A longevidade de uma equipe assinando um título, comumente, marca uma continuidade elogiada por considerarmos que o tempo também denota sucesso, e ainda fornece espaço suficiente para que um roteirista e um desenhista desenvolvam seu estilo. Em contrapartida, há passagens que são marcadas por sua brevidade destacada, pela alta qualidade que causaram impacto em seu lançamento e permaneceram no cânone. Um exemplo desta afirmativa é a breve fase em nove edições de Roger Stern e John Byrne à frente de Capitão América, resultando em, ao menos, duas memoráveis histórias.
Como era costume nos quadrinhos antigamente, as tramas não possuíam nomes específicos como as sagas que são lançadas progressivamente hoje. A passagem da dupla por Captain America nunca ganhou um título oficial. Nos Estados Unidos, um encadernado lançado em 2007 intitula-a como Captain America: War & Remembrance. No Brasil, a fase já foi lançada pela Panini Comics no volume único de Maiores Clássicos do Capitão América, sem nenhum nome formal. Recentemente, a Salvat lançou os números em sua coleção vermelha sob o nome O Ódio Se Chama Sangue, referência mantida neste título. De qualquer maneira, o público conhece esta edição como aquela que contém a história de Capitão América como presidente dos Estados Unidos.
As nove edições acompanham quatro histórias distintas, duas delas focadas no lado aventureiro da personagem e duas em uma vertente mais subjetiva, analisando o significado de sua figura heroica. A primeira trama, À primeira luz da aurora!, é a mais fraca delas, com um vilão computadorizado que, como os tradicionais vilões quadrinescos, deseja destruir o Capitão América. A segunda trama nesta abordagem, com uma equipe mais entrosada, tem maior carga de efeito e, explorando uma vertente que hoje não está presente nas tramas do estúdio, compõe uma boa aventura.
A edição mais conhecida é aquela que coloca o herói como um possível candidato à presidência do país. Capitão Para Presidente! é um interessante olhar sobre a figura do Capitão América a partir da ótica pessoal de Steve Rogers, que analisa como as virtudes de uma única pessoa se confundem na composição de um líder natural e, por consequência, um candidato supostamente ideal como representante máximo dos Estados Unidos. A trama versa sobre a força da personagem como um símbolo que demonstra um ideal americano puro mas que, não necessariamente, se posta como força política. Saindo do contexto da época, a história ainda é potencialmente forte, ainda mais se contrapormos a composição atual da personagem, que tangencia parte do american way of life para ser um maior símbolo de liberdade, explicitando-a como um direito inerente ao homem, e não apenas a um conjunto de regras e leis americanas.
Após essa reflexão, a trama retoma a vertente aventuresca inserindo Stever Rogers em uma incursão pela Inglaterra, ajudando um antigo amigo, na época em que fez parte da brigada britânica. Mesmo neste lado mais aventureiro e simples, a personagem e a tônica da história funcionam pela boa composição narrativa. Por fim, a passagem de Byrne e Stern encerra com uma aventura que explora a tradicional e repetida vertente da origem, além de comemorar os 40 anos da personagem. Um processo que se tornou natural na evolução dos quadrinhos para que a biografia do herói sempre esteja conectada com o estilo vigente da narrativa.
As transições de estilo dentro destas nove histórias provam a versatilidade do roteirista, bem como a composição desse clássico herói pode ser formatada para diferentes abordagens que enriquecem sua trajetória. Mesmo criado como um ideário americano, Capitão América conseguiu se expandir para além de uma propaganda de uma cultura hegemônica.