2017 foi um ano fraco pra produção norte-americana de filmes. Isso refletiu num Oscar surpreendentemente com mais justiças que a recorrência anual da premiação, reconhecida por esnobar grandes títulos. Mesmo assim, ótimos títulos ficaram de fora, quase como se fosse inevitável disso acontecer, já que um mesmo filme geralmente é escolhido e recebe inúmeras nomeações. Segue-se abaixo os cinco principais esquecidos e outsiders da maior festa desta safra de premiações.
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Z: A Cidade Perdida (James Gray)
Provavelmente foi o melhor filme americano exibido no Brasil no ano passado, e de um dos grandes cineastas em atividade na grande indústria do Cinemão, de lá. Após algumas revisões, nota-se Z: A Cidade Perdida como um tributo elementar a um tipo de olhar cinematográfico refinado, entendido por Gray enquanto refinamento histórico e estético ao caso do explorador, diante de um cosmos pelo qual o ‘civilizado’ se deixa seduzir. Um território ímpar para esforços e triunfos narrativos em tela que os prêmios escolheram não ver, ou não apostaram para que suas vitórias não fossem assim unânimes.
Sem Fôlego (Todd Haynes)
O diretor do belíssimo Carol voltou com um filme quase tão lindo quanto, e que assim como o trabalho de Gray, conseguiu o feito de passar despercebido pelas premiações e quase que o mesmo se o assunto for a imprensa especializada americana. Em Sem Fôlego, Todd Haynes agora invoca a fabulação típica de uma obra de Brian Selznick, mas bisbilhota, novamente, num filme de aventura e fantasia permanente, os diversos valores da conexão tocante que há entre o uso descritivo das suas imagens, fundindo-as com serenidade numa narrativa visual bem bacana. Merecia atenção.
Detroit em Rebelião (Kathryn Bigelow)
Filme policial bastante tenso e nada bonitinho de se ver, daí o desprezo por parte das votações nos prêmios recentes, contando com excelente elenco, majoritariamente negro, e a mesma direção feminina que entrou pra história em 2010 ao deixar James Cameron comendo poeira e permitir também que um Oscar de direção fosse conquistado por alguém de vestido, e salto alto. Detroit em Rebelião, ainda que seja sobre a indigestão civil quanto as instituições que esmagam a identidade do povo, Kathryn Bigelow, branca, não se agoniza, e discursa as tensões raciais da época com tremenda objetividade.
Bom Comportamento (Ben e Joshua Safdie)
Não é porque não tem vídeo da reação de Scorsese no YouTube ao assistir Bom Comportamento, que ele não tenha ficado orgulhoso disso. Um filme que revive tão bem a tensão que passa os marginalizados da sociedade que é difícil não invejar o trabalho honesto, pulsante e muito direto dessa dupla de diretores, sobre dois irmãos que tentam sobreviver numa selva de pedra após um assalto a banco de execuções incrivelmente falhas, e consequências imprevisivelmente perigosas. Difícil é esquecer a cena do carro a qual a frase “Lay down! Make yourself invisible!” emblema.
Mulher-Maravilha (Patty Jenkins)
E eis que o universo DC brilhou, e sem truques de montagem ou o apelo inadvertido dos fãs. Um cheiro leve e bacana de originalidade, representação da diversidade de gênero (uma possibilidade de abrangência social que os espetáculos vêm usando cada vez mais, inclusive em 2018 com a diversidade racial de Pantera Negra) e um gosto ainda que modesto de novas possibilidades de entretenimento – mesmo que este seja um gosto suave de ‘quero mais’. De história e resoluções narrativas nem tão grandiosas, esse marco cultural de Patty Jenkins foi o filme mais lucrativo de 2017 e merecia ser lembrado pelos icônicos figurinos e a ambientação do mundo da deusa amazona.
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