Após apresentar uma sólida versão da equipe criada no selo Wildstorm por Jim Lee, Brandon Choi, H. K. Proger e Ron Marz, o roteirista britânico Warren Ellis desenvolve, simultaneamente, um primeiro arco narrativo enquanto explora três histórias solo sobre personagens. A primeira aventura publicada no volume 1 desta coleção lançada pela Panini Comics apresentava uma reestrutura tanto da trama quanto dos personagens, inserindo novos integrantes e difundindo-as em três equipes distintas para trabalharem em frontes diferentes.
Neste segundo volume, que compila as edições #43 a #49, o roteirista apresenta maior estrutura a dois de seus novos personagens: Jenny Sparks e Jack Hawksmoor, em histórias solos que apresentam o passado de um e a motivação de outro. Um aspecto fundamental para gerar identificação e para que os leitores da época compreendessem melhor tais membros inseridos na trama nesta nova fase. Ellis omite a origem de uma destes novos integrantes, Rose Tattoo, escondendo uma revelação posterior, porém amplia a atuação de Jackson King, o Batalhão, também em uma história solo.
Do ponto de vista narrativo, duas histórias merecem destaque. A primeira inserida nas histórias solo sobre o passado de Jenny Sparks. Como um dos personagens mais antigos da equipe, nascida em 1900, o surgimento da heroína é anterior ao chamado Efeito Cometa, responsável por transformar parte da população em superseres. Ao narrar sua história, Sparks pontua estes acontecimentos situados em sua trajetória. Como a fase de Ellis é considerada o ponto de inicio definitivo da série – nem mesmo há compilados de fases anteriores – é coerente que o autor situe o público sobre a origem heroica da equipe.
Enquanto este roteiro é bem desenvolvido entre o passado da personagem e a origem dos superseres, os desenhos acompanham a sequência evolutiva dos quadrinhos em estilos diferentes. Inicialmente, composto em preto e branco, para cores intensas até uma colorização contemporânea com sombreamentos e apoiada em um maior realismo. É interessante como as transformações visuais dos quadrinhos atravessam a história, promovendo uma ligação extratexto com o leitor.
A segunda história de destaque apresenta uma missão da equipe, após três edições solo. Ellis demonstra inovação ao criar sua trama a partir de um relatório do Homem do Tempo, inserindo tanto seus comentários como transcrição dos áudios captados na comunicação durante a missão. A história utiliza somente este texto como narração e as imagens se representam em quadros ilustrativos, uma espécie de narrativa cinematográfica crua, como um story board. Como a equipe está em meio a um ataque, as breves informações textuais inseridas causam urgência na leitura.
O primeiro grande arco da série é desenvolvido também neste volume, marcando a origem do grupo alternativo Autoridade que se contrapõe ao Stormwatch em ideologia. O roteiro conduz a dúvida, questionando se a perspectiva do grupo heroico central é válida e se a atuação da equipe é, de fato, coerente e legal do ponto de vista sócio-moral. A figura do Homem do Tempo, líder do grupo, se mantém ambígua e o surgimento desta outra equipe suscita a dúvida sobre a própria índole das personagens conhecidas. A trama suspende o conceito heroico e, provocativa, intenta implodir este conceito de um preto e branco relacionado a super-heróis, demonstrando que, em um universo envolvendo uma equipe que age de maneira político-mundial, nada é tão transparente.
Stormwatch: Volume 2 revela um crescimento narrativo evidente que explicita a proposta de Ellis ao conduzir a equipe. No próximo encadernado, o Volume 1 da série original se encerra para, novamente, o grupo entrar em nova fase.