Game Of Thrones é a adaptação para a TV da obra literária conhecida como As Crônicas de Gelo e Fogo. Cada livro é composto de um subtítulo, sendo que o subtítulo da primeira obra é justamente o nome da série criada por David Benioff e D. B. Weiss e desenvolvida para a HBO. Desde o início, ficou claro que cada temporada lançada adaptaria um dos livros dessa saga criada por George R. R. Martin, sendo que o terceiro, o maior de todos até aqui, precisou de duas temporadas para ser adaptada. Com o passar do tempo, ficou claro que Benioff e Weiss chegariam a ultrapassar Martin ante a demora do escritor em lançar o sexto livro, previamente chamado de Winds of Winter. Se na temporada anterior já tivemos alguns vislumbres que ainda não foram reportados nos livros, essa sexta temporada, definitivamente, mostrou que os showrunners de fato assumiram o controle criativo da série (obviamente sob a supervisão e consultoria de Martin) e o resultado, acredite, foi satisfatório, superior e promissor.
Assim como nas temporadas anteriores, seguimos acompanhando a sofrida história da casa Stark, bem como a história das casas Lannister e Targaryen, e suas relações com as casas que, embora menores, possuem suma importância para o desenvolvimento da história e dos protagonistas.
A Casa Lannister ficou enfraquecida após a morte de Lorde Tywin (Charles Dance) na quarta temporada, o que permitiu mais poderes para que Alto Pardal (Jonathan Pryce) de Porto Real aprisionasse e julgasse os pecadores da cidade. Por conta da prisão da Rainha Margaery Tyrell (Nathalie Dormer) e de seu irmão, Sir Loras Tyrell (Finn Jones), o Rei Tommen (Dean-Charles Chapman) acaba por fazer uma aliança com o líder religioso, colocando fim, inclusive, no famoso julgamento por combate, o que coloca Cersei Lannister (Lena Headey) numa difícil situação, ao mesmo tempo que seu irmão, Jaime (Nicolaj Coster-Waldau), precisa viajar para tomar Correrrio sob proteção do Peixe Negro.
Ainda que os acontecimentos deste núcleo tenham sido arrastados e extremamente tímidos – com exceção de uma cena ou outra em que o Montanha (Hafþór Júlíus Björnsson) está em ação, ficou claro que havia um motivo para ser assim, uma vez que o último episódio da temporada guardou em sua abertura um lindo retorno triunfante ao poder e cheio de resquícios de maldade vindos de Cersei. Tecnicamente, a cena é muito bonita e ao mesmo tempo chocante, acompanhada de uma bela trilha sonora que faz com que o espectador até torça pela maldade da Rainha-Mãe, que não fala uma palavra sequer durante todo seu tempo em tela. O curioso é que, logo no começo da temporada, Tyrion conta a Daenerys os reais motivos de Jaime ter matado o pai da Não Queimada, Aerys II (o Rei Louco), e quais as suas intenções para com Porto Real caso perdesse a guerra. Esse pequeno diálogo passa a fazer todo sentido depois que vemos a citada cena de abertura do último episódio da temporada.
O núcleo de Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) há tempos vem sendo o mais fraco de toda a série, e com isso todos os personagens ao seu redor enfraquecem também. Obviamente, sabemos que sua resolução será grandiosa, porém incomoda que todas as situações vividas pela Khaleesi sejam impiedosamente repetidas. Parece que há uma espécie de fórmula, sendo ela composta da seguinte forma: Daenerys acha que é poderosa o suficiente e começa a passar por sérias dificuldades, no entanto a solução para se livrar do problema é sempre um deus ex machina, carinhosamente chamado de “dragões ex machina”, e tudo termina com um discurso de guerra extremamente motivador na língua nativa daquele respectivo povo a que ela se dirige. Pelo menos, desta vez, tivemos o retorno dos Dothraki, o que favorece o Vale Dothraki e todo o seu povo. Enquanto isso, Tyrion Lannister (Peter Dinklage) e Lorde Varys (Conleth Hill) lutam para achar a melhor saída para a paz em Meereen, enquanto Daenerys está desaparecida. Ainda assim, os acontecimentos nesse núcleo foram de extrema importância, já que muitas das casas menores presentes no universo criado por Martin estão fazendo alianças com aqueles que acham que tem a razão. Dessa forma, Daenerys faz sua primeira aliança com uma casa de Westeros, partindo com todo seu exército de Imaculados, juntamente com os Dothraki, nos navios construídos pelos Greyjoy, sob o comando de Yara (Gemma Whelan) e Theon Greyjoy (Alfie Allen).
Mas, definitivamente, essa sexta temporada teve os Starks como protagonistas. A sofrível jornada dos irmãos separados ao final da primeira temporada, finalmente, começou a dar indícios de que a vida de Bran (Isaac Hempstead Wright), Arya (Maisie Williams), Sansa (Sophie Turner) e Jon Snow (Kit Harington) começará a melhorar em breve.
Por conta do desfecho ocorrido ao final da temporada anterior, o foco principal foi a morte de Jon Snow, traído por companheiros da Patrulha da Noite. Numa tentativa desesperada de trazer o Lorde Comandante de volta à vida, Sir Davos Seaworth (Liam Cunningham) e os melhores amigos de Snow recorrem a Melisandre (Carice van Houten), que ressuscita o guerreiro. Nesse meio tempo, Bran continua seu treinamento junto com o Corvo de Três Olhos (Max von Sydow), revisando parte do passado de seu pai, Ned Stark e de alguns personagens que até então só apareciam em relatos. Sansa e Theon ainda fogem do domínio do cruel Ramsay Bolton (Iwan Rheon) e Arya, agora cega, vive mendigando pelas ruas.
Ocorre que o desenvolvimento do núcleo Stark nessa temporada foi muito semelhante ao dos Lannisters, porém alguns acontecimentos envolvendo a família causaram muita reação e permanecerão na memória dos fãs por muito tempo. Primeiro com relação a Bran: devido a sua condição física, o jovem Stark precisa ficar parado a maior parte do tempo, mas é através dele que descobrimos o que de fato aconteceu com seu amigo Hodor (Kristian Nairn) e sua demência, em uma cena de partir o coração, além de abrir um infinito leque de opções ao personagem em relação a que caminho seguir. E segundo porque Jon Snow passa boa parte do tempo imaginando uma forma de retomar Winterfell para sua família. Num desses momentos, conhecemos a menina Lyanna Mormont (Bella Ramsey), responsável pela Casa Mormont, a mesma casa de Sir Jorah Mormont (Iain Glenn), mais um grande momento da temporada.
Seguindo a tradição de inserir grandes acontecimentos nos últimos momentos, foi reservada para o nono episódio a Batalha dos Bastardos, que com certeza entra para o rol das mais sensacionais cenas de duelo da história da televisão, tanto tecnicamente quanto narrativamente. Só de equipe técnica, houve uma mobilização de 600 pessoas, além de cerca de 500 figurantes, toneladas e mais toneladas de cascalhos, além de cavalos e dublês para gravar uma cena que levou, ao todo, quase um mês de gravação. E o resultado foi espetacular. Vale destacar que a batalha teve várias influências de O Senhor dos Anéis na visão de Peter Jackson para As Duas Torres e O Retorno do Rei. Apenas a título de curiosidade, o canal CW leva cerca de duas semanas para filmar um episódio inteiro de seus seriados.
A sexta temporada de Game Of Thrones, sem dúvida, foi uma das mais regulares desde sua estreia em 2011. De qualquer forma, por conta de todos os acontecimentos, ficou mais que evidente que a história de fato está caminhando para chegar ao fim. Afinal, o inverno chegou e só teremos mais duas temporadas com um número reduzido de episódios. Aparentemente, muita coisa ainda precisa ser resolvida. Só nos resta, por enquanto, aguardar mais um ano.
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Texto de autoria de David Matheus Nunes.