Segundo volume publicado da coleção dedicada a trazer para o leitor toda a obra do Homem dos Patos (e cronologicamente, anterior ao primeiro volume), Pato Donald por Carl Barks: O segredo do castelo nos brinda com o que que há de melhor nos quadrinhos Disney de todos os tempos. Para o leitor e fã brasileiro, essa edição tem uma importância histórica, já que O segredo do castelo foi a primeira hq Disney publicada pela Editora Abril, em O Pato Donald nº 01, em julho de 1950 (dois anos após sua publicação original). A edição segue o padrão da anterior, com papel fosco e de gramatura maior que o normal e mantendo a paleta de cores próxima do original – com um restauro de verdade, não o que vem ocorrendo com as revistas Disney mensais que mais parecem xerox mal feito. A qualidade gráfica é bastante superior a qualquer obra publicada recentemente, o que prova que é realmente uma coleção à parte dos outros encadernados em capa dura da editora.
Além da história que dá título ao volume, temos mais algumas aventuras longas, outras histórias de dez páginas e várias gags de uma página só. Em qualquer uma delas, vemos a arte de Barks de forma quase que cinematográfica, e painéis estáticos nos passam a noção de movimento necessária para que, em determinados momentos, tenhamos a sensação de estar assistindo um desenho animado. A maestria do roteiro de Barks pode ser percebida pelo tour que ele faz ao redor de vários gêneros literários, seja a aventura de exploração em “Os caçadores da borboleta perdida”, a ficção científica em “Corrida fórmula lua”, o faroeste de “O xerife do Vale Balaço” ou as sitcoms das gags de página única.
Interessante notar como os personagens coadjuvantes ainda não apresentam as características que conhecemos hoje. O Ganso Gastão, por exemplo, embora rivalize com seu primo e se mostre um folgado convicto, ainda não tem a sorte como elemento chave de sua personalidade (sua história de estreia consta nesse volume, mesmo tendo sido republicada há pouco tempo em Contos de Natal, mas dessa vez com as cores originais). Os sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luisinho ainda não são os Escoteiros Mirins que seriam mais tarde, e embora já não sejam mais os pestinhas das tiras dominicais de Al Taliaferro, tomam atitudes bastante questionáveis. Tio Patinhas é uma figura distante, longe do protagonista que se tornaria mais tarde pelas mãos do próprio Carl Barks, digno de estrelar sua própria série animada nos anos 80.
Se há algo no volume que não agrada o leitor é o preço: 60 patacas é bastante salgado, mesmo pra um volume de qualidade como esse. Talvez compense esperar por promoções em sites especializados.
Cada história – inclusive as gags – é analisada ao fim da edição por vários estudiosos de literatura e quadrinhos, que dão um gosto ainda melhor pra cada uma delas ao situarem o contexto histórico em que estão inseridas, bem como o momento da vida do autor que refletem. O trabalho de restauro é muito bem feito, principalmente em “Os caçadores da borboleta perdida”, cuja arte original havia se perdido há muito tempo e foi redesenhada em 1982 pelo artista holandês Daan Jipes. Nesse volume, ela teve seu restauro com base em uma edição italiana de 1950 e finalmente a vemos com a arte de Carl Barks novamente. Aos fãs, resta torcer para que a coleção seja publicada até o fim, mantendo a qualidade que vem se mostrando até agora.