Dos confins do espaço, um astronauta bem famoso está isolado, sem viva alma para ajudá-lo a voltar para casa – tampouco sem computador, pifado. Parece que o Astronauta, um dos mais icônicos personagens de Mauricio de Sousa, realmente foi longe demais desta vez, em toda a sua fome de conhecimento. Agora, nosso Cabral das estrelas foi aonde nenhum outro homem ousou atingir: a órbita de uma misteriosa estrela que dá nome a este livro, uma Magnetar. Um corpo celeste altamente magnético, mais brilhante que o sol, e mais perigosa que todos os eventos da Terra, reunidos em um único ponto. Seus estudos ainda seguem incompletos, mas se alguém pode coletar informações presenciais dessa estrela para entendê-la melhor, há muitos anos-luz do nosso pequeno planeta azul, é o nosso amigo intergaláctico, criado em 1963 junto das tirinhas de jornal da Turma da Mônica.
Mas ele não esperava que o universo, indiferente as ambições humanas, sabotasse sua expedição repleta de coragem, motivada (no começo) por pura curiosidade científica. Logo ao pousar num dos asteroides que gravitam um Magnetar, sua nave é danificada e ele fica sem oxigênio, ao usar todo o ar que tinha em seu traje espacial para sobreviver, e conseguir numa quase missão-suicida voltar a sua nave redonda. Sozinho, e sem a tecnologia de sempre para lhe ajudar nessa missão, como nosso amigo sairá dessa? Em 2012, para comemorar os quase 50 anos de personagens como o Astronauta, Bidu, Louco e Chico Bento, entre tantos outros da espetacular mitologia da Turma da Mônica, a mais popular série de quadrinhos de todos os tempos no Brasil, Maurício de Sousa escolheu artistas que pudessem empregar a seus clássicos ícones novos traços, e novas perspectivas, muito além daquela simplicidade que tanto nos habituamos a ler, nos gibis originais.
Assim, a aventura de Astronauta pode ser algo chocante para os leitores mais nostálgicos, pois os temas aqui narrados com grande dinamismo e paixão são profundos a ponto de nos inspirar, e talvez, criar nossas próprias histórias imaginárias para esse aventureiro das galáxias. Desamparado, o Astronauta combate o isolamento enquanto tenta consertar em vão a sua nave. Um confinamento que começa a mudar o homem enjaulado e cada vez mais paranoico, enquanto o tempo passa e a beleza e o mistério de um Magnetar tornam-se desprezíveis para o animal pensante preso num cockpit, assombrado pelos fantasmas do passado. Pela culpa de estar tão longe da família… Na trama, o quadrinista Danilo Beyruth, responsável pelo premiado Bando de Dois, ao lado da colorista Cris Peter, comanda um exercício criativo ao testar os limites físicos e psicológicos de uma pessoa, lembrando-nos que nunca estamos no controle de nada, mas a escolha de reagir ao caos vem de nós, seja no fundo do mar, ou no mais distante asteroide que temos alcançado desde o final dos anos 60.
Tal qual o filhote de dinossauro Horácio e sua perspicaz filosofia, o Astronauta é a personificação irreverente do lado científico de Maurício de Sousa, como ele bem nos informa na introdução que abre essa publicação da editora Panini, que destaca a exuberância do traço e a narrativa gráfica de Beyruth, que assim como a trama que reflete a graça das primeiras histórias do Astronauta, mantém e ainda expande a identidade visual do personagem, em painéis inventivos e surreais, abusando perfeitamente das cores e do silêncio, em algumas situações. Como nos tempos das caravelas, os homens das estrelas também se jogam em seus “abismos” de imprevisão em nome do fim da ignorância, arriscando a vida pelo amor ao desbravamento. Eis uma ode hipnótica ao que rege não só a profissão, mas à nobreza similar das criações de Maurício. Magnetar é pura invenção e renovação, homenagem e deslumbramento, inclusive, a quem nunca leu um gibi sequer da Turma da Mônica e encontra, aqui, a oportunidade perfeita em desbravar (ou reverenciar) o seu encanto, sem igual.
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