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  • Crítica | Beleza Oculta

    Crítica | Beleza Oculta

    Quando foi divulgado o primeiro trailer de Beleza Oculta (Collateral Beauty), de David Frankel, eu me interessei mais pela ideia de toda a história do que pelo grande elenco que o filme tem, já esperava um melodrama no formato usual de sempre, porém o que temos aqui é uma ideia mal aproveitada, um drama que quer ser comédia (e fracassa) e um elenco que parece ter aceito participar do filme porque tinha umas semanas livres.

    Howard (Will Smith) é um empresário de muito sucesso que acredita no amor, no tempo e na morte como “segredos” do sucesso, até que uma tragédia abala a vida dele, fazendo-o mandar uma carta para o Amor, uma para o Tempo e outra para a Morte. Então, passa a receber visitas de pessoas que dizem ser essas coisas.

    Primeiramente, saiba que os materiais de divulgação vendem algo bem diferente do que o filme é, não por distorção, mas por omitir muitas coisas que fazem parecer que Beleza Oculta irá para certa direção quando o filme tem uma completamente diferente, e isso de certa forma foi uma surpresa agradável de início, o problema é que o primeiro ato é tão bagunçado e desconexo que o sentimento que fica é o de descontentamento. Kate Winslet, Edward Norton e Michael Peña interpretam os amigos e colegas de trabalho da personagem de Smith e de certa forma protagonizam este primeiro ato. A química é inexistente, os diálogos entre os três carregam uma atmosfera humorística que não funciona em nenhum momento e que só consegue soar propícia a vergonha alheia, pra não dizer ridículo. As atuações são motoras e parecem desconfortáveis, menos a de Peña que parece desconfortável por estar fazendo algo do que não é habituado, não por ser motora. Neste ato também é quando descobrimos qual é o principal plot do filme e por conta de todos esses problemas já citados, só soa, mais uma vez, ridículo, acrescentando aqui um “forçado”.

    O segundo ato consegue ser mais estável e possui dois dos três méritos do filme, o primeiro fica por conta de Naomie Harris, atriz indicada ao Oscar deste ano pelo seu papel brilhante em Moonlight: Sob a Luz do Luar, ela mesmo com um roteiro claramente limitado e que parece prezar apenas por falas de efeito, entrega uma atuação muito bonita e equilibrada. Inclusive, a atuação de Smith só funciona nas cenas em que ele precisa estar cara a cara com a personagem de Naomie, pois o papel dele parece uma reciclagem do que ele já fez em À Procura da Felicidade, Sete Vidas e Esquadrão Suicida (sim!). Já o segundo mérito do filme é de bem peculiar, que é como o filme mesmo sendo falho ele consegue prender a atenção, principalmente pela perspectiva de querer saber como toda a trama vai se resolver, mas isso acaba sendo bem dualístico por acabar ressaltando mais os defeitos do longa do que as qualidades.

    Chegando perto de seu final, Beleza Oculta reafirma de vez que seu elenco não quis fazer parte do filme, Helen Mirren que faz a Morte parece pelo menos se divertir, enquanto Keira Knightley (Amor) e Jacob Latimore (Tempo) se salvam pelo mínimo de carisma que conseguem transpassar no pouco que tinham em mãos. Este terceiro ato  também liga algumas pontas nos relacionamentos de seis personagens, mas desde o seu começo já parecia bem previsível.

    Claramente um filme comercial para o Natal (lançou nas vésperas do Natal de 2016 nos EUA), Beleza Oculta é mais do mesmo, ideia mal aproveitada e elenco subaproveitado, algo que vemos em Hollywood todos os dias, já dizia toda a internet: nada novo sob o sol. Ah, não quero falar muito sobre o final, mas sabe quando o filme entrega a melhor cena de todas, ligando coisas que você realmente não percebeu, mas decide fazer mais e mais só para te fazer cair da cadeira? Então…

    Texto de autoria de Felipe Freitas.

  • Crítica | Apenas Uma Chance

    Crítica | Apenas Uma Chance

    apenas uma chance

    Baseado na história do surpreendente cantor de ópera – e celebridade da internet – Paul Potts, o filme de David Frankel conta de modo detalhado toda a difícil jornada do solista rumo ao estrelato, sem poupar o público das mil situações constrangedoras que ocorreram em sua vida.

    O roteiro de Apenas Uma Chance é construído com a mesma estrutura de uma ópera, com todos os elementos tragicômicos de uma comédia em três atos, onde o personagem principal assume um papel épico e é acompanhado como se estrelasse uma espetáculo. Paul é mostrado como um rapaz perseguido desde sua infância, sofrendo bullying por ser gordo – condição que se repete por anos a fio. Ele cresce, e em sua vida adulta é interpretado magistralmente por James Corden. Porém, apesar de ter crescido, o rapaz mantém vivas as mesmas sombras que povoaram sua infância, como a total solidão, o pouco tato com as mulheres, decorrente da criação debaixo das asas da mãe, e o mais importante, a enorme paixão pelo canto lírico, que, obviamente servia como máscara para o seu eloquente talento.

    Impressiona como o conhecimento de mundo de Paul Potts é infantil. Suas ações são carregadas de ingenuidade, tanto em relação aos seus agressores como no relacionamento que tem com Julz (Alexandra Roach), uma namorada que ele pouco conhece e que o surpreende, quando o personagem se dá conta de que realmente é uma mulher. Tais papéis influenciam diretamente a sua perspectiva do que deveria ser a vida, e o motivam a buscar a realização de seus sonhos. Julz torna-se, então, a musa inspiradora de seu maior desejo, estudar canto em Veneza, despertando nele a vontade de partir, sensivelmente encenada nos vinte minutos que precedem esse momento singular.

    A partir dali, o personagem é chamado de Paolo, e com a mudança nominal ensaia também uma mudança de postura e amadurecimento, já que seria preciso mais do que um coração puro para alcançar o tão almejado posto de solista. Viajando pelo interior do país, ele é aconselhado a encontrar a sua própria voz e não tentar mudá-la somente para agradar às pessoas, o que, na verdade, é um paralelo com o seu excesso de peso e com a busca pela aceitação social. O personagem atinge seu ponto máximo nesse ato, ao ser convidado para apresentar um solo a Luciano Pavarotti, momento em que falha terrivelmente e, movido por sua insegurança, mal consegue cantar diante de seu herói. A reprovação do tenor provoca uma mudança tão grande em sua vida, que ele encerra o seu sonho e decide não mais cantar, recolhendo-se a sua solidão e afastando-se de sua amada, a única mulher que permanece ao seu lado por toda a vida e que o ajuda a suportar todas as adversidades dali para frente.

    O casal é conduzido por uma timidez de beleza ímpar e de singeleza ainda mais rara, o que demonstra ser um dos maiores acertos de Frankel, já que a sensibilidade de sua abordagem ajuda a maximizar as sensações e a empatia do público com seu herói. Outro fator notável na construção da película é a delicadeza na escolha das cores, que simbolizam o estado de espírito do protagonista. Após o seu casamento, Potts vê todo o cenário se desenhar de azul, em evidente contraste com o preto que dominava a tela quando sofria com a violência alheia. Dessa forma, Frankel atribui ao espetáculo a importância e o valor de um cenário principal, lugar onde Paul brilharia, onde cairia em desgraça, onde retornaria ao seu dom e onde também sofreria com seus azarados problemas.

    A rotina enterra os sonhos de Paul e o faz renunciar suas ideias mais grandiloquentes, transformando-o em um adulto deprimido, inválido e sem perspectivas de futuro. Após ver sua vida financeira tornar-se um caos, graças às dívidas que contraiu, e após uma das mais severas brigas que teve com seu pai, ele decide retomar seu anseio maior, inscrevendo-se em um reality show que debocha dos participantes que buscam ser o maior talento da Grã-Bretanha.

    É curioso como, na terceira tentativa, e não na “única chance” – sugerida pelo título do filme e também nome do primeiro álbum de Potts – ele finalmente alcança o êxito, apesar das limitações de sua saúde, de todo o triste passado que vivenciou, de sua inabilidade social e de sua capacidade quase infinita de gerar vergonha para si mesmo. O trabalho de roteiro que Justin Zackham imprime é perfeito no quesito emoção, trazendo à baila questões comuns que valorizam ainda mais a bela história de amor e superação de Paul Potts, desde os tempos imemoriais de anonimato até a fama que, finalmente, o acomete.