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  • Resenha | Assassin’s Creed: Bandeira Negra – Oliver Bowden

    Resenha | Assassin’s Creed: Bandeira Negra – Oliver Bowden

    Assassin's Creed - Bandeira Negra - Oliver Bowden

    A série Assassin’s Creed teve sua estreia nos videogames em 2007 e desde então não parou mais de crescer. Ao todo, foram lançados 15 jogos com a marca, entre os principais e os spin-offs. Não bastando saturar o mercado de games, outros produtos foram licenciados pela desenvolvedora Ubisoft, como histórias em quadrinhos, curta-metragens e livros. Lançado pela Editora Record no selo Galera RecordBandeira Negra é a novelização do quarto game da série (ou décimo, contando todos os outros paralelos). Felizmente, não é preciso para o leitor ter conhecimento prévio algum sobre o jogo, pois o livro funciona por si só. Escrito por Oliver Bowden – pseudônimo de Anton Gill, também autor dos outros livros da série – o livro nos conta a história de Edward Kenway e como ele se tornou um pirata.

    A história começa em 1711, em Bristol, Inglaterra. Kenway, um criador de ovelhas, vê-se apaixonado por Caroline Scott, a jovem e linda filha de um rico mercador. Para poder sustentar sua amada, acaba obrigado a servir como corsário. Assim, começa sua vida de aventura que em breve o tornaria um verdadeiro pirata. A narrativa em primeira pessoa, em certos momentos, torna a leitura um tanto quanto cansativa. Kenway está, certamente, contando sua história a alguém que não é o próprio leitor, uma vez que a certa altura revela o ano de nascimento de seu ouvinte. Isso acaba sendo um problema, pois, não gera identificação nem com o personagem-narrador, nem com o ouvinte. A ação, por vezes bastante complexa, acaba por se tornar enfadonha em determinados momentos, principalmente por se referir a termos náuticos – comuns em histórias de piratas – sem revelar alguma descrição do que se trata.

    Esse parece ser um problema recorrente nos livros da série. Para ser considerado um romance histórico, faltam descrições dos termos, objetos, ambientações, expressões, etc. Talvez para contar a história de forma mais fluida, o autor não se preocupe tanto com essas descrições, mas dificulta a vida do leitor, que precisa de alguma ferramenta de pesquisa caso queira entender melhor o que está sendo contado. Uma pequena lista traduzindo esses termos ao fim do livro seria uma excelente ideia que infelizmente não foi utilizada.

    A primeira parte é um tanto quanto arrastada e demora para empolgar. Edward só vem a se tornar um pirata de verdade lá pela página 100 (na verdade, a primeira parte parte do jogo de videogame acontece por aí). Mas a partir da parte dois, a narrativa tem um ritmo mais empolgante. É quando o protagonista assume uma nova identidade, utilizando o manto do Credo dos Assassinos sem nem sequer saber do que se trata. A partir desse momento, Kenway se vê envolto a uma série de tramoias conspiratórias envolvendo os Templários e algumas das pessoas mais influentes do mundo. Aos poucos, vai se transformando em um verdadeiro Assassino. Então, temos todos os clichês de histórias de piratas, incluindo o temível pirata Barba Negra, amigo do protagonista. Batalhas navais, lutas com espadas, traições e reviravoltas na trama (para evitar spoilers, não leia a lista de personagens no final do livro!).

    Não é necessário ter jogado Assassin’s Creed IV para apreciar a leitura de Bandeira Negra. No entanto, é provável que ao terminar o livro, o leitor acabe tendo interesse pelo jogo – e sua experiência será ainda mais enriquecedora!

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  • Resenha | The Walking Dead: A Queda do Governador – Parte Um – Robert Kirkman e Jay Bonansinga

    Resenha | The Walking Dead: A Queda do Governador – Parte Um – Robert Kirkman e Jay Bonansinga

    Após a tentativa fracassada de golpe de estado vista no volume anterior, a poeira parece ter se assentado em Woodbury. Lilly Caul se mostra resignada com sua vida nesse terrível mundo novo e, talvez, até disposta a acreditar e aceitar a visão de seu líder. Phillip Blake, por sua vez, exerce tranquilamente seu comando sobre a cidade, já que é amado pela maioria da população, e seus poucos opositores baixaram a bola. Porém, tal tranquilidade é a clássica calmaria antes da tempestade. Publicado pelo selo Galera da Editora Record, A Queda do Governador – Parte Um é o início do fim para o mais icônico vilão do universo de The Walking Dead.

    Neste terceiro capítulo da saga literária, os autores Robert Kirkman e Jay Bonansinga apresentam uma espécie de fusão dos dois anteriores, resultando numa história de altos e baixos, ligados diretamente aos dois protagonistas. Diferente de O Caminho para Woodbury, todo baseado no conflito entre Lilly e o Governador, desta vez os dois mal se cruzam e seguem, na verdade, jornadas paralelas. E mais uma vez os segmentos do segundo são infinitamente mais interessantes.

    Lilly surge mais decidida, mais durona, deixando de lado a faceta insossa e choramingante vista antes. E o fato dela cogitar a possibilidade de Blake estar certo, afinal, não deixa de ser uma triste ironia, pois ela não vê o tirano gradativamente perder o controle e passar dos limites. Mas essa “nova Lilly” dura pouco: logo ela realiza autoquestionamentos tediosos e superficiais, motivados por seu namoro água-com-açúcar com o jovem Austin Ballard. Argumento e condução dignos de romances juvenis e que destoam da tensão e brutalidade presentes na outra trama do livro.

    O volume anterior terminou com a mensagem de que a psicopatia é algo necessário para a sobrevivência no cenário pós-apocalíptico. Agora, este conceito é expandido e, de certa forma, quebrado. Fica claro que não há como confiar numa imprevisível mente perturbada; qualquer suposto controle é ilusório e temporário. O Governador se mostra disposto a tudo para preservar seu poder. Alegando agir em nome da “segurança da comunidade”, basta a mais leve suspeita, ou simples aborrecimento, para levá-lo a matar inocentes. Ou pior: se antes seus atos eram justificáveis, ou quase, agora esta linha foi irremediavelmente cruzada. E o karma chega rapidamente, na forma de uma figura muito conhecida pelos fãs de The Walking Dead.

    Com o aparecimento de Rick, Glenn e Michonne em Woodbury, o livro cruza com a mídia principal da franquia, os quadrinhos. Alguns eventos já conhecidos são mostrados sob outro ponto de vista, enquanto outros são apenas rapidamente mencionados. Isso pode ser confuso para quem não leu as hqs, ou mais ainda para quem tem como referência apenas a série de TV, dadas as consideráveis diferenças na adaptação. De qualquer forma, o cruzamento funciona a contento. Como o foco é o Governador, os novos personagens são aqui breves coadjuvantes. Exceção feita, naturalmente, à Michonne.

    A carismática personagem é muito bem retratada no livro, que acentua suas principais características. Ela é misteriosa, inquietante, passa um ar selvagem, é quase uma força da natureza. E, a seu modo, tão assustadora quanto Blake. Além disso, vingança é uma das motivações mais simples do mundo. Para a maioria das pessoas, é fácil de entender e concordar com atos extremos praticados em nome desse sentimento. Pois, através da interação entre Michonne e o Governador, essa noção do olho por olho como algo aceitável é testada.

    Detalhando em descrições macabras aquilo que o quadrinho deixou subentendido e o seriado ignorou, o desfecho do livro é um torture porn de causar inveja em filmes como Jogos Mortais e O Albergue. Nada gratuito, porém. O contexto para os eventos é bem desenvolvido – o que não diminui em nada o impacto da coisa. Ao final, fica a perturbadora certeza de que a linha entre mocinhos e bandidos é muito tênue naquele mundo, quase uma questão de simples ponto de vista.

    Agradando e irritando na mesma medida, A Queda do Governador – Parte Um é uma leitura rápida, até por ser mais curto que seus antecessores (265 páginas). Servindo essencialmente como aquecimento para o grande final, o livro prova mais uma vez que The Walking Dead é uma história sobre pessoas (tanto que é possível concluir uma análise sem mencionar a palavra com Z). E que, para narrativas desse tipo funcionarem, é preciso que os personagens sejam cativantes. Resta conferir se Lilly Caul aproveitará a nova chance para mostrar a que veio, ou se a conclusão da saga valerá a pena mais uma vez por causa de Phillip Blake, vulgo O Governador.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Resenha | The Walking Dead: O Caminho Para Woodbury – Robert Kirkman e Jay Bonansinga

    Resenha | The Walking Dead: O Caminho Para Woodbury – Robert Kirkman e Jay Bonansinga

    “É só uma desculpa. As pessoas nascem más. Esta merda com a qual estamos lidando agora… é só um gatilho. Traz à tona a pessoa real.”

    Lilly Caul

     “Viram o que tem lá fora? O cardápio é esse se quiserem sair pra comer! Vocês querem algum tipo de paraíso utópico, algum tipo de oásis de companheirismo amistoso e confortável? Chamem a porra do Norman Rockwell! Esta porra é uma guerra!”

    O Governador

    A parte literária da saga de The Walking Dead continua em O Caminho Para Woodbury, mais uma vez pelas mãos de Robert Kirkman e Jay Bonansinga. Trazido ao Brasil pelo selo Galera do Grupo Editorial Record, este segundo capítulo tem grandes momentos, mas no geral se mostra abaixo do primeiro, o ótimo A Ascensão do Governador. Isso por conta da questionável decisão de rebaixar o célebre vilão a um posto de coadjuvante de luxo, promovendo a nova personagem Lilly Caul ao centro das atenções.

    A metade inicial de O Caminho Para Woodbury se concentra em Lilly e alguns companheiros sobrevivendo em um acampamento e posteriormente na estrada, até o momento em que encontram Martinez e vão para a cidade liderada por Philip Blake. Apesar de bem escrito e eficiente nas cenas de tensão, o segmento é apenas uma trama paralela, algo frustrante no sentido de que a curiosidade era mais acompanhar o Governador assumindo sua posição após o final do primeiro livro.

    A presença de Lilly confirma que os livros se passam no mesmo universo dos quadrinhos, onde a personagem apareceu rapidamente mas teve um papel fundamental no inesquecível arco da prisão. Na adaptação desse momento para a TV, na quarta temporada do seriado, uma versão modificada de Lilly também teve destaque. No livro, o problema foi que, apesar de todo o espaço dedicado à garota, ela simplesmente não conseguiu ser uma figura atrativa.

    Não há um traço marcante na personalidade da moça. Seu desenvolvimento consiste em realizar autocríticas por conta de um crônico medo paralisante, presente desde antes da praga. O contraditório é que, logo no início, ela tem um momento de superação ao salvar algumas crianças de um ataque zumbi. Tal evolução, porém, é sumariamente ignorada logo em seguida, e até próximo ao final do livro Lilly assiste passivamente aos eventos, e só. Seus parceiros de viagem, embora estabelecidos por meio de clichês, conseguem ser personagens mais fortes. O grandalhão gentil Josh Lee Hamilton, o médico beberrão Bob Stookey e a amiga viciada e promíscua Megan Lafferty, todos são mais interessantes do que a protagonista.

    As coisas melhoram – e muito – quando o Governador finalmente volta à cena. Poucos meses após ter assumido o controle da cidade, ele está bem à vontade no papel de líder. Diante do medo e desesperança dos sobreviventes, bastava alguém forte e confiante para assumir o comando, e Blake se transformou nesse alguém. Por fora, ele já é o Governador como o conhecíamos desde a HQ, mas intimamente sua personalidade ainda tem conflitos, luta para se definir. Pena que em pouquíssimos trechos temos esse seu ângulo particular, pois ele divide o ponto de vista narrativo com Lilly e até com Bob e Josh.

    Ainda assim, como todo bom coadjuvante, o Governador brilha, mesmo com espaço reduzido. E como todo vilão bem desenvolvido, nós entendemos as motivações para seus atos hediondos. Um exemplo é a política do pão e circo através da arena de gladiadores de Woodbury (cuja idealização e implantação são detalhadas aqui). Indo mais além, como agora sabemos tudo pelo que ele passou, vemos sua psicopatia com novos olhos, com a assustadora noção de que tudo é justificado, que Blake é um mal absolutamente necessário, e que, naquele mundo terrível, foi o Governador quem sempre tinha razão.

    Em última análise, O Caminho Para Woodbury é uma boa leitura, prejudicado talvez pela expectativa e pela comparação com o alto nível de seu antecessor. O final, com Lilly enfim se fortalecendo, promete grandes emoções para o próximo capítulo, A Queda do Governador. Quando aliás, a saga literária finalmente vai cruzar com a dos quadrinhos, inclusive com as aparições de Rick e Michonne.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Resenha | Total War: Rome – Destruição de Cartago – David Gibbins

    Resenha | Total War: Rome – Destruição de Cartago – David Gibbins

    Qualquer um que utilize com frequência o transporte público, um dos poucos locais de leitura por excelência dentro dos grandes centros urbanos, deve ter percebido que, nos últimos anos, cresceu imensamente a popularidade dos livros baseados em jogos de videogame. Não é preciso andar muito ou procurar com tanta atenção para encontrar alguém com um romance situado nos universos de Assassin’s Creed, Resident Evil, e afins, debaixo do braço. São, em grande parte, jovens – uma molecada que talvez tenha começado a consumir literatura justamente por, enfim, ter algo que realmente a interesse sendo publicado com regularidade.

    Apoio completamente esse movimento do mercado, que, além de ser inteligente do ponto de vista comercial, também abre portas para que uma nova geração de leitores mergulhe no universo dos livros. Eu sou tão novo quanto a maioria desses leitores aos quais me refiro, mas me encontro do lado inverso da moeda: sou completamente ignorante no tocante a games, e tenho pouco, quase nenhum interesse nos subprodutos por eles originados. A bem da verdade, Total War: Rome – Destruição de Cartago foi meu primeiro contato com essa vertente recente da literatura, e me sinto contente em constatar que não foi uma experiência de todo ruim.

    Jogo de estratégia, Total War não é um das maiores franquias da atualidade, e, analogamente, esse romance escrito por David Gibbins e editado pelo selo Galera Record sem dúvida não é um dos grandes lançamentos do meio. Isso, no entanto, acaba por se tornar um ponto positivo, pois dispensa o leitor de possuir qualquer conhecimento prévio para apreciar a aventura – mesmo por que tanto o livro quanto o jogo se baseiam, com altas doses de liberdade, em fatos reais. A história narrada é a de Fábio Petrônio II, um legionário romano que, com seu general, Cipião Emiliano – figura que acaba por roubar o protagonismo –, deixou sua marca na história militar da Idade Antiga, sobretudo no cerco de Cartago.

    A obra poderia ser – e em diversas passagens de fato parece ser – pouco mais que uma narrativa boba, concentrada na descrição de batalhas sangrentas, entrecortadas por uma história de amor convencional entre Cipião e Júlia, membros da linhagem de César. No entanto, o diferencial do romance se encontra em um aspecto inusitado, que é seu cuidado no tratar da História: o canadense David Gibbins, arqueólogo e historiador de formação, demonstra grande domínio do assunto em cada uma de suas longas descrições da geografia do período e dos hábitos dos antigos, levando o leitor não só a crer, mas também a se interessar pelos acontecimentos narrados. Uma nota introdutória – que, além de apresentar os fatos indispensáveis à compreensão do enredo, contém dois úteis mapas dos locais onde se passa a ação –, e as notas finais do autor, em que é explicado o longo processo de pesquisa que levou à construção do livro, atestam sua paixão pelo tema.

    No entanto, ainda que consiga tornar a leitura mais imersiva e interessante, o entusiasmo do autor funciona como uma faca de dois gumes, uma vez que, devido a sua minuciosidade, por vezes transforma o que seria um exercício literário simples, como a descrição de um murro ou de uma planície, em um texto prolixo e didático, desprovido de ritmo. Hábil em entreter-nos por mais de 300 páginas, David Gibbins consegue salvar a obra da sanguinolência descerebrada que, admito, eu esperava ao abrir o volume pela primeira vez; mas ele não consegue, infelizmente, levar essa aventura para além do campo da mediocridade. Entre batalhas e romances nada originais, Total War: Rome – Destruição de Cartago é o perfeito exemplo de uma corrente contemporânea da literatura cujo maior mérito se encontra em seu poder de atrair leitores, e não na qualidade das tramas a eles entregue.

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    Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.

  • Resenha | The Walking Dead: A Ascensão do Governador – Robert Kirkman e Jay Bonansinga

    Resenha | The Walking Dead: A Ascensão do Governador – Robert Kirkman e Jay Bonansinga

    Marcar presença no maior número de mídias possíveis é praticamente lei para qualquer produto cultural hoje em dia. The Walking Dead surgiu e se consolidou nos quadrinhos, explodiu em popularidade com o seriado televisivo e apareceu em adaptações para games. A franquia ganhou também uma série de livros, co-escrita por Robert Kirkman e Joe Bonansinga. O primeiro é o criador e roteirista das hqs, além de produtor executivo da série de TV, enquanto o segundo é um experiente escritor de livros de terror. Juntos eles se dedicaram a detalhar a origem do Governador, o mais icônico vilão da saga.

    Publicado no Brasil pela Galera Record, A Ascensão do Governador é o primeiro capítulo da série literária, e serve como prequel e história paralela aos eventos mostrados na televisão. A trama situa-se nos dias e semanas iniciais da epidemia zumbi, e acompanha principalmente os irmãos Philip e Brian Blake. Junto dos amigos Nick e Bobby e da pequena Penny, filha de Philip, eles seguem a tradicional jornada dos sobreviventes em histórias do gênero. Fuga, correria e tensão constantes, em meio a uma desesperada e eterna busca por suprimentos e abrigo. Como não poderia deixar de ser, a construção dos personagens é fortemente baseada no conceito de que, em situações extremas, o verdadeiro caráter de cada um vem à tona.

    Parte da diversão – e o próprio livro brinca com isso – é tentar decifrar qual dos irmãos vai se tornar o Governador. No seriado, o personagem usou os dois nomes, Philip e Brian, em diferentes momentos. E a descrição física de Philip (pele morena, cabelos e bigodes pretos e longos) ironicamente se encaixa com a versão do vilão dos quadrinhos, uma espécie de Danny Trejo psicopata. Mas no fim das contas, é preciso apenas um pouquinho de perspicácia para desviar das pistas falsas e obviedades, e enxergar o que está sendo desenvolvido. O determinante são as personalidades dos dois irmãos, que não poderiam ser mais diferentes.

    Philip é o macho alfa, líder incontestável do grupo. Viúvo endurecido por uma vida dedicada ao sustento da filha, ele é o homem que parte para a ação e faz o que é preciso, sem perder um segundo com questionamentos. Conforme a pressão sobre ele vai aumentando, seu lado negro começa a aparecer. Entre descontrole e explosões de violência, seu objetivo é proteger Penny a qualquer custo. Já Brian é o popular bunda mole. Apesar de ser o mais velho, ele sempre foi fraco e dependente do irmão. No caótico cenário pós-apocalíptico, ele se torna um incômodo peso morto, medroso e que só serve para cuidar da sobrinha enquanto os homens de verdade salvam o dia. Brian sofre, e muito, para entender as regras desse nada admirável mundo novo.

    O livro chega até a surpreender por conseguir aliar uma profunda análise psicológica dos protagonistas a uma narrativa muito ágil e repleta de situações diferentes. As descrições das matanças de zumbis são ótimas, detalhadas a ponto de se visualizar com perfeição todo o gore das cenas. Também vale destacar que, conforme a história avança, o tom fica cada vez mais pesado – tanto que a obra não é recomendada para menores. Outro conceito marcante do gênero aparece aqui de forma perturbadora: a verdadeira ameaça, os verdadeiros monstros, não são os mortos.

    Com um final impactante e que começa a jogar essa história na direção daquilo que foi visto antes, A Ascensão do Governador mantém o alto nível dos quadrinhos e dos melhores momentos do seriado. Além de mostrar a força da franquia The Walking Dead, o livro serve até para quem não acompanha esse universo, pois analisado isoladamente ele continua sendo uma boa pedida em termos de literatura de terror e suspense.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Resenha | Leviatã: A Missão Secreta – Scott Westerfeld

    Resenha | Leviatã: A Missão Secreta – Scott Westerfeld

    leviatã scott westerfeld

    Destaque do gênero ficcional conhecido como Young Adult, Scott Westerfeld produziu até o momento quatro séries literárias de sucesso. No país, é mais conhecido pela Feios, uma quadrilogia sobre um futuro em que a sociedade é inteiramente plástica, dedicada a uma estética perfeita. Porém, desde o início da carreira seus romances são elogiados dentro do gênero  e conquistaram premiações.

    Ainda não publicado no país, Evolution’s Darling foi citado pelo New York Times como um dos livros notáveis do ano, recebendo menção honrosa no prêmio Philip K. Dick, dedicado à ficção científica. Tão Perto venceu o Victorian Premier’s Literary Awards, premiação australiana, país em que Westerfield reside boa parte do ano. Enquanto o primeiro título da série Feios venceu um prêmio no ano de sua publicação de melhor livro Young Adult.

    Ainda que premiações sejam passíveis de dúvidas, o vasto público e as indicações vindas de fontes variadas podem comprovar seu talento, mesmo que o estilo ou gênero Young Adult seja tão abrangente ao ponto de dificultar uma definição apurada.

    Ao contrário da série Feios, em que projeta um possível futuro, Westerfeld olha para o passado para reconstruí-lo em Leviatã, primeiro romance de uma trilogia. A história situa-se na Primeira Guerra Mundial, partindo dos conhecimentos históricos mais básicos para rearranjar-se em narrativa steampunk.

    A batalha é a mesma que conhecemos historicamente, mas há um significativo avanço científico composto pelos mekanistas, que batalham com aparatos mecânicos, e os darwinistas que, no desenvolvimento genético, produzem animais híbridos próprios para a batalha.

    Neste cenário bélico, estão dois jovens: Alek Ferdinand, príncipe do império austro-húngaro, fugindo com um pequeno séquito após descobrir uma conspiração que assassinou seus pais; e Deryn Sharp, uma garota que disfarça-se de homem para ingressar na Força Aérea Britânica.

    Em um primeiro momento, a narrativa constrói-se apresentando as personagens de maneira alternada. Desenvolvendo a ambientação e situando o leitor em uma história que, embora conhecida, foi modificada. Até o primeiro encontro das personagens, a construção narrativa soa repetitiva e burocrática até a ação propriamente.

    Devido ao universo especulativo da ficção científica – e talvez o público alvo da história – ilustrações feitas por Keith Thompson acompanham o romance para que se visualize as máquinas de guerra envolvidas na trama, mecânicas e animalescas. Sob este ponto, a edição da Galera Record, selo da Record, é impecável. Com extremo cuidado gráfico tanto na capa quanto nas ilustrações, além de conter na capa interna um mapa dos países envolvidos na batalha e seus respectivos aliados.

    As criações de Westerfield são o elemento mais rico da história que segue a tradição do Young Adult e, centrado nas personagens adolescentes, produz o conflito inicial e a aproximação das personagens após um inusitado encontro em um país frio.

    Como grande história divida em partes, é evidente o gancho para o segundo romance, que projeta a expectativa de continuidade. Intitulado Behemoth, a segunda parte da saga tem previsão de lançamento no país para o próximo mês.

    Pela composição narrativa mista entre steampunk e o estilo Young Adult, Leviatã poderia aprofundar-se mais na matéria ficcional sem as amarras de conflitos primários. Porém, mesmo sob tal aspecto, a narrativa não desagrada aqueles que se interessam somente pela nova ótica da primeira guerra mundial. Um novo universo construído com qualidade e potencial para ser tornar trilogia cinematográfica de sucesso.

  • Resenha | Assassin’s Creed: Revelações – Oliver Bowden

    Resenha | Assassin’s Creed: Revelações – Oliver Bowden

    Assassin's Creed - Revelações

    Confesso que tinha grandes expectativas quanto a esse livro. Afinal, antes de lê-lo eu já havia terminado o seu respectivo jogo e estava a procura de detalhes e contextos escondidos sobre a história que nele é narrada. No entanto, ao invés de encontrar um aprofundamento daquilo que já conhecia, me deparei com um livro repleto de ação e aventura, mas pouca parcela daquilo que realmente procurava. Não encontramos algo que vai além daquilo que foi jogado, mas apenas uma parcela do mesmo.

    Veja bem, não sou contra livros frenéticos que contam com os atos heroicos e as cenas de ação como sua base de funcionamento, mas não era isso que esperava nesse capítulo final da grande saga de Ezio Auditore da Firenze. Na maior parte do tempo, somos agraciados com batalhas e o esforço do personagem de ir contra aquela velha e interminável luta contra os templários, e muito pouco sobre o que essa luta representa.

    Não nego que a obra tem seu valor histórico ao contextualizar acontecimentos “reais” àquilo que o protagonista passa, e confesso que a jornada realizada por ele não poderia ser realizada com menos descrições sobre as batalhas realizadas, mas ainda assim o autor peca ao utilizar-se desse recurso tantas vezes que faz com que a leitura torne-se, em um nível desagradável, tediosa. Afinal, quando se trata de cenas frenéticas de luta, compensa muito mais estar jogando e interagindo do que apenas lendo isso várias e várias vezes, correto?

    Não se trata de ritmo – afinal, isso é uma das coisas que não falta -, mas sim de equilibrar os acontecimentos com aquilo que o protagonista está pensando e sentindo. Ezio dificilmente é meu personagem favorito da série de Assassin’s Creed, mas não nego sua capacidade e seu valor para a história. No entanto, creio que pouco de sua natureza se manteve desde o segundo jogo – ou desde o livro Renascença, que é o equivalente -, e apesar de existir o argumento de que ele se desenvolveu a partir daquilo que viveu, creio que Ezio não apresenta nem metade das cicatrizes psicológicas que deveria carregar seja no Revelações ou então no seu predecessor – Irmandade.

    Há algo que eu sempre procuro manter em mente quando estou acompanhando uma história, e é “A Jornada do Herói”. Muitas vezes essa jornada descrita é a fórmula para o sucesso, e não se trata de fazer uma história com o mesmo elemento de todas as outras, mas sim seguir uma linha lógica para montar sua trama e, muitas vezes, os autores o fazem sem nem perceber, porque é assim que se deve ser criado um herói. Mas, veja bem apesar de ser uma fórmula para o sucesso, há atualmente vários autores que não utilizam desse “artifício” e ainda assim estão ganhando espaço na literatura. Porém, é preciso ter uma maestria muito grande para não utilizá-la ou até mesmo para utilizá-la de maneira correta.

    Dito isso, vamos ao que mais incomodou nesse livro: as inconsistências do protagonista. Sim, eu tenho consciência de que muitos dos que acompanham a série são incríveis fãs de Ezio e a coisa toda, mas antes que possam me ver como um hipster sem querer seguir a onda mainstream que é venerar Ezio como um assassino, devo dizer que a inconsistência não é do personagem como um todo, mas sim apenas nesse último livro de suas aventuras.

    Quando conhecemos Ezio, em Renascença (ou no segundo jogo), adquirimos uma simpatia imediata por sua natureza jovial que, de certa forma, é mantida mesmo após sua vida ser amaldiçoada pela morte de parte de sua família, e nele somos agraciados com a Jornada do Herói da maneira que já foi muitas outras vezes apresentada, mas ainda assim tornou-se única com os aspectos de Ezio e o universo de Assassin’s Creed. Há traços disso em Irmandade, também, mas em Revelações somos entregues à um protagonista amargurado e sentido pelo efeito que o tempo causou em seu corpo e mente. Está certo, tem sempre a possibilidade de que, com a idade, suas ideias amadureceram e ele está cada vez mais cansado, mas sou fiel a ideia de que todo personagem tem sua natureza imutável e que vai prevalecer independente do contexto em que o personagem se aplica. Podendo ser acentuada ou abafada, mas nunca completamente esquecida (ou aniquilada).

    Porém, se o problema fosse apenas a questão do psicológico que a idade trouxe, tudo ficaria um pouco mais aceitável. No entanto, o corpo envelhece junto com a mente, não é mesmo? O autor também compreende isso, e coloca muitas vezes que Ezio não se move como outrora ou então não carrega os mesmos reflexos de antigamente. Mas, ainda assim, isso não o impede de lutar contra um exército de templários e derrubar vários deles antes de ser derrotado e tampouco de ser jogado de uma carroça barranco abaixo em um momento, contendo na própria narrativa que sentia o corpo todo doer intensamente, enquanto em um outro logo em seguida ele está correndo, pulando, se escondendo e acertando a bala no joelho de alguém em movimento.

    Sim, ele treina desde sempre para ser aquilo que é, mas não acho que seja adequado colocar que as coisas não são como antigamente e ainda assim o protagonista fazer coisas que pareçam inumanas até mesmo para o mais fantasioso dos homens. Afinal, ele é apenas um humano como todos os outros e, aceite essa ideia, ele está velho, mas ainda assim tem a disposição que muitos atletas nunca conseguiriam alcançar. Infelizmente, não se pode ter tudo, mas ainda assim Ezio o tem, e é por isso que achei o personagem desse livro inconsistente de várias formas.

    A narrativa utilizada é incrivelmente simples e rápida, sem se perder muito em detalhes desnecessárias, mas ainda assim sem parecer seca e incômoda. Apesar de seu ritmo de ação desde o começo, a trama ganha profundidade e um ávido terreno quando chegamos às etapas finais do livro, que é quando somos levados para os episódios finais de Altaïr, o responsável por fazer os assassinos o que são “atualmente”. E é basicamente quando entendemos o significado do título e sobre quais revelações o autor está querendo mencionar com isso.

    Apesar dos pesares, os momentos finais da leitura dão uma sensação de saudade e perda para quem acompanhou a história de Ezio desde o começo. Nesses momentos finais, o livro traz mais do que é apresentado no jogo, apresentando um fim real àquele protagonista que estávamos acostumados a ver em ação. É, em vários aspectos, uma boa despedida para Ezio, mas não sei se chega a ser a ideal para alguém tão icônico.

    Em resumo, devo dizer que, como livro, Assassin’s Creed: Revelações é um ótimo jogo. Penso que talvez a leitura tivesse sido muito mais agradável caso as medidas quanto aos acontecimentos fossem um pouco melhor dosadas entre ação/sentimento, para que não parecesse ter muito de um e quase nada do outro. Ainda assim, vale a pena conferir pelos pequenos detalhes que não são mostrados ou apresentados no jogo e aprender um pouco mais sobre Ezio e os assassinos de antigamente.

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    Texto de autoria de Thiago Suniga.

  • Resenha | StarCraft II: Ponto Crítico – Christie Golden

    Resenha | StarCraft II: Ponto Crítico – Christie Golden

    Capa StarCraft II: Ponto Crítico

    Com uma narrativa agradável, mas com pouco ritmo (exceto nas cenas de ação), StarCraft II: Ponto Crítico não apresenta muitos eventos especialmente significativos ou uma reviravolta de acontecimentos que fazem o queixo cair, mas ainda assim elementos indispensáveis para todos aqueles que desejam saber um pouco mais sobre a Rainha das Lâminas e seu relacionamento com Jim Raynor.

    Não posso dizer que se trata de um livro impactante, mas devo afirmar que a história contada nos apresenta um “miolo” e passa a impressão de ser apenas uma ligação – e, pelo que pesquisei, a intenção era exatamente essa, ligando os acontecimentos do primeiro jogo StarCraft II: Wings of Liberty com o que será vivido em StarCraft II: Heart of the Swarm – não tendo necessariamente um começo ou um fim (tanto que, a princípio, a impressão é de ter começado um livro pela sua metade), mas uma série de acontecimentos que vai levar a algo muito além – que, infelizmente, não é retratado na obra, mas te deixa com uma boa margem para teorias sobre o futuro.

    Nunca tive muito contato com o mundo de StarCraft – seja nos jogos ou nos romances feitos utilizando esse universo – e deixo claro que meu julgamento se baseia apenas nesse livro e algumas poucas referências que fui capaz de pesquisar. No entanto, preciso afirmar que Ponto Crítico não falha quando a questão é contextualizar o leitor. Além de contar com uma prestativa linha do tempo ao fim onde estão relatados inúmeros acontecimentos desse universo em ordem cronológica, a narrativa em si é bem clara e explicativa quanto as referências e a situação atual (assim como sua ligação com o que aconteceu anteriormente, por mais que você não tenha jogado o Wings of Liberty), não deixando o leitor perdido em momento algum. Portanto, recomendo até mesmo para aqueles que não tenham se familiarizado com os jogos.

    Um dos pontos negativos do livro (ainda que eu não seja capaz de julgar quão negativo isso seja) é que ele pouco se foca nos relacionamentos intergaláticos, nos avanços tecnológicos ou  nas descrições sobre a maneira que a sociedade (se é que pode se chamar assim quando estamos falando sobre vários planetas) está organizada, mesmo que deixem claro o quão poderosos alguns personagens são, não cheguei a ter certeza do nível de sua influência (ou se até mesmo fazem parte de um governo único para toda a galáxia ou então se são entidades independentes). O livro foca-se principalmente na descrição dos acontecimentos, sentimentos e relacionamentos entre os personagens, não deixando muito espaço para descrições impessoais sobre o universo em si.

    Outro ponto negativo (esse eu estou mais convicto do que o anterior), é a impressão de que os acontecimentos se repetem. As traições, as reviravoltas, as soluções, todas elas parecem ser as mesmas em todos os momentos mais importantes envolvendo a trama do livro. Sim, é claro que carregam algumas peculiaridades únicas, mas ainda assim deixam aquela sensação de que não são muito diferentes daquelas que já vivenciamos mais cedo naquela leitura. Porém, não digo que é incoerente – pelo contrário, a insistência do antagonista é evidente e se encaixa perfeitamente no perfil do personagem -, mas que faz com que passe uma sensação de fraqueza na hora de bolar os acontecimentos, o que é um pouco frustrante para quem está lendo.

    Agora, um dos principais pontos positivos é a narração na hora dos momentos de ação. Ainda que a narrativa seja fluída fora desses cenários caóticos, o ritmo melhora muito quando os personagens citados encontram-se em situações que exijam muito esforço ou atitudes badass, guiando de maneira excelente através das batalhas que acontecem, assim como o que está passando pela cabeça dos personagens nesse momento, deixando claro o motivo de suas decisões e até mesmo o quanto a experiência vale naquele determinado momento. Nos momentos mais intensos a leitura se torna voraz, incentivando a imaginação e empolgando o leitor em uma aventura extraordinária, principalmente nas cenas em que a antiga Rainha das Lâminas está envolvida por uma fúria incontrolável e sedenta por vingança, decidida a destruir qualquer um que se coloque em seu caminho.

    Outro aspecto positivo é que gostei bastante dos personagens. Tendo um número razoavelmente grande deles, a autora fez um ótimo trabalho ao estruturá-los e personificá-los (acredito que, por mais que alguns deles já tivessem alguma base pronta, foram adicionados vários aspectos únicos para todos eles), cedendo ao leitor diálogos divertidos e pessoais nos momentos amigáveis e falas ameaçadoras com atmosferas tensas quando há desconfiança e atrito entre dois personagens. Sem contar, claro, que os flashbacks contendo detalhes sobre o relacionamento de Sarah e Jim assim como o momento da traição de Arcturus são particularmente agradáveis e servem muito bem para aumentar a ligação entre leitor-personagens, fazendo com que você seja capaz de entender um pouco mais sobre as motivações e convicções dos protagonista e fazer com que o leitor seja realmente capaz de torcer por eles.

    Afora isso, só houve alguns momentos e acontecimentos que me pareceram desnecessários, mas creio que tenham sido necessários para fazer com que tudo desse certo, ainda que aparentam ser meio jogados no colo do leitor, sem realmente ganhar muita ênfase. No entanto, nada que desmereça essa obra além de tudo que já foi citado. Dessa forma, peço apenas para que joguem Wings of Liberty antes de ler o livro para evitar spoilers. No entanto, se não tiverem a intenção de jogar, então apenas leiam o livro e procurem jogar sua continuação. Só que, de qualquer forma (e independente de qualquer coisa), aproveitem a leitura.

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    Texto de autoria de Thiago Suniga.

  • Resenha | Diablo 3: A Ordem – Nate Kenyon

    Resenha | Diablo 3: A Ordem – Nate Kenyon

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    Diablo 3 – A Ordem lançado em março de 2012 nos Estados Unidos e em Junho deste mesmo ano aqui no Brasil pela editora Galera e escrito pelo autor Nate Kenyon – autor de diversas obras literárias da Blizzard, produtora dos games da série, e o livro se passa entre o segundo e terceiro jogo da franquia.

    O livro narra a jornada de Deckard Cain, último sobrevivente da ordem dos Horadrim, que tem como objetivo salvar o mundo dos demônios. Um livro que para os fãs da história do jogo, como é o meu caso, estavam ansiosos para conhecer a literatura de Diablo, entrar no mundo de Tristram e conhecer mais sobre os personagens, principalmente aqueles já conhecidos do segundo jogo, contudo, a decepção só aumentava a cada página lida.

    O desenvolvimento narrativo do autor erra seguidas vezes para contar sua história, o principal deles é que o livro não funciona para quem não conhece a história do jogo, deixando o leitor perdido durante a leitura, se é comum para eu ficar tentando lembrar do segundo jogo para encaixar melhor as coisas, imagina quem não teve contato com os jogos. O próprio autor parece ter percebido esse problema e tentou consertar com flashback’s, no entanto nenhum deles funciona como deveria, perdendo tempo em divagações que contam o que não é necessário e acabam se tornando enfadonhos. O mais difícil é saber o que é pior, a narrativa por meio de flashback’s ou quando está contando o presente.

    Outro problema da narração de Kenyon são seus personagens. Todos são extremamente rasos e em mais de 300 páginas de livro, você chega ao final do livro e não se apega à nenhum deles. Em dado momento, parei e pensei se todos os personagens do livro morressem eu sentiria falta de alguém, a resposta é não. Temos um personagem principal fraco que deveria ser o sábio da jornada, por ser o ancião e o último da ordem dos Horadrim, mas na verdade, é apenas um velho que não sabe conjurar nenhuma magia que preste e está em grande parte do livro perdido, sem saber o que fazer. A Léa, que é uma menina com grandes poderes ocultos, porém, se perde na timidez exagerada por Nate Kenyon e vira apenas mais um personagem sem graça. Mikulov que é pra ser o monge com experiência e força, fica escondido e passa quase despercebido.

    O grande inimigo do livro é Belial, um dos demônios menores, que chega a ser citado no segundo jogo mas não aparece, é outro personagem que você pouco se amedronta e não convence do que é capaz. Façamos as contas, no segundo jogo, você mata os 3 demônios maiores (Mephisto, Baal e Diablo) e 2 dos menores (Duriel e Andariel) e Deckard Cain acompanha tudo isso, quando Belial está planejando seu plano, Deckard Cain diz que a jornada que se passou será “um passeio no parque em comparação a essa de agora”. Exagerou um pouco Nate Kenyon?

    O ponto alto do livro com certeza é o final, não por ter um bom encerramento, mas simplesmente por você chegar ao final da leitura de um livro decepcionante. Nate Kenyon transmite um sentimento de angústia, mas não da forma como ele estava esperando.

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    Texto de autoria de Felipe Vieira.