Stan Lee é um nome que dispensa qualquer apresentação. O que muitos talvez não saibam, porém, é que ele tem estado bastante ativo nos últimos anos. Além das aparições nos filmes da Marvel, “The Man” esteve em alguns projetos para a televisão e nunca deixou de lado os quadrinhos. O Viajante, publicado originalmente nos EUA pela Boom! Studios como uma série em 12 números, chega agora ao Brasil com suas quatro primeiras edições reunidas em um encadernado. O lançamento é da Mythos Editora, pelo selo Mythos Books.
A história mostra o surgimento de um misterioso super-herói denominado Viajante, que aparece para impedir que vítimas aparentemente aleatórias sejam assassinadas por seres superpoderosos chamados de Homens Nanossegundos. Com diversas habilidades ligadas à manipulação temporal, O Viajante parece saber exatamente onde e quando os vilões vão atacar, e demonstra ter objetivos próprios muito mais complexos do que simplesmente bancar o bom samaritano.
Apesar de estar creditado somente como co-criador, e os roteiros propriamente ditos serem de Mark Waid (de O Reino do Amanhã e diversas outras histórias ao longo das últimas décadas), o estilo de Lee é curiosamente mais identificável que o de seu colega. A começar pelo didatismo bem anos 60, quando o Viajante explica seus poderes em longos discursos e monólogos. É algo que hoje gera uma estranheza, mas não chega exatamente a incomodar. Outro ponto é que o herói se mostra bem-humorado, faz piadas em vários momentos, mas esconde uma tragédia pessoal como motivação pra seus atos. Alguém aí pensou “Peter Parker”?
Mas aquilo que talvez seja o maior carimbo do lendário escritor seja fazer de O Viajante uma história de super-herói. Pois, analisando friamente, isso não era necessário. Tirando o herói e os vilões usarem uniformes estilosos (sem razão aparente ou estranheza por parte de um mundo, até aquele momento, normal), a trama é toda de ficção científica. O Viajante não salva ninguém só por salvar, não faz nenhum ato heroico que não seja perfeitamente calculado para preservar o fluxo temporal. Ele é, então, um verdadeiro “herói”?
Talvez isso seja melhor explorado nas próximas edições. O que temos por enquanto é uma boa história, com ritmo ágil e conceitos interessantes de viagem no tempo, sugerindo algo cíclico mas ao mesmo tempo deixando em aberto a possibilidade de modificações. Além, é claro, das questões muito familiares envolvendo poder, responsabilidade, perda e sacrifício. Os desenhos são de Chad Hardin, ainda pouco conhecido apesar de ter feito alguns trabalhos para a Marvel e a DC. Aqui, sua arte é totalmente genérica dentro do que se vê em comics, mas pode ser elogiada por ser “fácil aos olhos”, ajuda na fluidez da narrativa.
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Texto de autoria de Jackson Good.