A história dos quadrinhos nacionais esbarra na própria história do cartunista brasileiro Angeli. Considerado um dos mais influentes quadrinistas do Brasil, Angeli criou inúmeros personagens que já fazem parte da nossa cultura como Bob Cuspe, Rê Bordosa, Mara Tara, Os Skrotinhos, Wood & Stock, e tantos outros que colocaram o artista como referência no quadrinho nacional, ao lado de nomes como Laerte e o saudoso Glauco.
Angeli foi o fundador da revista Chiclete com Banana, criada na década de 1980 e um marco para o mercado editorial de quadrinhos nacionais, tendo em vista a liberdade dos artistas para abordarem o que bem entendessem, mas acima de tudo a análise comportamental do ser humano sob uma ótica visceral da época. Nas páginas da Chiclete com Banana diversos personagens foram criados, boa parte dos já citados, além de tantos outros.
Contudo, as charges políticas que produziu para a Folha de São Paulo são consideradas por muitos o trabalho mais contundente de Angeli. Há décadas o artista publica seu trabalho na página dois da Folha, e desde então não poupa ninguém e nunca escolheu um lado fácil para tecer suas críticas políticas.
Desde 2001, Angeli vem dedicando seu humor ácido em face da política internacional norte-americana e os conflitos no Oriente Médio após o 11 de setembro. A política de guerra ao terrorismo de George W. Bush não é poupada, sempre retratando os anos 2000 como um período sujo, marcados pela presença constante de sangue e de um tratamento à vida humana como meros peões em um grande jogo de xadrez.
O traço de Angeli retrata muito bem esses anos, sujo e visceral, mas ao mesmo tempo com um acabamento que denota a diversidade de estilos do autor. Sua arte na maioria das vezes não precisa de texto, fala por si só. A mensagem é clara. Nada é poupado, seja governos, crenças, ideias, Angeli atira para todos os lados, e absurdamente, quase sempre acerta.
Todas essas charges são reunidas no álbum O Lixo da História, publicado pela Quadrinhos na Cia. em uma coletânea que faz jus ao conteúdo interno. A edição conta ainda com uma linha do tempo para entender melhor o contexto histórico relacionado com as charges publicadas.
Angeli se mantém implacável: não nos deixa esquecer que os anos 2000 passaram muito longe de ser um período de paz em nossa história e relembra como vidas humanas são subvalorizadas em prol de interesses financeiros ou de poder.