Muito antes de Samuel L. Jackson aceitar o convite da Marvel Studios para estrelar o papel do coronel caolho da agência da S.H.I.E.L.D., seria feita uma versão de Nick Fury, produzida por Avi Arad, Stan Lee e roteirizada por David Goyer. A escolha para o papel principal não poderia ser mais sui generis, com o aporte de David Hasselhoff, ainda na esteira de S.O.S. Malibu, em um papel tão canastrão quanto o que fizera neste e em Super Máquina.
O Fury de Hasselhof é ainda mais agressivo e arredio do que a última versão cinematográfica do personagem, nada afeito a ordens, um rebelde que sabe o poder que tem, mesmo como subalterno dentro a agência de espionagem. O desrespeito as regras começa pela clássica cena em que acende um fósforo na parede, movimento comum a qualquer brucutu, ainda mais condizente com um militar que não aguenta desaforos.
A fluidez com que é conduzido o filme de Rob Hardy é tamanha, que se assemelha às encenações teatrais de colégio em fase de ensino fundamental. Não há como levar a sério qualquer dos conflitos entre a S.H.I.E.L.D. e a Hydra, que a priori, agiria desde a época da Alemanha Nazista, porcamente encenada por um elenco que abusa de falas aos gritos, overacting e muitos exageros visuais, com direito a cabelos extravagantes e sotaques californianos imitando horrorosamente o tom europeu de falar.
É difícil escolher o aspecto mais chocante do telefilme, se é o fato do protagonista estar sempre oleoso, se é o tapa-olho que denuncia a completa falta de continuísmo ao se trocar frequentemente o objeto de hemisfério corporal, o bronzeamento artificial justificado do modo mais burrificado possível ou os cenários em CGI que fazem inveja aos diversos mockbusters da Asylum.
O conjunto de semelhanças visuais com as HQ’s é incabível, sendo incrivelmente esdrúxulo, não fazendo sequer sentido dentro da métrica do argumento em alguns pontos, resultando até em contradições lógicas, como o ato de usar couro em um ambiente extremamente quente como a embarcação marítima/aérea em que a instituição se situa.
Fury é leviano, durão e baddass, convive bem em meio ao mundo que o cerca, mesmo neste ambiente repleto de cenários de papelão que lembram demais o que é visto em produções de baixo orçamento. A trama se arrasta nos momentos finais, com direito a ressurreição de inimigos centenários, que só retornam para morrer logo depois, e uma larga apresentação de coadjuvantes genéricos, que não deixam o público esquecer do quão trash é o longa. Após um apelativo gancho para uma continuação, a resolução de Fury é curiosa por ir contra a burocracia típica da organização, ainda que o modo como é realizado não tenha qualquer inteligência. Nick Fury Agente da S.H.I.E.L.D. consegue ser tão pleno em seus defeitos, que provoca no seu espectador um riso involuntário, provindo do que já se chamava em 1998 por Marvel Studios, ainda que em outra encarnação da produtora.