Falar de Richard Sorge é falar de história, de União Soviética e de Segunda Guerra Mundial. Dito isso, esclareço que qualquer resenha sobre Sorge, O Espião, publicação da Editora Veneta, seria rasteira sem um breve adendo biográfico sobre sua importância histórica.
Filho de pai alemão e mãe russa, e nascido em Sabunchi, no Azerbaijão – até então, parte do Império Russo -, muda-se para a Alemanha quando ainda tinha três anos. Motivo pelo qual em 1914 voluntaria-se para lutar na Primeira Guerra Mundial, entrando para um batalhão da artilharia alemã. No conflito, fica gravemente ferido em março de 1916, e é promovido a Cabo, condecorado com a Cruz de Ferro, honraria militar pelo reconhecimento aos serviços prestados à nação, e depois enviado para casa.
Em 1925, muda-se para Moscou e entra para o Partido Comunista Soviético. Apenas cinco anos depois é enviado para a China como jornalista independente, mas com o objetivo real de prestar serviço de espionagem ao Exército Vermelho e familiarizar-se com a Ásia. Três anos depois se instala no Japão, já como jornalista prestigiado e passa a reunir informações sobre as relações entre Japão e Alemanha.
Curioso? Como de herói alemão, Sorge entra para a história como o mais importante espião de todos os tempos? Difícil saber. Os historiadores relatam que, após a dispensa militar, passou a questionar a guerra e se aproximar da literatura marxista, talvez por conta do seu tio-avô, Friedrich Adolph Sorge ser mundialmente conhecido por sua colaboração ao lado de Karl Marx, no movimento operário e abolicionista nos Estados Unidos, e secretário da Primeira Internacional Comunista. A semente havia sido plantada e o tempo tratou de germinar.
O álbum que temos em mãos não se trata de um documento biográfico sobre a história de Sorge, mas apenas um breve período dela, mais precisamente após se instalar no Extremo Oriente no início dos anos 1930 e as relações que mantinha com a embaixada alemã no Japão.
A autora responsável pela obra é a alemã Isabel Kreitz, eleita no Comic Festival de Hamburgo de 1997 a melhor quadrinista nacional, e infelizmente, pouco conhecida no Brasil, reconhecida apenas por sua participação no álbum Elvis, de Reinhard Kleist (também conhecido pelas suas biografias de Johnny Cash e Fidel Castro), publicada pela 8inverso Comics. Kreitz desenvolve a trama sob o ponto de vista de Sorge e personagens que orbitam à sua volta.
De persona difícil, Sorge vivia cercado de belas mulheres, e era conhecido pela sua faceta de bon vivant e beberrão, porém dono uma integridade enorme. Difícil sabermos o quanto dessa personalidade não fazia parte de seu disfarce como jornalista internacional renomado e o que, de fato, era autêntico, contribuindo ainda mais para a típica caracterização de espiões criada por autores como Ian Fleming, Tom Clancy e tantos outros.
Na trama, conhecemos um pouco do dia-a-dia de Sorge e sua rede de contatos a partir dos testemunhos de seus personagens, seguindo um formato documental onde a narrativa é intercalada por esses testemunhos, até culminar nos acontecimentos que provavelmente foram a maior razão que impediu a vitória dos nazistas na Segunda Guerra, segundo diversos historiadores e jornalistas.
Os desenhos de Kreitz são duros, retrato do tempo em que a história de Sorge é ambientada, repleto de sombras constantes, como num clássico conto noir dos anos 1930 e 1940. O traço forte e branco e preto do lápis casa com a crueza histórica da personalidade contraditória de Sorge. O álbum conta ainda com uma pequena biografia do espião, escrita pelo jornalista e pesquisador Frank Gieese, além de contar com um quadro que resume o destino de boa parte da rede de colaboradores de Sorge.
Acima de um importante relato histórico, Sorge, O Espião é uma bela narrativa sobre amor, dramas e ideias, questões comumente esquecidas atualmente.
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