A chuva cai torrencialmente lá fora. Ou deveria cair, como contraste com suas lágrimas. Tentando esquecer o amor que se foi, você imagina que um pouco de música poderá distraí-lo. Liga o som mais próximo, e Love Hurts, regravada em versão definitiva pelo Nazareth, cospe dor das caixas de som. Entre soluços, abraçado com seu travesseiro preferido, você diz silenciosamente, afinal está se afogando em lágrimas: o amor fede.
Reflexo de um sentimento natural do homem, a representação do amor na ficção nem sempre é apoiada no viveram felizes para sempre. A equipe do Vórtex se reúne ao lado de Mariana Guarilha do Miss Bennet para lembrar aqueles momentos cinematográficos e televisivos em que o amor, uma relação ou casamento, não necessariamente nessa ordem, não se tornaram o costumeiro símbolo feliz. Em homenagem ao dia dos namorados, esta lista especial a todos os amores que viraram bruma, como diria Vinícius de Morais em seu Soneto da Separação.
How I Met Your Mother (2005 – 2014) – Por Filipe Pereira
A série How I Met Your Mother se desenvolve como versão menos idealizada da também cômica Friends, mantendo a temática de um grupo de grande amigos que convivem com os dilemas da vida adulta, com a triste sina de se não se verem tanto quanto gostariam. Um dos defeitos da série, certamente, é a relação de amor platônico de Ted (Josh Radnor) e Robin (Cobie Smulders), ainda que as saídas para eles não sejam tão covardes e repletas de clichê quanto com Ross e Rachel. No entanto é outro casal que compreende a melhor demonstrativa de acerto e erro. Robin e Barney (Neil Patrick Ellis) são pessoas parecidas, desprendidas de moral e independentes até o momento em que começam a se relacionar. O namoro dá errado, mas retorna próximo do fim do seriado, tomando toda a atenção da sétima e última temporada, focada nos preparativos para a cerimônia. Para Barney é a última chance de tentar se afiliar a uma pessoa só para fugir de um fim de meia-idade solitária. Evidentemente o plano fracassa, mais uma vez sem qualquer pecado capital, indiscrição ou erro de fidelidade conjugal que justifiquem o término, só não se encaixaram mais uma vez as agendas e repertório da dupla. A série tem essa triste sina, de mostrar mais relações que dão errado do que gratificações sentimentais, o que faz dela um objeto raro em meio às comédias norte-americanas recentes.
Minhas Versões do Amor (Richard J. Lewis, 2010) – Por Thiago Augusto Corrêa
A velhice é o ponto de partida para as lembranças de Barney Panofsky nesta produção estrelada por Paul Giamatti. Recordando sua trajetória, a personagem explicita seu impulso amoroso e um ímpeto imaturo: casa-se a primeira vez devido à possibilidade de gravidez da mulher e, na cerimônia de seu segundo casamento, se apaixona perdidamente por uma terceira mulher. Panofsky representa a violência das paixões sem equilíbrio e um caráter canalha que nem mesmo a tradição de uma cerimônia foi capaz de impedi-lo. Em um drama sensível sobre as escolhas de cada um de nós, Giamatti, como costumeiro, está excelente na produção que lhe garantiu o Globo de Ouro em Comédia ou Musical em 2011.
Namorados Para Sempre (Derek Cianfrance, 2010) – Por Flávio Viera
Derek Cianfrance realiza uma autópsia de um relacionamento fracassado com tons de John Cassavetes e Woody Allen. Namorados Para Sempre é insuportavelmente amargo, uma verdadeira desconstrução dos contos de fadas hollywoodianos aos quais estamos tão habituados. Dean (Ryan Gosling) e Cindy (Michelle Williams) se encontram nas casualidades do cotidiano e passam a se relacionar de maneira terna e bastante precoce. Pouco a pouco, vamos conhecendo a fundo o desenvolvimento dessa relação ao longo dos anos, do começo promissor ao fim extremamente melancólico. A fotografia e a direção de arte mudam consideravelmente com o decorrer do longa, assim como o aspecto físico e o figurino dos protagonistas. A intensidade das atuações solidificam as razões do colapso da união dos dois. Difícil não chegar ao fim do longa-metragem sem um sabor amargo.
500 Dias Com Ela (Mark Webb, 2009) – Por Mariana Guarilha
Tom (Joseph Gordon-Levitt) decidiu que Summer (Zooey Deschanel) é a mulher da sua vida. É uma pena que ela não concorde com isso. Em 500 Dias Com Ela, os dois acabam vivendo um romance casual, no qual fica claro que Summer não tem grandes expectativas, mas o rapaz acredita ter encontrado sua alma gêmea. Tom parece ter assistido a comédias românticas demais e ouvido as músicas erradas, pois acredita que pode de verdade transformar esse relacionamento passageiro em um romance perfeito. Muitas vezes lida como apenas uma “Manic Pixie Dream Girl”, a garota excêntrica e sem muita profundidade que aparece para ensinar uma lição ao protagonista. Summer na verdade só não estava apaixonada, e Tom teria se poupado de uma grande dose de sofrimento se apenas deixasse pra lá e fosse procurar em outro lugar a grande história de amor com que sonhava.
Sex And The City (1998 – 2004) – Por Thiago Augusto Corrêa
Em uma série que traça um retrato feminino contemporâneo, situado em uma das cidades mais famosas do mundo, nada mais adequado do que uma história de amor desnivelada. Tema desenvolvido desde o episódio piloto, a relação de Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker) com Mr. Big (Chris Noth) somente emplaca, quando emplaca, devido a necessidade de um final feliz na trama. A jornada do casal é longa e somente se acertam definitivamente no primeiro filme derivado. Mesmo assim, a relação apresenta dramas pontuais e, dado o histórico de desencontros, se mantém delicada. A dupla representa o tipo de casal que confia em uma relação que, provavelmente, estará fadada ao fracasso.
Apenas o Fim (Matheus Souza, 2008) – Por Filipe Pereira
A melancolia é o mote do roteiro de Matheus Souza em Apenas o Fim. A jornada da personagem consiste na aceitação de um fracasso romântico sem motivos graves aparentes. Antes da fama oriunda do Porta dos Fundos, Gregório Duvivier vive Antônio, um estudante de cinema nerd e sem qualquer atrativo além do comum. Tem seu namoro findado pela parte feminina, inominada propositalmente para evocar universalidade, interpretada por Erika Mader. A agonia do filme reside exatamente no efêmero e na incapacidade do sujeito em reverter a relação mal-sucedida, além de ser o produto de um tempo único, prevendo a condição da moda atual: namoros curtos ou relações nas quais o desapego é central. O modo como Souza escolhe contar sua história, no campus da PUC, acaba sendo mais um importante elemento narrativo dentro da obra, mais uma vez lembrando o quão desprendida pode ser a geração retratada, servindo como uma metalinguagem autobiográfica.
Eclipse Total (Taylor Hackford, 1995) – Por Thiago Augusto Corrêa
Stephen King confere peso dramático a esta obra que adapta seu romance lançado em 1992. Diferentemente das narrativas românticas anteriores, é a relação abusiva do marido de Dolores Claiborn que se destaca como ponto de arranque da obra e motivo para figurar nesta lista. Magistralmente interpretada por Kathy Bates, o drama é intenso na violência das relações entre tais personagens e, embora configure apenas parte de uma história maior, é preponderante para a reflexão sobre limites da justiça e lei em casos de agressão.
Thelma & Louise (Ridley Scott, 1991) – Por Flávio Vieira
Thelma & Louise, filme de 1991, dirigido por Ridley Scott, é um misto de sentimentos e sensações onde relembramos de temas como a liberdade, amizade, empoderamento feminino, abuso sexual, dentre outros. A trama é voltada para as personagens que dão título ao filme, interpretadas respectivamente por Geena Davis e Susan Sarandon, com as quais acompanharemos a jornada das duas amigas. Como é típico de um road movie, a estrada é mais importante que o objetivo, já que ela servirá como o amadurecimento dessas personagens. Interessante notar que Thelma (Davis), ao iniciar o longa, não passa da típica mulher submissa que passa o dia em sua casa, com o jantar pronto à mesa e a casa arrumada, enquanto o marido dominador lhe destrata e sai com outras mulheres. A jornada da personagem mostrará o seu crescimento e, em contrapartida, a deterioração do seu casamento, culminando no seu inevitável fim. Ainda bem.
Game of Thrones (2011 -) – Por Mariana Guarilha
Não há ninguém como George R.R. Martin pra escrever uma cerimônia de casamento. Se nos relacionamentos da série de livros As Crônicas de Gelo e Fogo o autor já demonstra um certo ceticismo ao amor que tudo vence, é nas cerimônias que coloca uma dose especial do seu sadismo. Os eventos que ficaram conhecidos como Casamento Vermelho e Casamento Roxo refletem isso. No Casamento Vermelho, graças à traição de Walder Frey, ocorre a chacina de boa parte dos correligionários do Rei do Norte, Robb Stark. Já no Casamento Roxo, graças a uma conspiração, o noivo morre engasgado, graças ao veneno no copo de vinho usado para brindar sua união. As duas passagens já foram apresentadas na série de Game of Thrones, adaptação comandada por David Benioff e D. B. Weiss.
Relatos Selvagens (Damián Szifron, 2014) – Por Thiago Augusto Corrêa
Dessa relação os filmes que mais me incomodaram foram O casamento em relatos selvagem e Blue Valentine. O primeiro realmente eu me via como um convidado para aquele casamento e em Blue Valentine fico triste pelo Dean, que mesmo tendo um temperamento complicado, conseguimos ver que a família dele era a coisa que ele mais amava, e é insuportável presenciamos o fim dela.
Blue Vallentine é um soco no estômago. Deprimente demais… Só de lembrar da cena da aliança no final do filme já dá uma amargura.
Cliquei no link de “Até o Fim” e veio o filme do Robert Redford. Êêêê Thiago… #pablizou
Foram duas Pablizadas. A minha por, de novo, ter colocado Até o Fim em vez de Apenas o Fim, e do link errado. Estarei arrumando.
Boua lista