O Brasil não é um país com um histórico forte em animação. Em 1996 foi produzido Cassiopeia, filme em 3D feito no mesmo ano do primeiro Toy Story, mas pouca coisa foi feita desde então, o que torna surpreendente a excelência técnica de Uma História de Amor e Fúria.
O longa é a estreia na direção de Luiz Bolognesi, roteirista de Chega de Saudades e As Melhores Coisas do Mundo, e acompanha um homem (dublado por Selton Mello) ao longo de 600 anos de história, enquanto ele se encontra e desencontra de sua amada Janaína (Camila Pitanga). Anteriormente chamado Lutas, o filme salta através de momentos importantes da história do Brasil e termina com uma visão distópica do Rio de Janeiro em 2096.
É um roteiro pretensioso e reside aí o maior problema do filme. A narrativa começa com o conflito entre os tupinambás e os colonizadores portugueses, em seguida salta para a Balaiada (revolta de escravos que ocorreu no Maranhão no século XIX), o movimento estudantil de resistência a ditadura e por último para o ficcional grupo terrorista que busca democratizar o acesso à água, tornada o bem mais caro do mundo no futuro. Ao condensar quatro pequenas histórias em um filme que tem menos de uma hora e meia, Bolognesi planifica seus personagens e os transforma em estereótipos.
O protagonista e Janaína se tornam símbolos da luta contra a opressão e advogados da liberdade, mas não são nada além disso. Esse tipo de arquétipo, unido a história de amor imortal e as excelentes sequências de ação, funciona talvez com o público juvenil, mas Uma História de Amor e Fúria é também uma animação para adultos e assim, tanto os personagens como os diálogos acabam soando rasos e bastante ingênuos.
Outro problema é que o filme parece uma aula de história da oitava série: não há ambiguidades, a divisão entre oprimidos-bons e opressores-maus é absoluta e a história é inevitavelmente contada pelos vencedores. Há certamente um mérito nessa posição e na vontade de Bolognesi de explorar o outro lado da história brasileira, mas de novo, tudo se torna raso e superficial quando não existem zonas de cinza ou quando a vida interior dos personagens se resume à sua vontade de lutar. Esse maniqueísmo diminuí um pouco na última história, passada no futuro, que é de longe a melhor parte do filme.
Visualmente Uma História de Amor e Fúria é impressionante: o traço estilizado dos personagens e o detalhamento dos ambientes funciona muito bem. A trilha sonora, original em sua maior parte, mas com participação de bandas como Nação Zumbi, também é extremamente bem usada e reforça a sensação de que as sequências de ação são o ponto alto do longa. No entanto, a sensação final é de um filme com pontos fortes e que poderia ter ganhado muito se tivesse menos ambições, mas acabou um tanto plano, ingênuo e inseguro de seu público alvo.
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Texto de autoria de Isadora Sinay.
Lendo a crítica senti que é roteiro de comunista de butique. Pena…
O que seria um comunista de butique?
O filme do começo ao fim é uma brisa só. Principalmente os tais ” fatos históricos”, que nada mais era do que a história contada de forma ” politicamente correta”. A resenha do Omelete veio mais bem a calhar:
http://enfiaoomeletenocu.editordovortex.com.br
Ainda não vi o filme (pretendo ver amanhã), mas só um adendo: Sou professor de história de oitava série e na minha aula não acontece de eu ensinar uma história onde “não há ambiguidades e a divisão entre oprimidos-bons e opressores-maus é absoluta”.
A história hoje é uma ciência moderna que sabe lidar com essas dualidades e sabe que seu papel é retratar uma face da realidade, com seus atores e contradições, que é justamente o que a torna tão imprevisível, infinita e bela. =)
Foi uma figura de linguagem na verdade e peço desculpas.
Eu honestamente nem tinha aulas de história (bom, não aulas tradicionais, nem divisão de matérias, nem nada assim) na oitava série.
Hehehe, eu sei. Entendi e tava enchendo o saco. Eu sei que tem muito professor despreparado por aí, mas é que não é mais uma regra tão grande. Tem muita gente nova e boa dando conta do recado agora.
Só não entendi você não ter tido aula de história. Como assim? o.O
Em termos técnicos é excelente, em termos de roteiro é um pouco deficiente… um pouco, mas meu deus que animação linda você assisti e nem veêo tempo passar…
Eu pessoalmente não vi nada de pretensioso, podia elaborar um pouco mais a história, podia não focar tanto nas lutas de classes… mas pra proposta da animação o resultado é excelente. Brasileiro tem mania de depreciar o trabalho nacional. E não tem nada de comunistinha de facudade nessa animação.