Confesso que tinha grandes expectativas quanto a esse livro. Afinal, antes de lê-lo eu já havia terminado o seu respectivo jogo e estava a procura de detalhes e contextos escondidos sobre a história que nele é narrada. No entanto, ao invés de encontrar um aprofundamento daquilo que já conhecia, me deparei com um livro repleto de ação e aventura, mas pouca parcela daquilo que realmente procurava. Não encontramos algo que vai além daquilo que foi jogado, mas apenas uma parcela do mesmo.
Veja bem, não sou contra livros frenéticos que contam com os atos heroicos e as cenas de ação como sua base de funcionamento, mas não era isso que esperava nesse capítulo final da grande saga de Ezio Auditore da Firenze. Na maior parte do tempo, somos agraciados com batalhas e o esforço do personagem de ir contra aquela velha e interminável luta contra os templários, e muito pouco sobre o que essa luta representa.
Não nego que a obra tem seu valor histórico ao contextualizar acontecimentos “reais” àquilo que o protagonista passa, e confesso que a jornada realizada por ele não poderia ser realizada com menos descrições sobre as batalhas realizadas, mas ainda assim o autor peca ao utilizar-se desse recurso tantas vezes que faz com que a leitura torne-se, em um nível desagradável, tediosa. Afinal, quando se trata de cenas frenéticas de luta, compensa muito mais estar jogando e interagindo do que apenas lendo isso várias e várias vezes, correto?
Não se trata de ritmo – afinal, isso é uma das coisas que não falta -, mas sim de equilibrar os acontecimentos com aquilo que o protagonista está pensando e sentindo. Ezio dificilmente é meu personagem favorito da série de Assassin’s Creed, mas não nego sua capacidade e seu valor para a história. No entanto, creio que pouco de sua natureza se manteve desde o segundo jogo – ou desde o livro Renascença, que é o equivalente -, e apesar de existir o argumento de que ele se desenvolveu a partir daquilo que viveu, creio que Ezio não apresenta nem metade das cicatrizes psicológicas que deveria carregar seja no Revelações ou então no seu predecessor – Irmandade.
Há algo que eu sempre procuro manter em mente quando estou acompanhando uma história, e é “A Jornada do Herói”. Muitas vezes essa jornada descrita é a fórmula para o sucesso, e não se trata de fazer uma história com o mesmo elemento de todas as outras, mas sim seguir uma linha lógica para montar sua trama e, muitas vezes, os autores o fazem sem nem perceber, porque é assim que se deve ser criado um herói. Mas, veja bem apesar de ser uma fórmula para o sucesso, há atualmente vários autores que não utilizam desse “artifício” e ainda assim estão ganhando espaço na literatura. Porém, é preciso ter uma maestria muito grande para não utilizá-la ou até mesmo para utilizá-la de maneira correta.
Dito isso, vamos ao que mais incomodou nesse livro: as inconsistências do protagonista. Sim, eu tenho consciência de que muitos dos que acompanham a série são incríveis fãs de Ezio e a coisa toda, mas antes que possam me ver como um hipster sem querer seguir a onda mainstream que é venerar Ezio como um assassino, devo dizer que a inconsistência não é do personagem como um todo, mas sim apenas nesse último livro de suas aventuras.
Quando conhecemos Ezio, em Renascença (ou no segundo jogo), adquirimos uma simpatia imediata por sua natureza jovial que, de certa forma, é mantida mesmo após sua vida ser amaldiçoada pela morte de parte de sua família, e nele somos agraciados com a Jornada do Herói da maneira que já foi muitas outras vezes apresentada, mas ainda assim tornou-se única com os aspectos de Ezio e o universo de Assassin’s Creed. Há traços disso em Irmandade, também, mas em Revelações somos entregues à um protagonista amargurado e sentido pelo efeito que o tempo causou em seu corpo e mente. Está certo, tem sempre a possibilidade de que, com a idade, suas ideias amadureceram e ele está cada vez mais cansado, mas sou fiel a ideia de que todo personagem tem sua natureza imutável e que vai prevalecer independente do contexto em que o personagem se aplica. Podendo ser acentuada ou abafada, mas nunca completamente esquecida (ou aniquilada).
Porém, se o problema fosse apenas a questão do psicológico que a idade trouxe, tudo ficaria um pouco mais aceitável. No entanto, o corpo envelhece junto com a mente, não é mesmo? O autor também compreende isso, e coloca muitas vezes que Ezio não se move como outrora ou então não carrega os mesmos reflexos de antigamente. Mas, ainda assim, isso não o impede de lutar contra um exército de templários e derrubar vários deles antes de ser derrotado e tampouco de ser jogado de uma carroça barranco abaixo em um momento, contendo na própria narrativa que sentia o corpo todo doer intensamente, enquanto em um outro logo em seguida ele está correndo, pulando, se escondendo e acertando a bala no joelho de alguém em movimento.
Sim, ele treina desde sempre para ser aquilo que é, mas não acho que seja adequado colocar que as coisas não são como antigamente e ainda assim o protagonista fazer coisas que pareçam inumanas até mesmo para o mais fantasioso dos homens. Afinal, ele é apenas um humano como todos os outros e, aceite essa ideia, ele está velho, mas ainda assim tem a disposição que muitos atletas nunca conseguiriam alcançar. Infelizmente, não se pode ter tudo, mas ainda assim Ezio o tem, e é por isso que achei o personagem desse livro inconsistente de várias formas.
A narrativa utilizada é incrivelmente simples e rápida, sem se perder muito em detalhes desnecessárias, mas ainda assim sem parecer seca e incômoda. Apesar de seu ritmo de ação desde o começo, a trama ganha profundidade e um ávido terreno quando chegamos às etapas finais do livro, que é quando somos levados para os episódios finais de Altaïr, o responsável por fazer os assassinos o que são “atualmente”. E é basicamente quando entendemos o significado do título e sobre quais revelações o autor está querendo mencionar com isso.
Apesar dos pesares, os momentos finais da leitura dão uma sensação de saudade e perda para quem acompanhou a história de Ezio desde o começo. Nesses momentos finais, o livro traz mais do que é apresentado no jogo, apresentando um fim real àquele protagonista que estávamos acostumados a ver em ação. É, em vários aspectos, uma boa despedida para Ezio, mas não sei se chega a ser a ideal para alguém tão icônico.
Em resumo, devo dizer que, como livro, Assassin’s Creed: Revelações é um ótimo jogo. Penso que talvez a leitura tivesse sido muito mais agradável caso as medidas quanto aos acontecimentos fossem um pouco melhor dosadas entre ação/sentimento, para que não parecesse ter muito de um e quase nada do outro. Ainda assim, vale a pena conferir pelos pequenos detalhes que não são mostrados ou apresentados no jogo e aprender um pouco mais sobre Ezio e os assassinos de antigamente.
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Texto de autoria de Thiago Suniga.