Perpetuum mobile, ou moto continuum, é o termo em latim para o sonho utópico dos engenheiros: a máquina de movimento perpétuo. Essa máquina hipotética utiliza – e reutiliza – a energia gerada pelo seu próprio movimento. Apesar da impossibilidade física de existirem – ao menos segundo as leis da física do nosso universo – há ainda quem persiga a construção de tais dispositivos.
Neste quadrinho – lançado inicialmente por financiamento coletivo e agora republicado pela editora Mino – Martin é um eterno insatisfeito. Na cidade fictícia de San Juarez, é ele que vive em moto contínuo, em busca de uma vida que o satisfaça. Suas escolhas podem não ser as mais acertadas, mas ele continua tentando. Em busca de um novo emprego, de um novo relacionamento, de novas experiências. Mas o que fazer com essa busca incessante quando o fim do mundo chega?
A narrativa não-linear confunde um pouco e pede uma segunda leitura. Mas, a menos que eu esteja redondamente enganada na minha interpretação, a história é um recap dos últimos meses de Martin – algo como o clichê da vida passando diante dos olhos numa situação de perigo ou naquele último instante antes da morte. Vendo por esse lado, faz sentido a não-linearidade da história, uma vez que em situações extremas é implausível que as recordações se organizem em ordem cronológica, aliás, é improvável que sequer se organizem.
Além da narrativa não linear, há várias digressões do protagonista, que começa a conversar com um amigo imaginário – uma personificação daqueles diálogos internos que todos nós temos. Demora um pouco até o leitor perceber que é disso que se trata – mais um bom motivo para investir numa segunda leitura.
Sobre o desenho, vale reparar como Diego Sanchez conduz o olhar do leitor. Mesmo se em alguns momentos o conteúdo seja confuso, não se pode responsabilizar a disposição dos painéis, que dá fluidez e, ao mesmo tempo, agilidade à leitura.
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Texto de autoria de Cristine Tellier.
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