Steven Soderbergh é diretor que trabalha com diferentes facetas em sua carreira. Há o diretor alternativo, que realiza produções de baixo orçamento como aquelas feitas em seus primórdios. Há o lado comercial e divertido que, ao lado do amigo George Clooney, produz histórias divertidas. E há uma terceira, que vem realizando panoramas temáticos em bons filmes como Traffic (sobre o tráfico de drogas) e Contágio (uma epidemia dissecada).
Terapia de Risco parecia ser mais uma dessas produções que exploram um tema específico transformando-o em história, normalmente dividida em diversas frentes para produzir um panorama crítico. Dessa vez, porém, o diretor optou por concentrar-se em uma única história sobre a relação entre médico e paciente e o uso de remédios controlados.
Na trama, devido a uma críse de ansiedade, Emily arremete o carro contra uma parede e é tratada pelo psiquiatra Jonanthan Banks, que, à procura de melhorar a condição da paciente, lhe receita um novo medicamento ainda em fase de testes.
Tem-se a impressão de que vamos assistir a uma crítica pontual a respeito da relação entre a psiquiatria e o uso excessivo de remédios controlados. Há estatísticas que apontam que o número de usuários destes medicamentos aumentam a cada ano, nos fazendo refletir que ou a população está se tornando mais infeliz ou médicos têm receitado tratamentos em excesso, mesmo quando outros processos mais amenos, como uma terapia tradicional, fossem suficientes para resolvê-los.
Médico e paciente estão em cena sem escolhermos um lado propriamente, até um grave acidente envolvendo a paciente que muda também a narrativa apresentada até aqui. O que poderia ser uma excelente trama sobre a potência industrial e comercial dos remédios controlados se torna uma trama de suspense em que médico tenta investigar o que de fato levou a paciente a provocar o acidente. Não bastando a mudança brusca, há uma reviravolta incômoda que parece improvisada.
Até um momento inicial a narrativa permanece neutra, apontando fatos e deixando o julgamento para o público. Mas a imparcialidade muda, dando espaço para o tom policialesco e conspiracional que eclode em uma boba cena de revelação, com elementos tão melodramáticos que não possuem verossimilhança nenhuma.
É como se o roteiro tivesse unido duas tramas distintas ou feitas por um roteirista que muda de personalidade no meio da escritura. Será essa a intenção de Soderbergh? Produzir um meta roteiro com um escritor bipolar para apontar como as doenças mentais estão presentes no mundo e que remédios podem ou não ajudar? Provavelmente não.
Mas, compostas de uma maneira a causar um impacto ativo no público, a trama perdeu a potência de produzir mais um panorama crítico como aconteceu nos dois citados filmes anteriores, resultando em uma história de final tão rasteiro que a qualidade da direção de Soderbergh pode passar desapercebida por alguns.