O volume 2 de Planetary, lançado pela Panini, compreende os números 7 a 12 do título original. A primeira história, denominada A Morte de Jack Carter, é um pequeno conto que mostra um pouco do passado amoroso de Jakita. Os poderes do personagem falecido não são totalmente explicitados, mas nota-se, por meio do depoimento de um inimigo de proporções sobre-humanas que o perseguia, que Carter despertou a homossexualidade latente do personagem e a escancarou, além de mostrar a si sua origem como fruto de uma bizarra experiência criada por Hitler — tais elementos evidenciam a falta de escrúpulos do ditador, e esse background curioso cai por terra diante de sua iminente morte e do retorno de Jack, que reúne em torno de si um estereótipo ligado a John Constantine e, depois, à figura não definida entre Spider Jerusalem, o protagonista de Transmetropolitan, e o escritor Grant Morrison, amigo e grande referência de Warren Ellis.
A partir do número 8, John Cassaday passa a ter mais liberdade como criador e não decepciona, apresentando uma arte estupenda e exuberante. Mais uma vez, Ellis apela para o cinema dos anos 50 com Atomic Horror e animais gigantes, que mantinham-se escondidos desde dos anos 60, década em que este tipo de cinema perdeu muita popularidade. A Cidade Zero, cenário da aventura, era um campo de concentração para americanos dissidentes, onde os capturados eram submetidos a experiências terríveis pós-morte. A paranoia anticomunista ganha ares de teoria da conspiração transformada em realidade, e é elevada a um ponto incomensurável, mostrando a maldade inerente ao homem de uma forma absolutamente cruel. Allison, a narradora da história e um dos experimentos, só se vê livre para despedir-se da vida após comunicar ao Planetary o seu epitáfio.
O mistério do Quarto Homem seria revelado neste encadernado — como o nome da publicação deixa claro —, e a introdução de Ambrose Chase, antecessor de Snow, serve para revelar algumas pistas relacionadas ao grande e grave mistério. Há alusão ao incógnito patrão, enquanto a história trabalha recursos metalinguísticos como o mote e o cerne da aventura. O vilão William Leather volta a aparecer, e dessa vez com o objetivo de “apagar” um alienígena superpoderoso vindo de um planeta condenado. Além deste, é destruída uma amazona, vinda de uma sociedade super evoluída, e que finalmente se revela aos homens um ser de outro planeta, afirmando-se parte de uma equipe militar — paralelos claros ao Superman, Mulher-Maravilha e Lanterna Verde. Reduzindo estas analogias a seres genéricos, mostra-se que os seres mais poderosos do universo DC não funcionariam necessariamente no universo Wildstorm — lição que, invertida, poderia ser aprendida pelos editores dos Novos 52.
Na quinta história o Planetary passa a interagir com alguns personagens secundários do outro produto escrito por Ellis: Stormwatch/Autorithy. Snow tem contato pela primeira vez com John Stone — um misto de James Bond com Nick Fury — com o qual se reencontra algum tempo depois no Cazaquistão, onde discutem sobre William Lether. O mundo estava diferente, logo o título da trama evidencia isso: Cold World, uma referência ao fim da Guerra Fria, que ao invés de ser deixada para trás, teria se ampliado e conquistado ares globais.
Aos poucos, os mistérios envolvendo o centenário alvo vão se desenrolando, assim como as memórias reprimidas pelo “grupo secreto” também de desbaratam. Elijah Snow volta a ter acesso a suas memórias antes “apagadas” e descobre muitas coisas, entre elas a identidade do quarto homem de Planetary, juntando as peças que faltavam para explicitar o que para o leitor já era claro há tempos. No entanto, o motivo que o fez reprimir tais lembranças ainda era vago e só seria exposto nos últimos números do título. As atitudes do personagem mudam a partir daí, obviamente levando-o a perseguir as lacunas que faltam ser preenchidas.
A riqueza em referências permanece presente e as histórias dentro das histórias ganham um acréscimo considerável, dando um grande salto qualitativo numa trama que já se apresentava muitíssimo bem urdida. Planetary pode não ser a produção mais elogiada pelos fãs de Warren Ellis, mas certamente é uma das mais inspiradas.