Tag: Bruna Linzmeyer

  • Crítica | O Grande Circo Místico

    Crítica | O Grande Circo Místico

    A nevoa envolve o início de O Grande Circo Místico, o último filme de Carlos Cacá Diegues, após um hiato de 12 anos sem fazer ficção. Logo, é mostrada uma família tradicional, que tem contato com uma imperatriz misteriosa, apresentando Fred (Rafael Lozano), um rapaz que não gosta daquela companhias e quer ir até um circo underground, que mais parece um cabaré, ver as atrações belas e volúveis do lugar.

    A inconformidade dele engana.  O filme parece ter uma boa premissa e uma boa historia para contar, logo é mostrado ele extremamente apaixonado por Beatriz (Bruna Linzmeyer), além de dar vazão a uma historia de origem bem pitoresca, fato que lhe dá condições de ter um presente qualquer para si. Sua escolha é a de cumprir o sonho de sua amada, e ele monta um circo, com todo o elenco da casa de shows burlescos.

    Há uma clara tentativa do roteiro de Diegues, George Moura e Jorge de Lima de soar poético, a historia tem grandes saltos temporais, levando sempre em consideração a estética e vocação circense, mas a artificialidade de diálogos, das ações e principalmente do mestre de cerimônias Celavi vivido por Jesuíta Barbosa faz com que toda a fantasia pareça patética e ridícula, uma tentativa de poesia que não dá certo, com números musicais de qualidade  questionável, não pelas músicas, e sim pelo que é mostrado em tela junto a trilha.

    O roteiro passa pelas gerações da família que detém os direitos do circo que dá nome ao filme, mas o lugar não é um personagem, não tem peso na historia, e as historias vão ficando cada vez mais desinteressantes, sem falar no personagem de Jesuíta, que parece ter um envelhecimento retardado, cuja razão desse fato não se fala em nenhum momento, além de não dar importância se ele é um ser místico/mágico ou não.

    Diegues não consegue traduzir em tela a mágica que tencionou para o filme, esbarra numa historia repleta de músicas bonitas na trilha, mas também em uma hiper sexualização das personagens femininas, além de fazer uso de um Chroma Key tão mal encaixado que torna grotescas todas as cenas que usa. Seu final é tão patético na tentativa de parecer poético e esbarra tanto num fracassado esforço no intuito de parecer uma versão brazuca dos filmes de Federico Fellini que faz irritar quem o assiste, tornando a escolha dele para representar o Brasil na disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro algo tétrico, para dizer o mínimo.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | O Amuleto

    Crítica | O Amuleto

    O Amuleto 2

    Direção de Jeferson Dê, do outrora premiado BroderO Amuleto é a nova empreitada do realizador que optou corajosamente por executar cinema de gênero no Brasil, ainda que suas boas intenções não tenham alcançado um nível de excelência minimamente aceitável. A temática fantástica do roteiro de e Cristiane Arenas, se assemelhando demais aos aspectos de fandom vistos na literatura de André Vianco e seus pares, ainda que a temática de bruxos e o nível das cenas em flashback sejam muito mais parecidos com os filmes de época mal feitos.

    Os primeiros momentos de tela remetem à Inquisição, misturando elementos do pretérito com uma edição videoclíptica de músicas indie, estabelecendo a moda como cerne para sua historieta. As pernas à mostra da bela Bruna Linzmeyer demonstra a sutileza nula do filme ao retratar a sensualidade, aspecto típico da figura das feiticeiras, mas extremamente mal explorada neste. Apesar de alguns sinais esquisitos, Diana é mostrada como uma  jovem normativa, que se perdeu em meio à mata após – supostamente – ter sofrido uma noite regada a álcool e muitas drogas, no primeiro momento de seu retorno à pacata cidadela onde nasceu.

    As atuações são tão irreais quanto a direção de arte, que produz jornais completamente artificiais e não críveis com manchetes que idiotizam a trama. Os diálogos semelhantes a vozes de dublagens antigas só fazem piorar a situação, tornando praticamente impossível levar o filme a sério. Até o sotaque carregado de Maria Fernanda Cândido e Michel Melamed é forçado, se assemelhando a peças de comédia, distante da intenção que os produtores procuram passar.

    A abordagem que o roteiro dá aos conflitos e tramas macabras é ridícula, grotescamente emulando teatros colegiais. A obviedade só foge na maquiagem que esporadicamente funciona. A maldição hereditária passa longe de ser digna de ser levada a sério, piorada com os recorrentes merchandisings e engessamento do argumento original, que tolamente acha que disfarçará os predicados negativos com um formato que relembra a modernidade da era dos telefones que executam vídeos.

    O Amuleto vai de encontro ao típico público do recente exploitation de literatura fantástica que acometeu o Brasil, especialmente na falta de qualidade na urdição da história. O gore, limitadíssimo, não contém impacto visual, e o terror carece de atmosfera de sustos. Mesmo os palavrões parecem completamente difusos na oralidade, como um grão perdido em uma boca banguela. Só não mais desnecessário e fake do que todo o envolvimento dos personagens.

    Engraçado como forças ocultas, supostamente incorpóreas, têm autonomia e discernimento para executar gravações em celulares. Interessante também é notar como a iniciação em magia é velada a ponto de ter zero construção de paradigma, o que faz não ter qualquer empatia pelas belas figuras mostradas em tela, até por serem pessoas monotônicas, somente capazes de gerar sensações fúteis e reações óbvias. Sequer as obsessões de Diana garantem qualquer reação que não seja o absoluto tédio ou risadas involuntárias graças ao medo da morte que se aproxima. Ao menos ao espectador, sobra o medo de o filme não ter fim, um terror absoluto.

    O diretor tenta em vão gerar ângulos estranhos para a filmagem, mas o renovo jamais chega, graças à pobreza do script. Ao final, tudo parece esdrúxulo e bestificado. A quantidade de absurdos é um acinte. Praticamente nenhum aspecto funciona em O Amuleto, nem mesmo a boa intenção de retratar um mistério ligado à bruxaria, já que até o assunto é subalterno diante da estupidez que é filmada. O sobrenatural é subaproveitado, só tendo momentos em vultos e aparições vagas, que não acrescentam em praticamente nada.

    O final tenta apelar para uma sobriedade ancestral e tradicional, que é completamente banal diante das palhaçadas exibidas. A boa intenção de retratar as bruxas como criaturas altruístas também não garante acréscimo de qualidade, já que até ali o estrago já havia sido instaurado. O caso arquivado é uma síntese do que deveria ter sido feito com a premissa desde o início, jamais executando a feitoria fajuta de vingança anunciada.