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  • 10 Grandes Musicais da Era de Ouro de Hollywood

    10 Grandes Musicais da Era de Ouro de Hollywood

    Da revolução técnica de O Cantor de Jazz, ao moralismo cínico mas muito popular de La La Land (o filme mais premiado da história do Globo de Ouro), talvez o gênero da aventura rivalize com o musical a simbolizar os valores que Hollywood tanto se esforça desde o primeiro estúdio do fatídico MGM para passar ao mundo: Escapismo, entretenimento, diversão, diversidade… Entre os anos de 1920 e 1960, nenhuma era na indústria do cinema americano reuniu tantos sucessos: A era de ouro. A seguir, separamos uma dezena de exemplos cheios de uma vivacidade irresistível.

    O Cantor de Jazz (Alan Crosland, 1927)

    O Cantor de Jazz é o representante perfeito para atestar a importância dos musicais para a história do Cinema mundial. A revolução sonora que o filme provocou ainda reverbera feito marolas na técnica empregada num sem-número de obras, de lá pra cá. Mais que um mero expoente revolucionário, é de uma beleza lírica e de uma suavidade narrativa totalmente fora de moda hoje em dia. Um fóssil cinematográfico indispensável, e preso no seu próprio tempo.

    Melodia da Broadway (Harry Beaumont, 1929)

    O primeiro musical da MGM, prestes a completar 90 anos, é muito mais do que um marco, dois anos após o triunfo sonoro do Cinema em O Cantor de Jazz. Melodia da Broadway é o avanço do espetáculo hollywoodiano equilibrando, numa alegoria de romance e muita graça impressa em quadros estáticos e pompa típica dos anos 20, imagens e sons verdadeiramente vibrantes.

    O Mágico de Oz (Victor Fleming, 1939)

    Um desses contos imortais que registram tudo de fantástico de uma época, quando a magia era necessária após a primeira grande guerra, feito antídoto as agruras de uma realidade violenta. Talvez O Mágico de Oz, sobre a aventura da pequena Dorothy, seu Totó e amigos contra a bruxa do oeste seja o filme mais poderoso (e encantador) a atingir o alvo da nossa imaginação.

    Fantasia (James Algar, Samuel Armstrong, Ford Beebe Jr., Norman Ferguson, David Hand, Jim Handley, T. Hee, Wilfred Jackson, Hamilton Luske, Bill Roberts, Paul Satterfield, Ben Sharpsteen, 1940)

    Nunca mais houve um musical na Disney igual Fantasia. Não houve, e talvez não haverá a ousadia histriônica de explorar as possibilidades da animação 2D, na época uma revolução sem igual na arte do espetáculo, através da ótica de composições eruditas clássicas e de energia irrefreável, muitas vezes alucinógena e delirante. Uma viagem do céu ao inferno com Mickey, sua vassoura encantada e o cenário inteiro obedecendo apenas ao ritmo imprevisível das músicas. Mágico e perturbador.

    Sinfonia de Paris (Vincente Minnelli, 1951)

    A grande cena, entre tantas outras de apoteose acachapante, do artista (Gene Kelly) se aplaudindo é heartbreaking num nível pouquíssimas vezes concebível em outros musicais, historicamente falado, e o tempo prova esses momentos como absolutamente atemporais. Um sábio uso de efeitos visuais práticos e truques de edição, todos inesquecivelmente mágicos.

    Cantando na Chuva (Stanley Donen e Gene Kelly, 1952)

    É Teatro e Cinema numa simbiose insuperável, nos tornando reféns de tamanha hipnose. Poucas vezes um filme de estúdio foi tão bem sucedido por ser um filme de estúdio. Um dos grandes entretenimentos que Hollywood já produziu em qualquer gênero da sua história centenária.

    A Roda da Fortuna (Vincente Minnelli, 1953)

    Por mais bem intencionados que foram os irmãos Coen com a refilmagem de 1994 (leia nossa crítica), o filme com Tim Robbins não chega nem perto da genialidade desse verdadeiro épico de Vincente Minnelli, um dos maiores nomes dessa colorida e descompromissada Era de Ouro. Visionário, A Roda da Fortuna pode ser facilmente o símbolo dessa era, revitalizando muito do que já tinha acontecido e apontando para um futuro abarrotado de possibilidades artísticas.

    Carmen Jones (Otto Preminger, 1954)

    Antes dos musicais ficarem cada vez mais, e mais realistas, e afirmarem entre canções e coreografias que não é possível ser feliz na América se você não for branco(a), um tal de Otto Preminger pegou uma ópera e transformou em festa a identidade negra, encapsulada em cinemascope, grandes músicas, atuações e uma glorificação tão própria que até hoje não ganhou concorrente. Carmen Jones é muito mais que pura festa.

    Minha Bela Dama (George Cukor, 1964)

    Logo após o impacto sociocultural de Amor, Sublime Amor, Hollywood refez a cartilha romantizada de um gênero através do classicismo de Minha Bela Dama, com um elenco ímpar e grande inteligência, ao invés de Mary Poppins, este limitado aos vícios que se espera de uma realidade esquizofrênica em que todos dançam no compasso duma infantilidade quase ofensiva.

    A Noviça Rebelde (Robert Wise, 1965)

    O delírio (sustentável apenas pela música) do american life style do recente pós-segunda guerra, em doce movimento, contextos familiares, resgate da magia e canções – essas, sim, mais que deliciosas. A cena da montanha resume toda a graça que pode conter um musical. Se já é difícil ficar indiferente a doçura de A Fantástica Fábrica de Chocolate (desculpe o trocadilho), quanto mais à Noviça Rebelde, e tudo que podemos extrair dele. Que nunca ganhe uma refilmagem.

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  • Crítica | Cantando na Chuva

    Crítica | Cantando na Chuva

    Dentre os instrumentos de manifestação artística, o cinema talvez seja o que mais facilita o artificio da metalinguagem e é notório quando em um filme que fala exatamente sobre Hollywood haja uma fala tão incrédula e resumidora da conjuntura criativa mainstream. Ao ter seu carro invadido por um ator pretensioso – Don Lockwood, vivido pelo eterno Gene Kelly – a moça simples Kathy Selden (Debbie Reynolds), ao afirmar que não vai muito ao cinema, dispara que se já viu um, já viu todos. A química entre o casal de protagonistas só funciona graças ao desprezo da mulher sobre o homem, que está acostumado a ser adulado o tempo inteiro, e essa é somente uma das muitas quebras de expectativa que o filme de Kelly e Stanley Donan realiza.

    Em meio a indústria do cinema mudo, o roteiro de Betty Comden e Adolph Green transita, mostrando os detalhes sórdidos de um cinema norte americano em construção, em meio a números musicais inspirados e com uma coreografia afiada e inspiradora. Mais do que a construção de cenários grandiosos e luxuosos, há um cuidado em louvar a indústria como um todo, valorizando inclusive as funções de contra regra e demais membros da produção, em especial os que fazem o trabalho mais pesado.

    O ponto de ruptura da perfeição que é todo esse ambiente idílico, é a transição do formato do cinema mudo para o falado, mudança essa que atrapalharia a estrela Lina Dumont (Jean Hagen), que era belíssima mais tinha uma voz ruim. Tal situação abre espaço uma farsa, onde se usaria a voz de Kathy para substituir o som esganiçado que saia da garganta de Lina.

    Apesar de ser um clássico, o argumento traz a tona assuntos bastante controversos, como o papel da mulher no showbusiness e o esforço tradicional em relegar esta a um segundo plano, seja na supressão da imagem de Selden, que deveria somente emprestar sua voz e não o audiovisual, como também na busca por seus direitos, somente ocorrido após o famoso ator se apaixonar por ela, como se a mulher fosse apenas um prêmio a ser disputado, desprovida de identidade e da busca por seus próprios sonhos. Nesse ponto, o trabalho de Reynolds é salutar, pois sua postura além de conter uma enorme graça, também reúne uma audácia poucas vezes vistas em papéis femininos, e isso ocorre desde sua primeira aparição, quando ela finge não se interessar pelo formato cinema, como em uma resposta atravessada de que se aquela não era uma arte capaz de ser palco para seu talento, não haveria de debruçar interesse sobre ela.

    O equilíbrio entre reverenciar o cinema dos anos vinte e denunciar as injustiças que incorreram em toda a história da construção da sétima arte é alcançado a maestria, claro, sem descuidar de uma direção de arte tão inspirada quanto a série de músicas entoadas por Kelly, Reynolds e pelo coadjuvante de luxo Donald O’Connor. A ode à arte que faz Cantando na Chuva transcende as meras homenagens e se torna uma real desconstrução do irreal dentro da linguagem cinematográfico, soando ainda mágico em sua proposta musical, tendo um caráter poético e metalinguístico que alia forma e conteúdo em torno da arte.