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  • Crítica | Tropas Estelares

    Crítica | Tropas Estelares

    Depois de fazer alguns filmes na America, Paul Verhoeven começa sua versão do livro de Robert A. Heinlen com comerciais bastante cínicos a respeito do alistamento militar, de forma semelhante a Robocop: O Policial do Futuro, só que ainda mais exagerada e caricata, com ainda menos apego classificação indicativa para plateias mais jovens ou mais sensíveis. Tropas Estelares só explica quem são seus personagens, entre eles Rico, feito pelo péssimo Casper Van Dien, um estudante argentino, que se afilia a Federação, que é o Estado bem presente e forte, obrigando os jovens a participar das forças armadas, apelando para moral falsa e extrema.

    Nas escolas, os jovens aprendem a diferença entre um civil e um cidadão, onde o segundo aceita o dever pela segurança do corpo político, defendendo-o com a própria vida se preciso.  Nela, se conhece além de Rico, Carmen Ibanez (Denise Richards), Carl Jenkins (Neill Patrick Harris) e Dizzy Flores (Dina Meyer). Os alunos dissecam as espécies alienígenas inimigas, e isso produz cenas gore muito engraçadas, envolvendo vômito, tudo é voltado para a pressão de tornar os jovens dependentes da adrenalina da guerra e do burro senso de dever.

    Johnny é o mais imaturo e não preparado dos personagens, se deixa levar pela necessidade de aprovação de sua amada, perde o foco algumas vezes durante os esportes que pratica e na hora de servir ao exercito, sua motivação é fraca, tão tosca e risível quanto a latinidade de Van Dien, Meyer, Richards e Harris. O filme ainda faz questão de deixar todo um drama teen sentimental ao estilo Barrados no Baile que também causa muita comoção humorística, O roteiro de Edward Neumeier explora isso, mas continua pondo suas piadas nos comerciais e na interface super interativa, que nos anos 90, era realmente uma novidade e que hoje soa como piada.

    O conceito de notícia e propaganda se confundem muito facilmente, os redatores não tem receio de colocar logo após propagandas com crianças, imagens de pessoas dilaceradas, em uma zona de quarentena aracnídea, feita basicamente para ironizar os mórmons. A ação dos militares é tão bizarramente violenta, que um instrutor, o sargento Zim vivido por Clancy Brown quebra o braço de um recruta, basicamente porque ele pode e porque o mesmo o subestimou. Não há freios para os militares, os facínoras podem fazer tudo, dado que a tática do governo é ter mão forte e agir com preceitos meio fascistas pelo que é visto dentro do filme, as razões para desenrolar a guerra mesmo são bem discutíveis.

    Apesar de a configuração militar lembrar demais as versões mais novas e contemporâneas de Star Trek, há boas referencias a Star Wars, como o efeito visual quando entram em hiper velocidade, com os humanos sendo puxados para o centro da imagem. É incrível como o treinamento dos pelotões variam entre o lúdico, de uma sessão de jogos ao estilo pique bandeira, e outra com munição real onde um recruta morre graças a um erro de Rico, e sua punição administrativa, é de 10 chicotadas nas costas. Verhoeven registra a reação  do soldado, com um super close rápido, que mostra o quão surpreso  e desesperado ele está com aquela situação.

    O ataque do planeta dos aracnídeos, Klendathu também é estranha, em uma sociedade  tão controladora não é de se espantar que algo relacionado a teoria da conspiração poderia ser real – afinal, até o instrutor decide virar soldado raso para combater quando a guerra eclode –  até entende-se que eles tenham capacidade de defender seu planeta de invasões, mas lançar um meteoro há uma distancia interplanetária tão grande, é difícil de conceber, e dado a distancia da historia contada aqui em comparação com o livro é difícil calcular se isso foi algo armado  pela Federação ou não.

    A escalada da violência é tão grande que mesmo passada uma hora de filme, há uma crescente de violência enorme, retornando então ao início com a  equipe de televisão sendo atacada enquanto os jovens soldados são dilacerados pelos rivais insetos. A expressão de pavor nos olhos deles faz até o fato deles serem péssimos atores ser discutível, pois fora Van Dien, a maioria do elenco transmite mesmo um senso de urgência atroz, não à toa uma vez que centenas de milhares pereceram.

    Na Terra, há discussões histéricas e histriônicas sobre a capacidade cerebral dos antagonistas, com engravatados discutindo de maneira fútil enquanto os homens e mulheres novos arriscam seus pescoços e vidas contra aracnídeos de tamanho colossal e besouros gigantes que jogam ácido e corroem a pele dos “heróis”. Verhoeven não poupa o público, faz uma espécie de Aliens: O Resgate com muito mais coragem e ultra violência, onde nem o reencontro entre Johnny e Carmen consegue soar sentimental, já que novamente se dá vazão a rivalidade entre a infantaria e os comandantes do ar. Desse encontro – que inclui até Carl,pouco tempo depois – surge outra nova promoção a Rico. Os soldados sobem rápido, se tiverem indicação ou conhecimento.

    A inteligência do filme que o cineasta holandês propõe em seu filme mora em parodiar filmes de guerra e folhetins belicistas, sua dramaturgia é pobre, elenco canastrão, em um deboche sobre o modo violento com que os Estados Unidos lidam com as relações exteriores, sendo ainda mais ácido e escrachado que em Robocop.

    É tudo tão cretino e violento que um homem tendo seu cérebro sugado, ou uma piloto que mesmo depois de ser perfurada, é capaz de andar, atirar com uma metralhadora e fazer piadas faz sentido aqui. Os efeitos especiais utilizados são obviamente datados, mas a remasterização melhorou demais o quadro. Não é perfeito, mas funcionam.

    O inseto coletor de informação, que faz os humanos de Milk Shake, puxando a massa encefálica de canudo é asqueroso, tem uma composição semelhante a órgãos  sexuais, pervertendo o conceito de Alien: O Oitavo Passageiro, pondo figuras anais ao invés de referencias fálicas e vaginais. A superação dos soldados federados faz com que cometam atos impossíveis, e toda a falta de talento dos atores mais novos enfim tem uma retribuição, pois é tão fajuto e falso quanto a maneira que a federação manipula a informação e a digere para o povo. É estranho, grotesco, catártico e engraçado, mas não no sentido cartesiano, os risos do filme vem de uma maneira constrangedora e como mecanismo de defesa, algo natural, uma vez que a obra se dedica a ser uma crítica ao belicismo típico dos Estados Unidos e do mundo moderno.

    https://www.youtube.com/watch?v=hL7uzmM5dEo

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  • Crítica | Tubarões

    Crítica | Tubarões

    Tubarões (ou Shark Attack, no original) é mais um dos ótimos sub-produtos calcados no hype de filmes clássicos. Produzido pela Nu Image, traz logo em seu título figuras tarimbadíssimas, como o protagonismo de Casper Van Dien, que em 1999, era uma estrela em ascensão, muito mais que um rosto bonito à frente de uma produção tão esmerada em trazer uma história inédita. O clima de suspense permeia o início da fita, onde um mergulhador desavisado é emboscado por sujeitos mal intencionados e mal encarados, para só então ter seu braço cortado por uma peixeira de proporções dantescas e ser jogado ao mar, claro, para atrair a atenção do predador máximo dos sete mares.

    Os personagens mostrados são de uma profundidade impressionante, preconizando toda a canastrice que seria grife nos anos pós 11 de setembro, e se tornariam ainda mais famosos nas produções da Asylum, como Sharknado. Logo, como se não houvessem problemas suficientes no mundo, o biólogo marinho Steven McRay (Van Dien) começa a estranhar a rotina dentro do seu laboratório, e em uma noite, decide encarar um estudo sobre o temido assassino marinho.

    Não há espaço para sutilezas ou criação de expectativa, com pouquíssimo tempo de tela já há uma enorme exposição do vilão que moveria toda a obra, mostrando o animal sendo autopsiado, desconstruindo a figura que impingiria terror sobre toda aquela geração. Steven Spielberg não poderia pensar em uma abordagem mais esdrúxula que esta. McRay fica muito triste quando descobre que seu antigo amigo – aquele que morreu no começo – pereceu, e demonstra estar mal, logo que chega a África para desenvolver o seu trabalho. O grave problema é que ele não consegue expressar sua tristeza naquele momento tão oportuno, já que este não é o maior préstimo dramaturgo de seu intérprete – se a cena desoladora fosse substituída por uma explosão, certamente teria dado mais certo.

    Impressiona o fato de que mesmo ante uma presa fácil, um infante, a máquina de matar mais poderosa do planeta seja capaz de capar a criatura, em seu próprio campo de habitação, achando que uma jangada vazia é melhor opção para um efusivo ataque. No entanto, é nessa empreitada errada que o mocinho do filme convence seus rivais e a comunidade de que ele é bad ass, e de que sabe lidar com os peixes malvados. Tubarões têm o poder de fazer as amizades mais improváveis acontecerem.

    Todo o besteirol exibicionista típico do verão é visto, com corpos esculturais habitando em biquínis pequeninos, sendo mostrados paralelamente a dilacerações de gosto duvidoso, e de pouco goire – um pecado imperdoável para um filme tão baixa renda. O visualizador mais exigente tende a chorar ao ver a falta de cuidado com que o diretor Bob Misiorowski leva o seu filme. Tudo é demasiado tímido, nem as atuações são tão caricatas; este Shark Attack parece um protótipo do que seria explorado nos próximos dez/quinze anos.

    Com o desenrolar da trama, uma teoria da conspiração ganha corpo e uma intrínseca rede de mentiras é mostrada, cuja extensão vai até os mandatários do laboratório. Steven é caçado e perseguido, mas nem as ameaças de morte são capazes de fazê-lo parar. Curioso é que quase todos os seus esforços enquanto detetive são recompensados nas primeiras opções, não há tentativa e erro, somente acerto nos primeiros chutes, e como no guião o que menos importa é a coerência, nada disso é discutido. A ganância é a verdadeira inimiga, a vilã deste maravilhosamente orquestrado teatrinnho. Os tubarões servem somente para fazer um paralelo com o instinto humano desnecessariamente ligado a caça e ao uso incontrolado da inteligência para algo necessariamente mal.

    No final, há uma bela luta, mostrando bandidos e heróis combatendo ferozmente, lutando por suas parcas vidas em meio a um laboratório repleto de produtos químicos, enquanto os valentes engravatados se escondem covardemente atrás de suas mesas. O mal tem a sua porção de castigo muito bem pensada e gasta com sabedoria. Há direito até a redenção de anti-herói. No final, o vilão mais malvado, vivido por Ernie Hudson, é engolido pela besta marinha, o ser que impinge justiça, passando por cima de qualquer barreira geográfica ou social. Um filme tosco, uma mensagem infantil e uma abordagem séria. Não há como achar este um bom produto, nem com as cenas de tiroteio em alto mar.

  • Crítica | Sleeping Beauty (2014)

    Crítica | Sleeping Beauty (2014)

    Hollywood é conhecida como o ponto máximo da elevação do sonho de fama, dinheiro e talento. Essa questão se estende para todo o cinema, e a busca incessante por tais coisas faz com que produtores lancem qualquer obra, especialmente quando esta pode ter seu nome atrelado a uma produção dantesca. Como 2014 seria o ano de lançamento do blockbuster de Angelina Jolie, Malévola, a produtora Asylum decidiu então usar do conto dos Irmãos Grimm para apresentar a sua ostentosa versão de A Bela Adormecida, ainda sem nome no mercado nacional, que conta com a direção do possante ator Casper Van Dien, a estrela de Tropas Estelares, que além de dirigir, ainda faz o Rei David.

    A história não guarda qualquer mistério para os que conhecem o clássico da Disney, ainda que o curioso roteiro de R. Dessertine e Van Dien contenha algumas ótimas mudanças. Para cortar custos, o anúncio do nascimento de Dawn foi ao ar livre, a mercê de qualquer ataque dos inimigos. A opositora, Rainha Tambria (Olivia d’Abo), se ofende por não ter sido convidada e ataca as mulheres que seriam as fadas madrinhas. As tais mulheres evaporam.

    Logo após a épica batalha, a princesa é mostrada na adolescência, onde é vivida por Grace Van Dien, (sim, o sobrenome não é uma coincidência), em uma cena onde a moça analisa o próprio quarto e toda a mobília barata (e pintada de dourado) que a compõe, nota-se a mão do diretor, com cenas filmadas em travelling, sendo o recurso algo banal, completamente desnecessárias à trama, mas que demonstram todo o domínio da linguagem que ele tem.

    Em um baile como outro qualquer, um jovem menino pede para dançar com a princesa e os felizes pais a deixam ir, sem qualquer reprimenda, e como todos os signos óbvios demonstram, ela é engodada pela feiticeira maligna, que além de fazer a mocinha dormir, ainda consegue fazer toda a corte cair em sono profundo. Após tentar assassinar seus desafetos, ela é impedida, pelo contra-feitiço que as fadas mortas deixaram. Tudo faz sentido, quando o guião é bem construído. Como esse não é o caso, as situações tornam-se engraçadíssimas, o que poderia ser atrelado a algo involuntário, mas se analisado o currículo da Asylum, todo o estratagema insano é justificável.

    Uma outra subtrama é apresentada após apenas 20 minutos de filme. O relógio avança cem anos no futuro, sem qualquer necessidade ou construção dramática – até por que esta não é a prioridade do conto. Barrow (Finn Jones) um camponês maltrapilho é mostrado como um homem sempre humilhado por sua majestade, até que tropeça em um mentor, que lhe conta a lenda da princesa adormecida e do seu reino, largado às traças e à maldição das fadas e das rainhas. Um novo chamado a aventura é logrado, de uma forma extremamente esdrúxula, unindo uma força tarefa totalmente heterogênea e incombinável.

    O que poderia ser um fiasco tremendo, se mostra um momento épico, pois o grupo, ao tentar passar por uma lagoa, cujas bordas estão pavimentadas, é atacado por um monstro reptiliano marinho gigante, feito com o melhor CGI que poderiam construir. A cena de combate é tão ruim que se torna o melhor momento da película até então. A partir daí tudo vira pretexto para combates loucos. Monstros camaleônicos cortam a cidade, a Rainha Tambria (que não envelheceu um dia, afinal, ela é poderosa) conclama zumbis de cavaleiros templários, e as ruas viram o cenário de uma tremenda batalha campal, ao estilo dos quadrinhos de Robert Kirkman. Mas nada impede o ganancioso Príncipe Jayson (Edward Lewis French) de avançar rumo ao cumprimento da profecia mal urdida.

    Repentinamente, o príncipe mal intencionado torna-se um zumbi-hunter de primeira categoria, vencendo seus inimigos e até instruindo seus asseclas. Quase dá para acreditar em sua integridade de espírito, até que, diante da possibilidade de pegar um tesouro, ele mostra seu real caráter, de um ganancioso senhor. Após isto, ele é pego em uma armadilha – seu status de anti-herói jamais é provado por completo, o plot é completamente esquizofrênico.

    A medida que avança, o grupo de aventureiros vai diminuindo, como se estivessem em uma partida de RPG das mais fracas. Barrow torna-se o paladino e líder do grupo, muito antes deles se reduzirem a apenas duas pessoas. Quando finalmente encontram Tambria, a questão da Princesa é completamente esquecida, para mostrar um casalzinho de vilões se unindo, para praticar toda a ruindade que as suas almas podres podem impingir a humanidade boazinha.

    A tosqueira segue solta. Quando Barrow se depara com um dinossauro maneta, ele ataca o bicho com uma pira acesa, que consome toda a pele de CGI do bicho, mas que é arremessada a metros de distância, enquanto é mostrado o monstro sendo queimado como se o impacto fosse a queima-roupa. A atuação do Paladino ao lado de sua alteza (que muda de lado outra vez) é brilhante, só é mais surpreendente do que a revelação de que Barrow é o Escolhido – e não, isso jamais havia sido aventado antes, é simplesmente jogado.

    A batalha final ocupa tanta a atenção da Rainha má, que ela sequer percebe o rapto da princesa enfeitiçada – Van Dien parece ter lembrando da linha principal do roteiro. Mais zumbis são levantados, e o dragão queimado e maneta volta a atacar, sem queimaduras e com seus braços de volta. Em um minuto, Barrow tem de enfrentar os monstros e até seus parceiros de jornada. Nenhum deles é capaz de enganá-lo, somente Tambria o faz, e depois de toda a luta, a malvada mulher ainda consegue arruinar seu próprio plano falho, ao não ficar de olho no seu opositor e ao abordar um inimigo, armado com uma espada, pelas costas.

    Após todo o aparato do final feliz, o reino inteiro ressuscita, os zumbis tornam-se homens, a família real, tudo volta aos conformes, como se não houvesse passado um dia sequer. O tempo avança em um ano, com o nascimento de mais uma criança, fruto do “amor” de Dawn e Barrow, para mais uma vez ter a entrada de uma intrusa. A Asylum é pródiga em trazer a luz filmes como este, geralmente com filmes de ação, mas nesse Sleeping Beauty o passo em direção a escrotidão suprema é bem maior, pelo descompromisso com toda e qualquer obra pregressa, pela presença de personagens insípidos e claro, pela péssima qualidade da história contada. É uma lástima que esse filme não ganhe as telonas brasileiras.