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  • Crítica | Endiabrado

    Crítica | Endiabrado

    Harold Ramis ficou famoso como ator, mas também conduziu algumas boas comédias, entre elas, Endiabrado, um dos filmes protagonizados pelo carismático Brendan Fraser, no ano 2000 no auge de sua fama. Esse pode ser considerado um objeto subestimado de sua filmografia, a adaptação do clássico britânico O Diabo é Meu Sócio, acompanha o nerd de baixa auto estima Elliot Richards, um cara tímido, com dificuldade de socializar, mas que tem um coração bom. Um dia ele tem a oportunidade de tee seus desejos atendidos, mas de um modo diferente do visto em Aladdin.

    Nesse início é estabelecido o elenco que estaria em todas as realidade alternativas, formado pelos colegas de escritório de Elliot, que por sua vez, fazem bullying com o herói.  Cansado de tentar fugir da condição de rapaz patético perante os amigos, e após ser rejeitado mais uma vez. Sua obsessão por uma mulher linda, que também trabalha com ele – Alison Gardner, vivida por  Frances O’Connor – ele diz que daria qualquer coisa por uma única chance com ela. É aí que aparece a fogosa Elizabeth Hurley, no auge de sua beleza, como a figura sedutora do Inimigo da religião cristã. A grande questão é que Elliot tem uma alma diferenciada, tal qual o Jó que Deus e o Diabo tentaram, e ele é tão (auto) castrado não se permite ter prazeres, nem com a femme fatale de sotaque inglês, além de ser uma das mulheres mais bonitas dos anos 2000.

    Antes de ter acesso aos sete desejos, Elliot é capaz de fazer piadas qu na época fizeram sucesso e que hoje soam ainda mais atuais, recusando a fala da moça achando que ela é da cientologia. A ideia de mostrar um diabo sedutor e enganador mistura elementos anteriores do cinema, há um bocado de Coração Satânico e até Advogado do Diabo na composição do personagem, além de Mestre dos Desejos, no sentido da mulher sedutora perverter os pedidos do contemplado, além de fazer claras referências ao que fez sucesso nos anos 90, Elliot lembra muito Stanley Ipskis, de O Máskara, até a chegada dele a casa de show do demônio lembra o Kokobongo, e a motivação da garota ideal é a mesma.

    A musica de David Newman é sensacional e faz acreditar em toda aura dos capítulos inspirados em paródias, de Pablo Escobar. Fazer dos desejos uma fonte de novas realidades, com o mesmo elenco é uma ideia maravilhosa, e produz momentos incríveis, hilários e até originais. Em comum, todas as realidades tem um peso sexual grande, fazendo o diabo se perder a analogia do pecado inicial ter a ver com a luxuria, e nessa versão, esse parece ser seu pecado favorito, ao contrário da Vaidade, que é o da versão de Al Pacino.

    Mesmo sendo um cara idealista, Elliot continua egoísta, com o pensamento centrado em si, percebendo enfim que mesmo sendo bonzinho ele não é perfeito, ainda insistindo na pecha de que foi enganado. Ele não entende que não há dialogo com a antiga serpente, nem há modo de perverte-la, embora essa seja uma versão menos maniqueísta do clássico inimigo das almas cristãs. Mesmo Deus/Yhwe é mostrado de um modo estranho, como um presidiário, mas que prega que a alma do homem não pertence ao homem, e sim ao ser primordial de poder infinito, que anima todo o cosmo e universo.

    Apesar da mensagem cafona e piegas, de que “não há nada que você possa me dar que eu queira “, e da clara mensagem de superioridade de Deus sobre o Diabo, já que o segundo não consegue descobrir que Elliot conversou com o primeiro, pois além de não ser onipotente, também não é onisciente, não entende todas as coisas. Mesmo que sexualize Hurley – que aliás, parece gostar muito disso, ficando extremamente a vontade em trajes sumários- Endiabrado soa como uma comédia pró cristianismo, mas não castradora, não virginal, tanto que o herói que passa pela jornada cresce, e evolui para alguém mais ativo, e como prêmio, ele encontra uma vizinha linda, Nicky também feita por Frances O’Connor, em um final meio adocicado para toda a acidez antes apresentada, mas ainda cabível dentro da proposta viajandona e amalucada que Ramis propõe nessa versão.

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  • Crítica | Um Herói de Brinquedo

    Crítica | Um Herói de Brinquedo

    Arnold Schwarzenegger durante os anos noventa se especializou em comédias, seja filmes com Ivan Reitman – Irmãos Gêmeos, Um Tira no Jardim de Infância e Júnior – como também outros exemplares, como O Último Grande Herói e o próprio Um Herói de Brinquedo, de Brian Levant. O filme se inicia mostrando as aventuras  de Turbo Man e Booster, um seriado de TV de muito sucesso entre as crianças, entre elas, o pequeno Jamie Langston (Jake Lloyd, o Anakin de Ameaça Fantasma).

    Howard Langston, pai de Jamie, é um homem de negócios muito atarefado, que constantemente está atrasado para os seus compromissos pessoais. Em meio a sua negligência costumeira, ele se esquece de comprar o boneco do tal herói e descobre que ele está simplesmente esgotado por toda cidade. A jornada do sujeito é a de correr atrás do tal brinquedo, enquanto tem que lidar com sua esposa Liz (Rita Wilson), seu irritante vizinho Ted (Phil Hartman) e Myron (Sinbad), outro pai que está em busca do tal boneco.

    A música de David Newman é um dos diferenciais positivos do longa, além é claro da trilha que reúne grande parte dos clássicos de natal dos Estados Unidos, como It’s The Most Wonderful Time Of The Year. Além disso, é muito curioso ver nas prateleiras das lojas, brinquedos das séries, quadrinhos e filmes que faziam sucesso, desde bonecas do quarteto fantástico até o Hércules, de Kevin Sorbo.

    Levant era um especialista em filmes para toda a família. Foi assim em Pestinha 2, Beethoven: O Magnifico e Flinstones: O Filme. Nesta aventura natalina ele traz Schwarzenegger em uma verdadeira odisseia, enfrentando adversidades como uma gangue de papais noéis contrabandistas basicamente para espiar seus pecados de negligência.

    Arnold não está exatamente em sua melhor forma dramática, mas se faz graça dele do que com ele. Já Jake Lloyd era absolutamente gracioso, e assusta que sua performance como Darth Vader mirim tenha sido tão fraca no filme de George Lucas. Apesar de apresentar do final extremamente adocicado, Um Herói de Brinquedo é um filme divertido, que se vale muito do ícone de seu protagonista.

    https://www.youtube.com/watch?v=eLNsgAIK80g

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  • Crítica | Superman III

    Crítica | Superman III

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    Muito mais voltado para a comédia, exemplificando pela apresentação de Gus Gorman como mais um vagabundo desempregado vivido por Richard Pryor, a continuação de Richard Lester para Superman III assumiu de vez seu tom jocoso, já iniciado pelo próprio diretor nas cenas finais de confronto em Metrópolis, em Superman II: A Aventura Continua. Tais momentos risíveis são reprisados após a cena de abertura, com uma sequência entrópica de alívios cômicos que fazem desse filme uma sequência mais próxima a Apuros e Trapalhadas de um Herói, também protagonizado por Pryor.

    A ausência dos créditos estilizados é sentida, bem como a música de Ken Thorne, que substitui John Williams. Outra mudança sentida é a conveniente saída de Lois Lane (Margot Kidder) de cena, para dar lugar a novos conflitos, eventos esses fracos e sem necessidade. Pela parte do Gorman, há a contratação de seus talentos para o oficio de programador de computadores, em que já na primeira semana ele prova ser genial, conseguindo descobrir uma falha no sistema de pagamento, executando uma fraude a fim de enriquecer em pequena escala.

    É nesta encarnação que Alexander Salkind começa a deixar suas funções de produtor, deixando para seu filho Ilya a função de produtor, sendo somente o sujeito que apresenta o filme. A mudança nos roteiros de David e Leslie Newman faz Clark retornar a Pequenópolis para uma reunião de colegiados, onde reencontra sua paixão platônica da adolescência, Lana Lang (Anette O’Toole), que está convenientemente divorciada, como uma mãe solteira. As indiscrições do texto incluem até o uso indiscriminado do super sopro por parte do tímido repórter, a fim de ajudar o filho de sua antiga amada em um jogo de boliche.

    O núcleo dos vilões, capitaneado por Rosse Webster (Robert Vaughn mas acostumado a filmes de terror do tipo B) é uma extrapolação do trio de antagonistas capitaneado pelo Luthor de Gene Hackman, ainda que as caricaturas sejam ainda mais evidentes e irritantes. É questão de tempo até notarem a fraude de August, e de – novamente de forma conveniente –  inserir Pryor na cidade pequena também, fazendo-o cruzar o mesmo destino do herói, que gasta seu tempo fazendo piqueniques em meio ao mato alto.

    Há mudanças drásticas de cenários, como se todos os personagens tivessem a mesma capacidade de viagem rápida que o azulão. A suspensão de descrença é bastante atacada, com as construções de coberturas geladas ao bel prazer de Webster, bem como a transposição química da kriptonita, facilmente executada por Gorman, sem qualquer ressalva ou necessidade de conhecimento científico.

    Superman III 3

    Mesmo quando dividem tela, o kriptoniano parece subalterno ao humorista, em uma óbvia declaração sobre de quem é a jornada a ser seguida, apesar do título oficial. As desculpas para mudanças de humor e postura do herói só não são mais vexatórias que as manifestações das Nações Unidas, que votam contra o Superman, exceto a Colômbia, que dever ter percebido que o vigilante não tem cargo eletivo em esfera nenhuma. As piadas seguem ao se tentar subverter de maneira esdrúxula o papel de mulher fatal supostamente burra de Lorelei (Pamela Stephenson), que apesar de seus trajes sumários fala sobre a obra de Immanuel Kant, em um monólogo tão pueril que chamá-lo de argumento acaba por ser superestimado.

    Não há motivação válida para Wester e Gorman quererem a derrocada de Superman, nem razão plausível para esse filme ter sido finalizado e lançado ao público. Em tudo que se propõe ele falha, pois não é nem uma aventura escapista interessante, nem uma comédia descompromissada válida, e muito menos um filme épico. As discussões a respeito do petróleo e de como a questão afeta os menos abastados é patética, tanto quanto o drama da Lang, ao ser perseguida pelo inconveniente galanteador Brad Wilson (Gavan O’Herlihy), ainda que nenhum desses aspectos cause mais vergonha do que o escurecimento da paleta de cores do uniforme do Super-Homem e sua barba por fazer, que é a mostra de que sua postura mudou para a de um cara malvado. Nenhum maniqueísmo de época é capaz de suavizar a péssima escolha deste tipo de arquétipo.

    A luta mental interna, ocorrida no ferro velho, entre a versão malvada e a tacanha e tímida de Clark Kent exige de Reeve uma atuação mais esmerada, fator que soa como piada ainda maior dada a péssima construção de tensão, diálogos e da arte conceitual. Há até o trabalho da face ruim em retirar com cuidado os óculos do repórter, para logo depois esmagá-los em uma negação de sua própria identidade, que seria interessante em essência, não fosse a imbecilidade de sua condução.

    A batalha de mísseis, acompanhada de uma simulação de vídeo game, é tão ruim que basicamente credencia toda a ideia do que viria a ser o quarto capítulo da saga, já longe da chancela da Warner. A ideia da máquina inteligente, com ódio pessoal do Superman, é um deboche terrível da figura de Brainiac, que seria o vilão em uma das versões do roteiro. Os 124 minutos parecem uma eternidade, dada a completa falta de ritmo e carga dramática presente nos eventos contados no longa-metragem.

    O embate entre o gênio do humor e um ícone americano retirado dos quadrinhos resulta em um filme sem alma, que faz troça da carreira anterior do personagem no audiovisual e se presta a momentos vexatórios com interferências humorísticas de monumentos estrangeiros, o que, em suma, resume o texto paupérrimo que baseia este Superman III, desnecessário em cada segundo de exibição.