Crítica | Rainhas do Crime
Baseado em um quadrinho da Vertigo The Kitchen (no Brasil, A Cozinha – Rainhas do Crime), o longa-metragem de Andrea Berloff tem o terrível nome traduzido para Rainhas do Crime, e mostra três mulheres de meia-idade, Kathy (Melissa McCarthy), Ruby (Tiffany Haddish) e Claire (Elisabeth Moss), que apoiam seus maridos e sofrem de clichês bem apelativos, como maus tratos, violência doméstica e humilhações mil, denunciando clichês apelativos. O filme sofre demasiadamente como chavões e lugares comuns de filmes que tem mulheres como protagonistas, e faz isso de maneira bem atabalhoada.
Berloff tem uma carreira como roteirista, fez adaptações de bons textos, como Straight Outta Compton e outras mais complicadas e moralistas, como Torres Gêmeas de Oliver Stone, e entre os dois, essa nova adaptação lembra mais a segunda, principalmente no problema que é a total falta de sutileza, especialmente quando fala sobre os abusos que as mulheres sofrem. Há algumas semelhanças narrativas com As Viúvas, de Steve McQueen, mas qualquer comparação fora o plot soa ofensiva para esta obra citada.
As mulheres, na falta de dinheiro, resolvem tentar pegar as coletas de seus três maridos, mas a estratégia delas é ridiculamente inverossímil demais para uma adaptação que quer parecer realista. Não é trabalhado em nada o modo como elas se organizaram, nem um nível mínimo, no entanto, elas passam a competir com os gangsteres irlandeses veteranos e essa aura falsa piora quando o escopo de mafias aumenta, com os judeus e italianos.
Não se convence em nada que o trio de personagem controla os meandro do crime na Cozinha do Inferno. Quase não há esforço, nem por parte delas nem por parte do roteiro de Berloff. Há muitos atalhos que apela para o lugar comum, e tudo fica incongruente, ao ponto de ter até um personagem que se vale de Deus Ex Machina, aparecendo convenientemente para causar impacto e sensacionalismo, e pior, se apela para um “quase” gore gratuito, que só está lá para a trama parecer adulta.
Os antagonista são fracos, a rivalidade na família criminosa idem e os personagens secundário não tem qualquer tridimensionalidade – pudera, pois até Moss e McCarthy tem falas dignas de riso, e justificativas das mais pobres para a maioria de suas ações, a exceção aí é Ruby, embora sua interprete não seja muito boa além da beleza. A HQ não é bem traduzida, a questão de que o crime organizado é preconceituoso demais para aceitar mulheres mandando é bem trabalhado no gibi, aqui, não, tudo prima pela superficialidade.
As passagens de tempos e falas sobre a duração pena dos três maridos soam confusas demais, há contradições e falas bem crassas sobre esse assunto, até porque não faz qualquer sentido elas como parentes ficarem surpresas sobre o retorno a liberdade dos mesmos, até porque o script quer fazer crer que elas são super inteligentes. O discurso feminista perde força com os clichês do roteiro, cenas que deveriam ser icônicas, como quando Claire se “batiza” não tem impacto, pois são repetidas ao longo do filme e não tem peso. O humor normalmente é fora de hora, e várias atitudes dos bandidos não faz sentido, nem as mudanças de gênero, tipo físico e personalidade das heroínas é sub aproveitada, a questão da mulher negra é arranhada superficialmente.
Rainhas do Crime acaba soando moralista e muito banal, desdenha de maneira ingênua e pueril sobre o discurso progressista que defende, soando em alguns pontos como uma piada de mal gosto, e todas as boas intenções politicamente corretas do filme se diluem, não consegue entreter ou divertir tampouco faz se importar com as personagens, o que é uma pena, pois a historia original tinha um belo potencial.