O Astronauta (Pereira), também conhecido apenas como Astro, é um dos personagens mais famosos de Maurício de Souza, junto do Chico Bento, Penadinho e outros ícones dos gibis brasileiros. Por isso, uma releitura da figura azul e laranja que ama explorar o universo e seus limites deveria estar à altura de suas clássicas aventuras, repletas de imaginação, senso de questionamento e desejo de exploração. Tal qual um Indiana Jones intergaláctico, Astro é sozinho para o Brasil o que a destemida turma de Interestelar foi para os Estados Unidos, no filme de Christopher Nolan. Um grande motivo de orgulho e admiração para o seu povo à espera do seu retorno, numa missão fantástica rumo ao centro de um buraco-negro que, desta vez, o eterno apaixonado pela Ritinha do bairro do Limoeiro vai ter que contar com uma ajuda inesperada.
Ao regressar dos confins do espaço, ferido e doente após os eventos da ótima história Magnetar, Astro é resgatado por uma equipe estrangeira que ajuda o homem a se recuperar, física e psicologicamente (a história nunca revela qual é essa nação). Para agradecer e mostrar diplomacia pela assistência amistosa ao maior astronauta do Brasil, a BRASA (agência secreta com os mesmos fins da NASA americana) decide enviar o seu principal cientista junto de um misterioso agente militar deste país, o Major, e de quebra ainda obrigam o Astronauta a alojar em sua nave uma sensível psiquiatra para analisar de perto as condições psicológicas do nosso herói, ainda cheio de obstinação para dar e vender. Nunca a nave redonda e dourada transportou tanta gente (“Isso está parecendo um ônibus!”), mas tudo é válido em prol da ciência. Tudo, mesmo?
Singularidade pode enganar quem acha que a história é apenas um conto didático sobre um dos maiores enigmas do universo: buracos-negros, um fenômeno que desafia a física ao sugar tudo ao redor de si, desde meteoros até planetas inteiros, logo após a explosão de uma gigantesca estrela que o forma em uma constante expansão destruidora. Nada escapa de sua fome, e o que parece ser apenas uma exploração científica rapidamente torna-se uma exploração sobre a natureza tão imprevisível do homem, quanto a do próprio universo e o seu caos gigantesco, sempre reordenando o vazio, as estrelas e a vida. Em certo momento, a Doutora e o Astronauta entendem que a missão não será tão fácil assim, uma vez que a ambição e a ignorância humana não têm fim e podem botar tudo a perder, ainda mais quando uma nave (ou seria uma sonda?) alienígena aparece para atrapalhar tudo.
O roteiro e as ilustrações delirantes de Danilo Beyruth são sob medida para orgulhar não apenas Maurício de Souza, mas o público que sempre seguiu as peripécias do Astronauta e, agora, ganha a oportunidade de se deleitar com uma abordagem mais dramática e espetacular, porque não, deste verdadeiro símbolo da ficção-científica brasileira. A editora Panini continua com um impecável trabalho gráfico em Singularidade, ofertando a história um tratamento estético de cores e texturas digno de se rasgar elogios. Beyruth se supera em comparação a Magnetar, e prova aqui ter um talento especial de revitalizar e expandir o nosso encantamento para personagens já solidificados no imaginário popular do Brasil. O Astronauta aqui segue em boas mãos, caso ele consiga (de fato) escapar de onde nem mesmo a luz consegue fugir.
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