Crítica | A Supremacia Bourne
Contrariando o desfecho positivo de A Identidade Bourne, filme anterior da franquia, o primeiro episódio dirigido por Paul Greengrass começa uma narrativa bem diferenciada de Doug Liman, tanto no clima mais pessimista estabelecido na primeira conversa de Jason Bourne (Matt Damon) e sua amada Marie (Franka Potente), quanto no modo de conduzir a câmera, com super-closes e registros em ângulos fechados, movimentados por uma mão trêmula emulando a pseudo-realidade vista em documentários. A Supremacia Bourne seria ainda mais marcante e ditaria ainda mais regras para o futuro do cinema de ação mainstream.
A caçada se inverte, uma vez que Jason era perseguido no primeiro e se torna o agressor ao perceber que perdeu tudo o que tinha estima. O grupo, que antes o monitorava e que verificava cada um dos seus passos, passa a ser o alvo de suas habilidades de assassino nato e o senso de urgência se torna ainda mais real, especialmente nas expressões que Damon deixa transparecer ao longo de sua busca.
Os sub-plots e aliterações dos personagens periféricos perdem força, especialmente no referente a Ward Abbott (Bryan Cox) e Nicky (Julia Stiles), que são importados do primeiro episódio para fazer ponte entre uma história e outra, sem ter absolutamente importância nenhuma em comparação com o visto anteriormente. No entanto, até a obsolescência de ambos serve bem à trama, mostrando o quão terrível e inevitável poderia ser o destino de ambos.
Karl Urban faz às vezes de Clive Owen neste segundo filme, servindo de embate para o personagem principal como Kirill, um sujeito que também é um espelho maligno do herói. Sua presença, de certa forma, contradiz parte do argumento do primeiro longa, ainda que acrescente mais uma camada de discussão em relação à paranoia que habita o ideário da franquia Bourne, que se torna ainda mais grave e adulta graças aos temas debatidos pelo texto de Toni Gilroy.
Se em Identidade Bourne o assunto mais profundo era a busca por uma identificação e a consequente fuga da verdade, em Supremacia é o controle da informação que gera todos os dramas, desde os pessoais até os males sociais. A sociedade moderna tem de lidar com o volume cada vez maior de dados circulando, e é esse tráfego de informação que facilita a execução dos personagens caros ao roteiro, conjecturando uma teia de dados que, ao invés de ajudar o homem, o faz caçar-se mutuamente, aumentando o receio de ter a própria privacidade e intimidade invadidas.
A escalada narrativa em Supremacia Bourne é muito bem construída e ainda é adequada, ainda mais em relação à histeria generalizada que tomou conta dos Estados Unidos na década de 2000. Além de ser fruto de seu tempo e de estabelecer ainda mais o paradigma do herói que faz tudo sozinho, ainda une a isso uma história coesa e com conteúdo relevante, diferenciando-se assim do arquétipo dos brucutus dos anos 1980, determinando que, dali para frente, os action movies precisariam de algo a mais, seja uma abordagem temática mais redonda ou inventividade com a câmera em mãos, fatores muito abundantes nesta segunda parte da franquia.