The Bells: Raiva e Cinzas – Análises e Teorias sobre Game of Thrones
O quinto e penúltimo episódio da oitava temporada de Game of Thrones finalmente chegou, e com ele o retorno do diretor de ação Miguel Sapochnick. A expectativa e dilema é que as forças que venceram o exército de vagantes consiga tirar Cersei do poder sem destruir e matar todos que estão em Porto Real, no entanto isso não é esperado com qualquer otimismo, visto que mesmo os fãs mais cegos do seriado, em maioria absoluta, se frustram com os acontecimentos mostrados nesse último tomo da Saga de Gelo e Fogo.
O início desse episódio no entanto guarda algumas surpresas, seguidas de obviedades, ligadas ao coadjuvante (de luxo) Lorde Varys (Conleth Hill), que é julgado (aparentemente o ato de julgar está presente em absolutamente tudo de GOT na 8ª Temporada) por querer o melhor para Westeros. Ele é impedido de falar a verdade sobre Aegon Targaryen. Por mais protocolar (outro aspecto bem presente e repetido neste tomo) que seja isso, ao menos há a testificação da antes possível, agora comprovada insanidade de Daenerys, aspecto que acreditam boa parte dos fãs ser bem típica da sua família. Até as boas relações que ela tem com Tyrion e com Jon são consumidas por sua paranoia e pelo desejo ao trono de ferro, e ela até lamenta um pouco, mas não acha inválido ser mais temida que amada.
Caso o leitor se incomode com spoilers, saiba que eles se agravarão severamente na análise.
A postura belicosa da personagem contradiz um dos muitos nomes da mãe dos dragões, afinal ser conhecida por libertar os escravos já devia ser motivo suficiente para mostrar a empatia da personagem, mas aparentemente, para os roteiristas, isso não é tão importante. Os motivos que fizeram ela agir da forma como age é um bocado atrapalhado. Ainda que não se leve em conta a construção literária de George R.R. Martin, o que se construiu ao longo das primeiras temporadas do seriado não faz muito sentido, além do que a saída da maquiagem em deixa-la envelhecida e “feia” é um artifício tão patético que faz perguntar qual era a intenção dos produtores.
Há uma preparação para a batalha, dessa vez sem o mesmo alarde de Long Night. Quase todo momento que Jaime aparece tem uma carga de emoção forte, e Nikolaj Coster Waldau tem uma chance bastante válida de mostrar seus dotes, ainda que não seja um grande ator, seu desempenho é bem encaixado.
As cenas de batalha melhoraram drasticamente, ou melhor, o massacre que Drogon e os imaculados fazem no exército dos Lannister e nos piratas de Greyjoy é mostrado de maneira visceral, com muito gore e golpes secos e certeiros dos soldados, que agem covardemente, como os verdadeiros viloes da série. Ao menos em um ponto o ato de vingança foi favorável, se antes não havia estratégia, agora há, e o trabalho da trilha sonora ambienta bem estes confrontos, embora ainda não seja tão épico quanto na Batalha dos Bastardos.
Em algum ponto, o episódio parecia que ia ter o freio de mão puxado, mas o que se vê depois é uma carnificina, e por mais que a composição seja bela, o ato em si é injustificável, para muito além da moralidade. Para as teorias, esse arco serve talvez para justificar uma possível tomada de poder de Jon Snow, fato que faz preocupar também qual seria a reação emocional de Kit Harrington. Ao menos o grafismo das mortes faz valer um bocado a direção de Sapochnick, que consegue mostrar bem o desequilíbrio emocional da personagem de Emilia Clarke, que bizarramente, tem até pouco tempo de tela, em uma revanche que soa bastante impessoal por conta desse estranho aspecto.
A tentativa de trabalhar a batalha em várias frentes nao tem funcionado, os êxitos são raros, ainda que ocorram boas lutas entre cavaleiros, mas que infelizmente perdem boa parte de sua importância por ocorrerem no meio de um massacre tão evidente. Os momentos de lição são um pouco forçados, em especial o que ocorre entre Cão e Arya Stark, ao menos, tanto Rory McCan quanto Maisie Williams estão muito bem, representando uma carga emotiva absurda, e com um desempenho bastante superior a qualidade do texto.
A postura de arrogância de Cersei faz a personagem de Lena Headey se assemelhar demais ao que Grand Moff Tarkin fez em Uma Nova Esperança, não querendo sair da Estrela da Morte em seu possível momento de triunfo, embora isso não pareça provável no momento em que a Rainha é indagada sobre permanecer ou não na Torre Vermelha. Fica a dúvida sobre seu futuro, seria outra quebra de expectativa enorme e mais uma amostra de anti clímax se ela realmente pereceu da forma que se pensa após o término do capítulo.
Analisar uma temporada episódio a episódio é uma tarefa ingrata, e pode produzir algumas injustiças, uma vez que não se tem noção da mensagem do todo, no entanto, é difícil não ter um sentimento de decepção com os fatos até aqui apresentados, assim como é praticamente impossível não julgar que, por mais apoteótico que seja o episódio derradeiro, ainda assim não salvará todos os outros dessa temporada
O torpor do insucesso e da falta de planejamento dá lugar a uma vingança que não tem qualquer perspectiva de futuro, seja com relação ao reino, que claramente não existirá após todo esse ataque, ou dos laços e amizades com os guerreiros que acompanharam Khaleesi até esse momento. O fato dela não ter misericórdia ou algo que o valha é um convite para os antigos aliados a ataquem, gerando contenda até nos que está presentes na tal batalha. Por mais que todas as previsões apontassem para algo assim há muita coragem em mostrar isso de maneira tão categórica. Resta esperar qual será a postura de Daenerys com Sansa, que se torna aparentemente sua inimiga mortal, na evolução de um quadro infantil e plantado no começo dessa temporada. É uma pena que Game of Thrones se dedique tanto a evoluir quadros pueris, e nem toda boa violência e brigas justificam isso.