Tag: Daniel Auteuil

  • Crítica | O Orgulho

    Crítica | O Orgulho

    Dirigido pelo ator franco-israelense Yvan Attal, O Orgulho mostra a história de Nella Salah (Camélia Jordana), uma jovem que cresceu na pequena cidade de Creteil e que vai até uma grande universidade, para se formar na Faculdade de Direito de Paris. Lá ela bate de frente com o polêmico professor Pierre Mazard (Daniel Auteuil), um sujeito duro, grosseiro e que para tentar se redimir, decide ser tutor da mesma, na direção de tentar uma vaga em um concurso.

    A partir desse ponto de partida, ambos aprendem um com o outro, em uma jornada em que cada uma das partes é levada a bater de frente com os seus preconceitos O método do docente é pouco ortodoxo, ele faz a garota tentar recitar poemas em pleno metrô para que ela perca a timidez de falar em público e que se perceba melhor no ofício de convencimento de outras pessoas – se ela poderia fazer isso com desconhecidos, certamente ficaria mais fácil convencer um júri de suas intenções e as de seus clientes.

    Há um caráter parecido com os produtos enlatados hollywoodianos em que professores motivadores são fonte de inspiração dos seus alunos, como em Sociedade dos Poetas Mortos, embora nesse longa o foco seja em uma faixa etária mais velha que os alunos que seguiam Robin Williams no clássico filme com Ethan Hawke. As questões vividas por Nella no entanto não fogem muito do usual, e de certa forma, emulam os mesmos problemas lugar comum do filme de Peter Weir.

    Auteuil consegue convencer bastante como mentor e homem que evolui para muito além de suas próprias ideias, mas Jordana não consegue convencer quem a assiste de que ela é realmente uma pessoa especial e que foge do lugar comum. O desfecho de O Orgulho mostra uma mulher que se percebe cheia de indagações justas e que tem um discurso panfletário na ponta da língua, mas que ainda assim é incapaz de enxergar as nuances e a dificuldade de terceiros em entender o mundo de uma maneira diferente da sua, soando raso dentro das discussões que propõe, não passando além dos clichês e frases de efeito sensacionalista.

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  • Crítica | Antes do Inverno

    Crítica | Antes do Inverno

    antes do invernoO inverno como metáfora é um símbolo do final da vida. Um senso de derrocada que, se não representa a própria morte, é um anúncio de algo significando um novo estágio.

    Evocando tal imagem simbólica, Antes do Inverno situa-se em um momento anterior ao da terceira idade como instante de decadência. Foca a estabilidade tranquila e tediosa de Paul (Daniel Auteuil), um neurocirurgião de 60 anos, bem-sucedido, casado, residente em uma bonita casa luxuosa. A realidade costumeira é quebrada quando flores começam a ser entregues no hospital em que trabalha e, posteriormente, em seu consultório particular e na sua própria casa.

    Através da presença de um elemento carregado de novidade e mistério, o personagem coloca-se em alerta, com medo de uma ameaça, mas curioso em saber quem é o remetente das flores. No café onde é freguês, descobre que a garçonete, Lou (Leïla Bekhti), foi operada por ele quando criança. Assim, começam um diálogo e estabelecem uma relação.

    A garçonete e as flores representam o elemento de renovação que corrompe seu cotidiano estável. Aos poucos, Paul se envolve na procura de descobrir se a garota é a remetente das flores, ao mesmo tempo em que se sente atraído pelo novo.

    O roteiro evita cair no abismo da atração sensual em que uma garota jovem se apaixona por um personagem mais velho. Mesmo que o elemento seja sugerido em cena, o neurocirurgião reconhece a própria velhice e o senso de completude da vida, demonstrando que o que sente em relação ao desconhecido não é uma atração explícita, mas um tipo de curiosidade em conhecer a garçonete com mais profundidade.

    A realidade plástica e estável de Paul entra em choque com a vida de Lou, marcada por uma espécie de sobrevivência diária. Cada movimento que o médico faz para descobri-la acaba por afastá-lo da esposa (Kristin Scott Thomas), que nota a mudança de atitude dele e do único companheiro que restou, um psicólogo (Richard Berry) apaixonado pela mulher do amigo.

    De maneira lenta, o drama é conduzido por cada investida do personagem rumo ao desconhecido, como últimos impulsos de descoberta e curiosidade antes de assumir a derrocada da velhice. Em nenhum momento o médico aparenta buscar uma aventura. Pelo contrário, mais parece à procura de um acontecimento que lhe retire da repetição diária da rotina. Atos que demonstram uma personagem resignada, mas não necessariamente almejando uma nova vida que modifique suas estruturas.

    Não bastando a intensidade do drama interior, há uma pequena reviravolta que faz com que o personagem encontre o elemento de reflexão. Um impacto agressivo revelando-se além do conflito interno. Afora o envelhecimento cotidiano, o inverno futuro é mais agressivo e cru do que o provável entardecer bem-sucedido e estável.