Quando foi anunciado que J.J. Abrams seria o novo responsável por trazer de voltas às telonas a franquia Star Trek, confesso que não me importei, porque nunca liguei muito para essa franquia (e também porque naquela época ele não era tão conhecido quanto hoje). Não sei bem as razões, mas nunca tive vontade de ver a série em qualquer das gerações ou nenhum dos filmes. Talvez pela quantidade e pela eternidade que iria levar ver tudo, mas, mesmo assim, algumas características dos personagens e bordões criados pela série eram familiares, tamanha é a influência de Star Trek na cultura pop. Portanto, eu era o público-alvo do filme tanto quanto qualquer pessoa que não tivesse o mínimo de conhecimento da saga.
Nesse aspecto, posso dizer que o filme agradou. Ao dar uma nova roupagem e modernizar os personagens, J.J. Abrams consegue criar um universo verossímil, mesmo fazendo algumas alterações que poderiam causar estranheza aos fãs da série clássica.
O filme se inicia contando a história do pai do capitão James T. Kirk (Chris Pine) e como ele é morto por um ataque de romulanos e consegue salvar a vida de milhares de pessoas. Logo depois, vemos Kirk crescendo como um jovem impulsivo e que sempre testa seu limite, e o dos outros, na busca por emoções e desafios. Também nos é apresentada a origem de Spock (Zachary Quinto) em seu planeta natal, Vulcano, contrastando sua metade humana com sua metade vulcana, e como isso afeta e afetará sua vida. O que faltou foi um maior desenvolvimento aos outros personagens, como Dr. Leonard McCoy (Karl Urban), tornando a trama excessivamente centralizada em Kirk e Spock.
A trama é relativamente simples, porém se utiliza de subterfúgios muito comuns em filmes do gênero quando os roteiristas estão encurralados sem saber para onde ir: a viagem no tempo. Porém, a forma como ela é usada serve de propósito ao desenvolvimento da história, então neste aspecto soa natural, apesar de essa mesma história ser contada no ritmo frenético que a ação moderna exige, fazendo com que o espectador possa se perder às vezes.
O assassino do pai de Kirk, o romulano Nero (Eric Bana), volta no tempo para destruir os planetas de todos aqueles que não fizeram nada para evitar a destruição de seu planeta no futuro, e consegue efetivamente destruir o planeta Vulcano, para o desespero de Spock. No entanto, seu próximo alvo é a Terra, e algo precisa ser feito para impedi-lo.
Enquanto Kirk e Spock ainda não são amigos e lutam para conseguir se manter no mesmo ambiente, Kirk é colocado para interagir com Leonard Nimoy, o eterno Spock da série clássica, tanto para explicar a questão da viagem no tempo, como para agradar os velhos fãs, pois só mesmo uma pessoa totalmente alienada da cultura pop não reconhecerá o rosto do velho ator, que dá uma boa contribuição, juntamente ao personagem Scotty (Simon Pegg), que garante boas risadas como o alívio cômico. Porém, o vício de Abrams em explicar demais a história para não correr risco de nenhum espectador perder o fio da meada também torna a sequência desnecessariamente longa e arrastada em seu final. No final, Kirk e Spock percebem que se completam, assim como todo o restante da equipe que encaixa muito bem nos novos atores, e conseguem enfrentar o vilão Nero em boas sequências de batalhas.
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Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.