As caracterizações do gênero
Normalmente se nomeia um gênero pelas características:
– Narrativa
– Caracterização dos personagens
– Temas básicos
– Ambiente
– Iconografia
– Técnicas
– Estilos
E a princípio, temos quatro grandes gêneros definidos por Aristóteles, que são: Comédia, Ação, e Tragédia/Drama e Thriller. Disso temos subgêneros, como o sci-fi, que normalmente se estabelece como drama por contar com embates existenciais, o papel do ser humano, seu destino e sobrevivência. Eventualmente há intercepção entre estes gêneros e subgêneros, como no caso da Soap Opera (Ex: Star Wars).
Elementos em comum não são o bastante para a categorização. Normalmente identificam-se certos elementos bem específicos para perceber um gênero. Mas esta é a forma como identificamos a criação de um gênero, que é sempre “a posteriori”, já que, em cinema, gênero sempre teve uma definição flutuante, pois um grupo de signos apenas se torna gênero de acordo com a percepção da crítica e do público. Você não cria um gênero, mas sim elege um gênero.
Agora os filmes com super-heróis: não formam um gênero
Tudo indica que o filme de super-herói não é um gênero em si, mas sim um gênero tautológico, ou seja, não existe realmente como gênero ou subgênero, mas apenas como formato.
O termo Tautologia vem da lógica proposicional, em que uma sentença é tautológica se for verdadeira para valores diferentes de suas variáveis. Em português isso ganha status de redundância, mas neste contexto é quando um gênero passa a depender de certos signos independente do seu tema ou de sua dinâmica. Por exemplo, cinema surrealista é um “gênero tautológico”, pois independente de ser comédia, ação ou suspense, tem signos redundantes em comparação com outros filmes surrealistas e que o identifiquem como “surrealista”, mesmo que isso não diga nada sobre o conteúdo, mas apenas sobre o formato. Algo parecido acontece com as “escolas cinematográficas”, que apesar de possuírem signos em comum não representam um gênero.
Tanto é assim que a saída dos estúdios para carregar o formato é atribuir gêneros com clichês mais bem definidos, mas usando como pano de fundo o mundo super-heroico. Você teve o filme de ação/assalto de Homem-Formiga, a aventura clássica de Capitão América: O Primeiro Vingador, o thriler político de Capitão América: Soldado Invernal e diversos outros expedientes para protelar essa deterioração do formato.
A moda e seu ciclo
Certa vez, um amigo disse ter lido que Hollywood tira leite de uma vaca até secar e, quando o leite acaba, sacrifica a vaca com a paródia. Em meados dos anos 30, após um período de intensa popularidade, os Monstros da Universal só sobreviveram na forma de filmes que parodiavam esses monstros.
E é mais ou menos assim que funciona, pois podemos delimitar as seguintes etapas do ciclo:
– Enunciação
– Solidificação
– Apogeu ou Era de Ouro (Etapa onde geralmente surgem os clássicos)
– Fórmula (Era dos tais “filmes eficientes”. Acontece quando o cinema já entendeu o que funciona)
– Dissolução / desconstrução / crítica (Autorreferência, incômodo com o status quo)
– Retomada / hibridização / sátira (O cinema ri de si mesmo e mostra o ridículo de seus clichês)
A aplicação disso é não linear. Claro que surgem filmes antecipando essas etapas, mas a historiografia do cinema dá base a esse ciclo, como o cinema noir, que começou como uma espécie de paródia.
Deadpool estreou com valores e recordes para o mês, para uma obra de classificação Rated-R, próximo de completar U$ 55 milhões em sua segunda semana de exibição, totalizando U$ 235 milhões, ultrapassando o até então vencedor da Fox entre os super-heróis X-Men 3: O Confronto com seus U$ 234 milhões. Mundialmente é o segundo da franquia, atrás apenas de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido. O filme também quebrou todos os recordes para o mês de fevereiro, considerado um mês ruim para o cinema.
Isso resume o filme num grande sucesso para seu orçamento abaixo dos U$ 60 milhões, com uma campanha de marketing genial por ser concisa e utilizar-se das redes sociais e do carisma de Ryan Reynolds como poucas campanhas conseguiram. A que mais se aproximou deste sucesso em rede foi a de Batman: Cavaleiro das Trevas, no já longínquo 2008, utilizando uma complexa campanha viral que incluiu corridas de caça a uma maleta do Coringa pelas principais cidades do mundo.
Mas talvez o sucesso de Deadpool reflita uma questão bastante comum em Hollywood que se assemelha ao ciclo da moda nas passarelas. Assim como os estilistas, estúdios visam antecipar tendências e, quando possível, criá-las. Não à toa, é comum em um mesmo ano haver diversos filmes de uma mesma espécime ou até mesmo personagem (dois filmes do Mogli esse ano e um muito semelhante chamado Meu Amigo Dragão, bem como alguns filmes sobre o personagem Tarzan). E assim como a moda volta, se estabelece em ciclos que relativamente se repetem a cada determinado período de tempo, fazendo voltar inclusive as terríveis calças saruel, o cinema, a música, games e demais formas de cultura.
O melhor exemplo deste tipo de ciclo, ou a forma mais simples de identificar a questão, talvez seja a música. Como uma variação e releitura do blues, o rock n’roll surgiu como uma resposta à música conservadora dos anos 50. Mas pelo dinamismo cultural e novas influências ele sofreu uma nova variação, mais pessimista e menos festiva (punk, entre outros), que foi se estilizando mais até ficar uma autorreferência, e então virar uma paródia de si em larga escala e mais popular (emo), sendo este o final do ciclo. Nesse ponto, o mercado esgotou-se, e aí o gênero precisa se reinventar.
A paródia dos filmes de super-heróis
A paródia nos filmes de super-heróis como apontamento do fim do ciclo modal se deu bem antes, com Shane Black em Homem de Ferro 3 fazendo Tony Stark invadir covis usando armas feitas com brinquedos, e a gag do vilão étnico super poderoso, que no fundo não é tão super poderoso ou ameaçador assim. Ao antecipar-se ao momento de fim de ciclo, e pela falta clara de homogeneidade e estrutura narrativa, o filme levou duras críticas, mas principalmente pelos motivos errados. O vilão de brincadeira/ ator falido era apenas uma autorreferência de o que é um filme de super-herói.
Em 1989 surgiu Batman, dirigido por Tim Burton, com uma proposta bem específica e concebida. Com o passar dos anos e tentativas fracassadas de estabelecer filmes semelhantes, os filmes do Batman foram ganhando contornos cada vez mais suaves, recebendo finalmente a sua paródia em 1998 com o filme Batman & Robin, por Joel Schumacher. Em 2000 surgiu X-Men com um argumento muito mais sério e baseado no subgênero sci-fi, o que ajudou a dar o tom das próximas adaptações em conjunto com Homem-Aranha, de 2002.
Após Homem de Ferro 3 como representante da desconstrução do formato, pode-se olhar para Kick-Ass, Guardiões da Galáxia, Homem-Formiga, e até mesmo Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), bem como Super, filme de James Gunn anterior a seu estrelato, como exemplos do mesmo momento. Estes filmes todos estariam então representando a dissolução do cinema de super-herói, e Deadpool é um passo além de todos esses ao estabelecer um teor autocrítico extremamente contundente. Para desespero ou não, sátira, ou autocrítica, é a etapa que surge antes da paródia dos irmãos Wayans.
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Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.
Bacana.
então a video locadora do meu bairro estava errada por colocar uma prateleira: filmes de tubarão kakakka
hahahaha, pois é. Principalmente agora que a paródia que temos Sharknaldo bombando.
O problema é que os irmãos Wayans já fizeram seu filme de super herói…
Sim, mas a própria comédia atende a esses ciclos. Os irmãos Wayans estão se aproveitando da fórmula que estabeleceram em Todo Mundo Em Pânico. É quase que uma franquia pra eles, mas já anunciaram esses dias que dariam um tempo das paródias.
Mas ano que vem ainda tem Mulher Maravilha, Liga da Justiça e Thor 3 não esquecendo dos Power Rangers.