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  • Resenha | A Santa Aliança – A. J. Kazinski

    Resenha | A Santa Aliança – A. J. Kazinski

    Teorias da conspiração sempre se transformam em um rico tecido especulativo cujo objetivo é desconstruir ou reformular a história oficial de um evento. Acrescentando elementos de intriga e movimentos secretos com poucos envolvidos, motivo pelo qual sempre se torna um tema curioso e um assunto passível de discussão. Quando inserimos a literatura dentro desse conceito, observamos que diversos thrillers partem de uma espécie de suspense conspiratório para atrair o público e desenvolver sua tensão, mistérios fundamentais para produzir uma boa história.

    O gênero foi impulsionado desde o lançamento de O Código Da Vinci, em 2003. O maior sucesso de Dan Brown não trouxe apenas as teorias conspiratórias em cena como inspirou diversos outros produtos que utilizavam a intriga com inferências do passado como mote. Histórias curiosas que, nem sempre, mantinham-se na qualidade, afinal, o que estrutura uma boa narrativa do gênero é a capacidade de equilíbrio entre a ficção e a base histórica que ganha um novo sentido na trama.

    Reforçando tal afirmativa, os roteiristas Rønnow Klarlund e Jacob Weinreich, retornam ao pseudônimo A. J. Kazinski para mais um bom thriller, dessa vez, valendo-se da potência de uma conspiração. Lançado pela Tordesilhas, A Santa Aliança é o terceiro livro da dupla (os anteriores foram O Último Homem Bom e O Sono e a Morte). A trama acompanha a jovem jornalista Eva Katz se readaptando na vida após a perda do namorado, um soldado no Afeganistão, e um emprego como repórter. Inserida na reabilitação de trabalho da Dinamarca, é realocada para trabalhar em uma creche e, em seu primeiro dia, impressiona-se com um desenho infantil sobre um assassinato e começa a investigá-lo, descobrindo uma história que envolve uma rede de segredos de grupos poderosos na sociedade dinamarquesa.

    A narrativa trabalha com qualidade os clichês de uma história de suspense e as bases do gênero policial, colocando sempre a investigação em contraposição com os homens que tentam detê-la. Embora a personagem seja uma jornalista, é o faro pela verdade, um senso que jornalistas e detetives ficcionais têm em comum, o elemento que propulsiona a história. Porém, o grande mérito da obra é a capacidade de desenvolver a psicologia das personagem a um ponto crível, além do mistério. Um fator que justifica com maior ênfase o porquê a jornalista se vê obcecada em descobrir os fatos. As perdas anteriores de sua vida, como a traumática morte do marido, são retratadas de maneira franca em lembranças que evocam a beleza da memória e, ao mesmo tempo, a dor de alguém que, ainda, não superou o passado. Não a toa, a personagem se agarra na investigação como um momento lúcido em sua vida. Tal efeito, a profundidade psicológica de Katz, envolve o leitor além do mistério, estabelecendo um reconhecimento diante de alguém que passou por difíceis momentos traumático.

    O bom background da personagem se equilibra com a inserção da realidade em uma conspiração que remonta desde a fundação da Santa Aliança, coligação criada no Século XIV pelas potências monárquicas da Europa. Um momento histórico com potencial para desenvolver intrigas entre governos, mantendo a credibilidade da narrativa sem o excesso de distorções históricas como Brown faz para inserir mensagens implícitas em objetos de arte e documentos diversos em suas narrativas com o professor Robert Langdon.

    Como a trama se passa em um breve período, dividido entre as ações diárias de cada personagem, a ação é composta de maneira rápida, encadeando descobertas da jornalista e ações do grupo que tenta parar a investigação a todo custo. Alternando o ponto de vista entre ela e o grupo citado, a tensão se amplia, sem nunca perder o foco.

    Bem desenvolvido como um thriller explorando o tema sempre curioso das conspirações, A Santa Aliança é uma boa narrativa do gênero, pautada, principalmente, nas bases do entretenimento para compor um produto de leitura rápida e intensa aventura. Diante de muitas obras com temas semelhantes, a dupla Kazinski sabe compor um bom material e conduzir o leitor ávido em resolver o mistério.

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  • Resenha | O Último Homem Bom – A.J. Kazinski

    Resenha | O Último Homem Bom – A.J. Kazinski

    o último homem bom - capa

    Comparado – na própria contracapa do livro – a Dan Brown e Stieg Larsson, o autor (na verdade  dois, que assinam sob o pseudônimo de A.J. Kasinski) consegue surpreender apesar de tudo. Digo “apesar de tudo” pois os autores, Anders Rønnow e Jacob Weinreich, fazem bom uso das marcas registradas daqueles a que são comparados. O texto junta a estruturação dos livros de Brown e a concisão e coesão de Larsson. O resultado é um livro de leitura agradável que foge do clichê e conquista o leitor com uma narrativa ágil e fluida.

    A “receita” usada à exaustão por Brown – homem ligeiramente deslocado do seu meio encontra mulher com habilidades intelectuais acima da média a fim de solucionar um problema – está lá de forma inconfundível. Contudo, o que torna a narrativa instigante é o bom uso que os autores fazem dela. Os personagens são apresentados aos poucos, fazendo o leitor aproximar-se deles e se interessar pelos seus destinos enquanto os acompanha em suas jornadas. O policial italiano Tommaso di Barbara, o detetive dinamarquês Niels Bentzon e a astrofísica Hannah Lund são “palpáveis”, personagens multifacetados que, justamente por não serem rasos, não serem o estereótipo de suas profissões conquistam o leitor pois há, neles, sempre alguma característica com que o leitor se identifique. E quem escreve – e quem lê também – sabe que a identificação é o que pega o leitor pela mão e não o solta até que a trama termine. Pois ao leitor interessa saber como a situação será resolvida, afinal, pensa ele: “Isso poderia estar acontecendo comigo”.

    Essa apresentação dos personagens deixa o início do livro um pouco mais lento do que se esperaria de um thriller e isso talvez afugente alguns leitores. Há também o fato de que os capítulos iniciais narram estórias aparentemente “avulsas”, com pouca relação à trama principal. O leitor demora um pouco até conseguir enxergar as conexões e perceber que, apesar de parecerem gratuitas ou desnecessárias, essas cenas têm relevância e acrescentam informações interessantes à história. Claro que algumas poderiam ser suprimidas sem prejuízo, mas não chegam a prejudicar o ritmo da leitura, nem o entendimento da estória.

    Outra característica que lembra Dan Brown é a estruturação do romance, mais especificamente, o uso de capítulos curtos. Essa técnica não é exclusividade de Brown, mas remete a ele pois é o autor que a usa de forma mais exagerada, com capítulos que não chegam a preencher duas páginas. Rønnow e Weinreich a utilizam de modo bastante eficiente, controlando o ritmo da narrativa e espichando ou encurtando os capítulos de acordo com o nível de tensão das cenas. Não é um thriller detetivesco de ação ininterrupta, que possivelmente deixaria o leitor exausto ao final. Há cenas mais contemplativas – geralmente as que entregam ao leitor mais informações sobre a personalidade dos personagens – que permitem ao leitor “respirar” e recuperar o fôlego antes que o próximo conflito se apresente. E, mesmo não incluindo cliffhangers a cada final de capítulo, os autores fazem o leitor se sentir compelido a continuar.

    Interessante notar que, ao contrário da maioria dos thrillers, em que a corrida contra o tempo tem a finalidade de encontrar um (ou mais) criminoso(s), neste os protagonistas estão à procura de homens bons, geralmente envolvidos com alguma ação humanitária. Todas as pistas são analisadas com o intuito de localizar os próximos alvos e não o responsável pelas mortes. E essa inversão é citada várias vezes no texto, quando os personagens questionam por que é tão mais fácil empreender uma busca a um homem mau e por que as pessoas relutam tanto a ajudar quando o objetivo é encontrar uma pessoa boa.

    Para os leitores que apreciam um bom thriller que não seja apenas um encadeamento de cenas de ação intercaladas com verbetes da wikipedia este é sob medida. Diversão e entretenimento de qualidade.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.