Com uma narrativa agradável, mas com pouco ritmo (exceto nas cenas de ação), StarCraft II: Ponto Crítico não apresenta muitos eventos especialmente significativos ou uma reviravolta de acontecimentos que fazem o queixo cair, mas ainda assim elementos indispensáveis para todos aqueles que desejam saber um pouco mais sobre a Rainha das Lâminas e seu relacionamento com Jim Raynor.
Não posso dizer que se trata de um livro impactante, mas devo afirmar que a história contada nos apresenta um “miolo” e passa a impressão de ser apenas uma ligação – e, pelo que pesquisei, a intenção era exatamente essa, ligando os acontecimentos do primeiro jogo StarCraft II: Wings of Liberty com o que será vivido em StarCraft II: Heart of the Swarm – não tendo necessariamente um começo ou um fim (tanto que, a princípio, a impressão é de ter começado um livro pela sua metade), mas uma série de acontecimentos que vai levar a algo muito além – que, infelizmente, não é retratado na obra, mas te deixa com uma boa margem para teorias sobre o futuro.
Nunca tive muito contato com o mundo de StarCraft – seja nos jogos ou nos romances feitos utilizando esse universo – e deixo claro que meu julgamento se baseia apenas nesse livro e algumas poucas referências que fui capaz de pesquisar. No entanto, preciso afirmar que Ponto Crítico não falha quando a questão é contextualizar o leitor. Além de contar com uma prestativa linha do tempo ao fim onde estão relatados inúmeros acontecimentos desse universo em ordem cronológica, a narrativa em si é bem clara e explicativa quanto as referências e a situação atual (assim como sua ligação com o que aconteceu anteriormente, por mais que você não tenha jogado o Wings of Liberty), não deixando o leitor perdido em momento algum. Portanto, recomendo até mesmo para aqueles que não tenham se familiarizado com os jogos.
Um dos pontos negativos do livro (ainda que eu não seja capaz de julgar quão negativo isso seja) é que ele pouco se foca nos relacionamentos intergaláticos, nos avanços tecnológicos ou nas descrições sobre a maneira que a sociedade (se é que pode se chamar assim quando estamos falando sobre vários planetas) está organizada, mesmo que deixem claro o quão poderosos alguns personagens são, não cheguei a ter certeza do nível de sua influência (ou se até mesmo fazem parte de um governo único para toda a galáxia ou então se são entidades independentes). O livro foca-se principalmente na descrição dos acontecimentos, sentimentos e relacionamentos entre os personagens, não deixando muito espaço para descrições impessoais sobre o universo em si.
Outro ponto negativo (esse eu estou mais convicto do que o anterior), é a impressão de que os acontecimentos se repetem. As traições, as reviravoltas, as soluções, todas elas parecem ser as mesmas em todos os momentos mais importantes envolvendo a trama do livro. Sim, é claro que carregam algumas peculiaridades únicas, mas ainda assim deixam aquela sensação de que não são muito diferentes daquelas que já vivenciamos mais cedo naquela leitura. Porém, não digo que é incoerente – pelo contrário, a insistência do antagonista é evidente e se encaixa perfeitamente no perfil do personagem -, mas que faz com que passe uma sensação de fraqueza na hora de bolar os acontecimentos, o que é um pouco frustrante para quem está lendo.
Agora, um dos principais pontos positivos é a narração na hora dos momentos de ação. Ainda que a narrativa seja fluída fora desses cenários caóticos, o ritmo melhora muito quando os personagens citados encontram-se em situações que exijam muito esforço ou atitudes badass, guiando de maneira excelente através das batalhas que acontecem, assim como o que está passando pela cabeça dos personagens nesse momento, deixando claro o motivo de suas decisões e até mesmo o quanto a experiência vale naquele determinado momento. Nos momentos mais intensos a leitura se torna voraz, incentivando a imaginação e empolgando o leitor em uma aventura extraordinária, principalmente nas cenas em que a antiga Rainha das Lâminas está envolvida por uma fúria incontrolável e sedenta por vingança, decidida a destruir qualquer um que se coloque em seu caminho.
Outro aspecto positivo é que gostei bastante dos personagens. Tendo um número razoavelmente grande deles, a autora fez um ótimo trabalho ao estruturá-los e personificá-los (acredito que, por mais que alguns deles já tivessem alguma base pronta, foram adicionados vários aspectos únicos para todos eles), cedendo ao leitor diálogos divertidos e pessoais nos momentos amigáveis e falas ameaçadoras com atmosferas tensas quando há desconfiança e atrito entre dois personagens. Sem contar, claro, que os flashbacks contendo detalhes sobre o relacionamento de Sarah e Jim assim como o momento da traição de Arcturus são particularmente agradáveis e servem muito bem para aumentar a ligação entre leitor-personagens, fazendo com que você seja capaz de entender um pouco mais sobre as motivações e convicções dos protagonista e fazer com que o leitor seja realmente capaz de torcer por eles.
Afora isso, só houve alguns momentos e acontecimentos que me pareceram desnecessários, mas creio que tenham sido necessários para fazer com que tudo desse certo, ainda que aparentam ser meio jogados no colo do leitor, sem realmente ganhar muita ênfase. No entanto, nada que desmereça essa obra além de tudo que já foi citado. Dessa forma, peço apenas para que joguem Wings of Liberty antes de ler o livro para evitar spoilers. No entanto, se não tiverem a intenção de jogar, então apenas leiam o livro e procurem jogar sua continuação. Só que, de qualquer forma (e independente de qualquer coisa), aproveitem a leitura.
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Texto de autoria de Thiago Suniga.