O ano de 2016 é sem dúvida um dos mais estranhos pra FGC. Ano passado, as finais do International de League of Legends superou a audiência do jogo seis da NBA. A uma semana da próxima edição do EVO, todos os ex-membros do time Mad Catz estão à procura de novos patrocínios. A própria Mad Catz demitiu uma parcela significativa de funcionários devido à minúscula resposta de vendas de seus equipamentos de Guitar Hero 4. As inscrições para o campeonato EVO de Street Fighter 5 já atingiram o recorde de cinco mil pessoas, e mais recentemente o canal ESPN anunciou que as finais de SFV terão exibição em seu canal 2 na TV a cabo e por streaming. Principalmente essa última opção, para um espectador de esportes em geral, ligar a sua TV e ver um joguinho de videogame passando às 14:00 de um domingo, deve ser no mínimo estranho e não fazer o mínimo sentido.
Acontece que devido a essa notícia em especial, é muito provável que os jogos de luta competitivos atingiram um determinado ponto que não vai ser tão estranho quando, nos próximos anos, existir uma visão mais casual sobre esse tipo de competição como entretenimento geral. E este parece um ótimo momento para se olhar pra trás e relembrar que esse conceito iniciou-se em fliperamas e hoje percorre em ballrooms de hotéis em Las Vegas através do documentário FGC – Rise of the Fighting Game Community lançado em 2016 e dirigido por Esteban Martinez.
Financiado por meio de campanha pelo Kickstarter, o documentário se divide em duas perspectivas básicas: um panorama geral sobre como a comunidade dentro dos EUA cresceu localmente, e logo depois regionalmente, e a visão desse crescimento através do olhar de alguns jogadores como Steve “Lord Knight” Barthelemy (jogador de jogos de luta “animes” como Melty Blood, Guilty Gear XRD e BlazBlue), Joe “LI Joe” Ciaramelli (Street Fighter 4/5) e seu amigo organizador de campeonatos John Gallagher.
Nesse segundo ponto do longa, o foco da história passa a montar como veio determinado interesse de cada um em competir, basicamente pela diversão. Não existe exatamente um objetivo muito definido além desse simples motivo, e o de ainda fazer parte da geração que se enfrentava em fliperamas. A competição não necessariamente precisa envolver a questão financeira, mas sim desafiar e vencer o oponente e arriscar a sua ficha. Um ponto interessante na decoupagem de Martinez foi conseguir mesclar a mesma perspectiva da competição, entre esses três jogadores de núcleos diferentes, em almejar os mesmo objetivos na sua forma de jogar. LI Joe basicamente mostra o interesse por estar ali dentro dos fliperamas com seu pai, que o fez posteriormente não só competir, como também organizar seu próprio evento com a ajuda de amigos.
Nesse aspecto o documentário não abrange o que é a cena de maneira internacional, mas consegue construir um recorte de entrevistas que ilustram bem o que fizeram essas mesmas pessoas de nichos expandirem a competição pelo país a ponto de chegar aonde estão. É obviamente muito oportunista comentar essa expansão logo agora, mas anualmente fica muito claro como a comunidade cresce não só no número de competidores, mas também na quantidade de espectadores (casuais ou não) que acompanham online os campeonatos. Todos os entrevistados apontam que o principal responsável por essa expansão nos últimos oito anos foi o lançamento de Street Fighter 4, que conseguiu agregar interesse de jogadores, que não competiam mais, a voltarem a jogar, além de somar isso a novos rostos que apareceram na cena. Outro fato muito curioso pelo longa ter sido lançado exatamente já no fim do jogo citado, e seu sucessor ser hoje, apesar de todas as falhas no lançamento, o jogo mainstream da comunidade.
O maior acerto de Martinez é sem dúvida condensar o conteúdo informativo do longa com o ângulo humano dos três jogadores citados, mostrando principalmente a dificuldade que é se preparar mentalmente para um campeonato grande.
Acaso ou não a produtora do documentário Hold Back To Block disponibilizou gratuitamente esse mesmo documentário há uma semana do EVO. Vale a conferida.
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Texto de autoria de Halan Everson.
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