No último minuto de O Mundo de Apu, clássico indiano soberbo, não há dúvida de ter assistido o término de uma das melhores trilogias do mundo dos filmes. Curioso que, além disso, vem à cabeça como fechar uma história com mais de 2 ou 3 capítulos parece fácil, e não é. Entre diversos arcos e expectativas, fica a impressão que o show deve continuar na memória de quem acompanha tudo até o fim, e se divide: “O fim será épico, mas trocaria isso por outros bons capítulos”. Esse foi o sentimento conflituoso quando as luzes se acenderam, em 2011, enquanto o rosto da trindade (Harry, Rony e Hermione) sumia na tela, junto de um marco da geração 2000, e com o prenúncio que não iriamos mais esperar por outra aventura em Hogwarts; mais de cinco anos depois, estreia Animais Fantásticos e Onde Habitam, oriundo deste universo de varinhas e vira-tempos, posto que irá desnudar ainda mais essa realidade (expandir as noções que J. K. Rowling não achou espaço de imprimir na septologia original). Mas será que David Yates, desde A Ordem da Fênix no comando desse show, conseguiria tornar o espetáculo realmente inesquecível sem o apelo emocional deste ter sido “o último”?
Filmes que se promovem sozinhos são raros, e quando conseguem a briga já está vencida antes da estreia – vide Toy Story, o último Crepúsculo e qualquer coisa do UCM (universo cinematográfico da Marvel). Já outros, feito Aquarius, Star Wars e dramas do Oscar, só fazem sucesso por uma intensa campanha publicitária, tendo que nos convencer a ir vê-los na pompa de uma sala de Cinema. No caso deste Relíquias, Parte II, tanto o primeiro como o segundo conseguiram ir além do coração dos fãs, tornando-se um fenômeno pop apostando no carisma de um mundo tão vasto quanto a Terra Média, de J.R.R Tolkien, tornando o filme extremamente comodista. Não há nenhum esforço para tornar este segundo Relíquias algo a mais do que ele significa para o fã, feito a maioria dos filmes da sala, fechados em seu mundo e sendo nada além do que esperávamos. Essa é a falta de credibilidade que os fãs não aceitam enxergar: Diferente de outras grandes sagas, Harry Potter não trouxe nada de novo à arte.
Por isso mesmo, Yates sabe que a diferença entre quem vai adaptar um universo, e um garimpeiro de petróleo é o tamanho da ambição, e o diretor dos últimos quatro Harry Potter se esforça para que as suas cenas de ação fiquem à altura do esperado, mas falha, e falha quase miseravelmente. Fato é que as cenas dramáticas, como a morte de várias figuras amadas pelos fãs, são muito mais impactantes que os duelos coloridos (super mal-coreografados), confusos, de uma conotação espacial péssima, com a barulheira de sempre (Fico imaginando o incômodo de Paul Greengrass, gênio da ação, assistindo a batalha final de Hogwarts), e que aqui só empolga quem sabe o nome de cada feitiço e personagem, mesmo. Destaque apenas para a fuga do dragão logo no começo do filme, essa sim, diferente de tudo o que havia sido visto no Cinema. Adendo extra: O filme não precisava ser em 3D, mas é o legado de Avatar ao mercado. A gente entende tão bem quanto as pessoas lacrimosas ao se despedir de Harry, um personagem bem evoluído por oito filmes, que… espera, não eram sete livros?
Lembro de ler, ainda em 2011 críticos julgando o filme como um longo clímax, o que discordo em partes, já que sendo apenas um filme vários momentos de Relíquias, Parte II iriam se perder, mas… seria essa uma justificativa cabível? Deve-se duvidar, sobretudo, de um filme dividido em dois para dar conta do recado, sendo que há uma teoria que “nenhum filme precisa de mais que 2 horas pra mandar a mensagem”, quanto mais apelar para a técnica que só funcionou, num período de 20 anos, com os dois Kill Bill de Tarantino, cujo segundo só existe para aprimorar ao máximo a jornada da Noiva, e não para lucrar ao máximo com a jornada do bruxo. Esse último Harry não atrapalha em nada, pelo contrário, usa e abusa de referências boas do livro, mas é o motivo que faz isso acontecer que atrapalha. Fãs existem, devem ser valorizados como qualquer empresa faz, mas um filme dividido e que existe apenas para quem sabe cada diálogo do que está na tela sempre terá uma qualidade questionável. A verdade dói, mas hoje só consigo me lembrar da memorável cena de Snape, o lendário Alan Rickman. Aquela sim, de cortar corações.