O gênero zumbi é conhecidíssimo do grande público nos tempos atuais, principalmente por causa do sucesso da série de TV The Walking Dead. Grande parte deste sucesso é devido ao fato de que o criador do gênero moderno de zumbis, George Romero, usou essa temática para fazer analogias, sempre críticas, da sociedade naquele momento.
Nos anos 2000, o gênero “zumbi” voltou com tudo após ficar em dormência durante os anos 80 e 90. Os expoentes desta retomada foram Extermínio e Madrugada dos Mortos. Porém, a estética dos zumbis se alterou. Ao invés de criaturas decrépitas e lentas, agora temos zumbis super-rápidos e que se movem sempre em grupos enormes com um comportamento irracional, e é aqui que se encaixa a analogia aos tempos modernos, a crítica ao consumismo, as grandes massas que se movimentam sem pensar, somente seguindo impulsos primários, aglomerando-se e brigando por aquilo que consideram vital. Quem já passou por uma liquidação, ou mesmo vivenciou uma Black Friday, deve ter experimentado algo parecido.
Guerra Mundial Z segue nessa linha, porém, à sua própria forma. Terminou de ser filmado em 2011, mas problemas de produção, brigas entre o ator/produtor Brad Pitt e o diretor Marc Foster atrasaram o lançamento do longa, que até teve o final refilmado. Geralmente filmes com problemas assim acabam dando um resultado ruim, mas não foi este o caso. Guerra Mundial Z convence como filme-catástrofe e como ação. Consegue prender a atenção do espectador e criar momentos genuínos de tensão sem apelar a (muitos) clichês do gênero.
Na história, Gerry Lane (Pitt) é um ex-funcionário da ONU especialista em trabalhar em regiões de conflito pelo mundo, por isso sua intensa experiência em fugas de situações de risco. Porém, agora ele está aposentado. E o filme se inicia justamente em seu cotidiano familiar na Filadélfia, ao mesmo tempo em que somos apresentados gradualmente a notícias de uma estranha infecção estar se espalhando pelo mundo (também excepcionalmente apresentada na abertura, com a também boa música-tema executada pela banda britânica Muse).
Durante também uma excelente sequência no trânsito congestionado, somos apresentados a infecção de uma hora para outra, o que não pareceu fazer muito sentido, porque por mais que Lane conte o tempo de infecção através de mordida em 12 segundos, uma onda como a que atravessa a cidade seria sentida bem antes, de forma mais gradual. Neste aspecto, o avanço da infecção mostrado em Todo Mundo Quase Morto parece muito melhor construído, mesmo se tratando de uma paródia do gênero.
A partir daí, o 1º ato é todo de Lane e sua família tentando fugir da infecção, conseguir mantimentos e procurar abrigo, o que também tem dois pontos negativos: a cena do supermercado, onde sua mulher é atacada sem mais nem menos em meio a uma multidão, para criar uma tensão que soou um pouco artificial, e a vitimização e o excesso de bondade e hospitalidade de imigrantes latinos que recebem Lane em sua família. Há a clara tentativa de sensibilizar o espectador, que também soa um pouco artificial. Pequenos problemas e situações ao mesmo tempo forçadas e sem sentido naquele contexto se repetem algumas vezes durante a exibição, o que talvez possa ser creditado a tantos problemas de filmagem e produção.
No entanto, após o 2º ato seguimos Lane por sua investigação no mundo a respeito de como a doença surgiu e como poderia pará-la. E o comportamento de Lane frente à ameaça é um dos pontos mais interessantes do filme, já que geralmente protagonistas de filmes desse gênero não conseguem aprender com a prática, observando e tirando conclusões, o que Lane faz de maneira bem clara e inteligente, e sempre com o propósito de avançar a história. As sequências na Coreia do Sul e principalmente em Israel são boas, apesar dos zumbis escalando o muro e correndo em hordas parecerem artificiais demais em alguns momentos.
Na parte final, no laboratório da OMS, momentos de tensão são muito bem construídos, com o som ambiente silencioso, construindo uma crescente e lenta angústia no espectador, consciente que o menor ato pode desencadear uma tragédia. No final, a história tem um desfecho aceitável, e que provavelmente será retomada em continuações.
Apesar de alguns problemas, Guerra Mundial Z convence ao criar momentos honestos de tensão e medo, e um senso de urgência real frente ao perigo apresentado, onde conseguimos nos identificar com o protagonista, suas intenções e reações. Em um gênero tão desgastado por filmes e séries de TV, é sempre bom ver algo que tente apresentar algo de novo.
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Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.
Não achei um filme espetacular, mas também não foi um filme ruim. Um filme OK.
Achei o filme excelente, por explorar de maneira muito inteligente vários conceitos que escolhe explorar. A começar por nos mostrar o momento exato onde tudo vai pro cacete, geralmente isso é pulado ou exibido em flashes ultra rápidos e o foco da história logo parte para o PÓS apocalipse. Aqui, inicia com notícias bizarras sobre o mundo, que não tem tanta repercussão quanto deveriam, e de uma hora pra outra o bicho pega DO NADA. Achei isso extremamente coerente, em uma cidade tão populosa e congestionada.
E mais interessante ainda é quando o rumo vira algo de investigação, espionagem, faz total sentido que os governos tentassem algo assim. Uma abordagem original, visto que 99% dos filmes do genero optam por mostrar pessoas comuns tentando sobreviver. E também coerente a impossibilidade em se localizar o ponto zero, paciente zero, e a solução vir da simples e velha OBSERVAÇÃO. Outro ponto: eles citarem abertamente a coisa do “zumbi”, afinal, a história se passa no mundo REAL, não num universo paralelo onde ninguém nunca ouviu falar em mortos-vivos, como se não existissem todos os filmes, livros, etc. Pode parecer algo sem importancia, mas sempre me incomoda pra caralho nas produções do genero. E por fim, a busca por respostas científicas; se encaixa muito bem quando se está lidando com um VIRUS, que deixa as pessoas deformadas e só. Não como em The Walking Dead, onde a galera tá APODRECENDO, caindo aos pedaços, e ainda se fala em cura, em análise científica.
Somado a tudo isso, a ótima direção que soube combinar a ação frenética louca com momentos mais parados mas com tensão muito bem construída. O lance do drama familiar acaba sendo mesmo o menos interessante do filme, um simples recurso pra fazer o protagonista agir (sem ser somente por ele ser O herói que quer salvar a humanidade toda só porque é bonzinho). Pra mim, merecia quatro estrelas com louvor.
Até concordo contigo Jackson, mas dei três por algumas falhas bobinhas, dentre outras que nem citei no texto. Muletas de roteiro e soluções fáceis pra agilizar a história, com da queda do avião causada por uma detonação de granada em pleno voo, além da mina estar com a mao amputada e ajudar Lane a andar com um ferro na barriga por vários km sem encontrarem nenhum zumbi pela frente. Só para se focar em um trechinho do filme, hehehehe
Eu gostei do filme, achei melhor do que muitas produções do gênero, inclusive o Eu sou a lenda (aliás os zumbis de Eu sou a Lenda não me convenceram tanto quanto os desse filme (que também soavam artificiais com os efeitos visuais em muitos momentos, inclusive naquela torre humana que não fazia sentido algum).
Gostei da forma como o filme construiu seu desfecho e as pistas sutilmente deixadas ao longo da trama, como aquelas pessoas que não estavam sendo afetadas pelas perseguições zumbis, e o óbvio mas eficiente: “tire o dedo do gatilho” pouco antes do pesquisador tropeçar.
Nossa, mas Eu sou a Lenda é sacanagem né? Estamos falando de filmes de zumbi sérios =P.
HAAH, é que é o único “atual” que me veio a cabeça no momento fora a bizarra adaptação de Resident Evil e a série Walking Dead