Resenha | Quarteto Fantástico: Ações Autoritárias

Quarteto Fantástico - Ações Autoritárias

Sequência direta do arco anterior, Inconcebível, o encadernado de Ações Autoritárias – lançado também pela coleção Salvat – apresenta as consequências dos fatos em três arcos narrativos. Mark Waid mantém a escolha de inaugurar histórias de maneira concisa, evitando o erro de se estender além do necessário. As três histórias deste encadernado da coleção Salvat possuem o mesmo tema em comum retratando como cada membro do Quarteto lidou com a última investida de Doutor Destino.

A primeira história enfoca o garoto Franklin Richards e seu trauma ao ser deixado no inferno. O aspecto familiar é ressaltado pela trama, além de ser um entreato calmo para a futura história, mais densa. O arco que intitula o compilado se passa na Latvéria, local em que o Quarteto Fantástico assumiu o poder – contrariando a ONU e Nick Fury – temendo que civis pudessem se apoderar do arsenal altamente tecnológico do vilão.

Um devastado Reed Richards se afasta ainda mais de sua família, obcecado em desvendar o local e desenvolver um plano que respondesse à altura do inconcebível anterior. A imagem de Von Doom diante de seus súditos é o primeiro passo destrutivo que afasta a única imagem positiva de Destino. Conhecendo suas intenções malignas e um arsenal de destruição em massa, com direito a robôs torturadores, os latverianos encontram em Richards um possível recomeço para o local. A política entra em cena situando a equipe dentro do universo Marvel e sua projeção realista. Nick Fury participa como um intermediador entre Richards e a ONU, que considera a invasão do Quarteto um erro. Porém, a atitude é apenas parte do plano definitivo para controlar o vilão.

A dicotomia entre herói e vilão nunca foi tão clara. Como a morte nunca é uma opção, a saída de Sr. Fantástico é heroica visando o bem maior de sua família. Um sacrifício que colocaria Destino e Reed em uma prisão localizada em uma realidade paralela. Como nada é fácil para a equipe, Destino foge deste universo, controla a equipe mentalmente e causa mais uma baixa no Quarteto: a morte de Ben Grimm.

O público sabe que as mortes heroicas sempre terão um futuro retorno. Quando nada é definitivo, cabe à narrativa produzir um bom argumento para causar conflitos necessários e explicar, ao menos plausivelmente, o retorno da personagem. Iniciando seis meses após os eventos de Ações, Richards estuda o corpo de Grimm buscando um meio de trazê-lo de volta. Quando suas intenções falham, a personagem retoma um experimento de seu arqui-inimigo para desvendar um novo universo não explorado. Waid retorna à fundação do Quarteto, na origem de Destino, para fundamentar sua aventura. Tentando encontrar sua mãe no inferno, Vom Doom desenvolve um aparelho mágico-tecnológico e falha por não ouvir os conselhos de Richards. Dessa forma, a trama reflete sua própria trajetória e avança rumo ao céu, transformando a religiosidade em um universo como tantos outros explorados pela equipe. Sempre desenvolvendo ao máximo o argumento aventureiro, este recurso funciona pela coerência e o equilíbrio entre a ciência e a magia.

O desfecho promove um mergulho metalinguístico promovendo um inusitado encontro entre Quarteto Fantástico e Deus. Mais especificamente, o deus das personagens em quadrinhos: seus autores. A escolha é ousada, porém, diante de uma progressão de acontecimentos cada vez mais impactantes, a escolha de Waid por um final grandioso que não caísse no clichê é bem-sucedida. E as aventuras da equipe até então dão a base necessária para que este encontro seja plausível. Pela linha da metalinguagem, a história se encerra analisando a própria criação desta arte, e corrige – em um ponto alto do famoso deus ex machina – a cicatriz que Richards ostentava desde o arco anterior. Finalizando com um interessante ápice, a primeira grande jornada da equipe pelas mãos de Waid é considerada ousada para uma narrativa de linha mensal.

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Comments

2 respostas para “Resenha | Quarteto Fantástico: Ações Autoritárias”

  1. Avatar de Dan Cruz
    Dan Cruz

    Ah, cara, como odiei esse final! Eu aceitaria numa história do Deadpool ou do Bidu, mas do Quarteto Fantástico? Foi, para mim, a mesma brochada do final de Lost.

    1. Avatar de Thiago Augusto Corrêa
      Thiago Augusto Corrêa

      Essas leituras do Waid foram minhas primeiras experiências com o Quarteto. Eu notei que por questão de impacto e ganchos ele vai conduzido a equipe a um conflito impossível, tanto na questão do roteiro. Por isso, gostei da saída de corromper o universo para mostrar o criador. Ainda que ter apagado o que aconteceu com Richards foi meio bobo.

      O que prova meio que o lance do Waid de levou a equipe até lugares impossíveis e pra voltar usou um recurso mágico de alguma maneira.

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