muito superior à edição que veio logo a seguir – que seria, cronologicamente, o volume 15 – , e merece um lugar de destaque na coleção de qualquer fã de quadrinhos Disney.
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