Crítica | É Apenas o Fim do Mundo
A carreira meteórica de Xavier Dolan costuma esconder um problema recorrente em sua filmografia, que é a irregularidade geral quanto a qualidade de seus filmes. Após um exercício profundo e interessante em Mommy e cercado por altas expectativas graças a recepção que teve no Festival de Cannes, É Apenas o Fim do Mundo prometia muito, resultando em um produto frívolo e pretensioso, que sub aproveita o belo elenco que tem em mãos.
A história gira em torno de um personagem sem muitas nuances, o escritor Louis (Gaspard Ulliel), um escritor que vai visitar sua mãe (Nathalie Baye), irmã Suzanne (Léa Seydoux) , irmão Antoine (Vincent Cassel) e cunhada Catherine (Marion Cotillard) a fim de dar uma notícia ruim, de que estaria a beira da morte. A partir deste situação, começa uma discussão em fim entre os familiares, especialmente da parte de Antoine, onde as feridas se abrem e uma fogueira de vaidades toma a tela de assalto.
Os maneirismos de Dolan funcionaram em Mommy, até pela juventude de seu personagem principal e pela estética cabível, aqui esse artificio soa bobo e desnecessário, nada condizente com uma reunião que deveria ser cara e sentimental. O que se vê é uma verborragia que ocorre via gritaria e uma completa ignorância do personagem mais humano – Antoine – inclusive demonizando seus ciúmes e anseios, enquanto se glorifica a pessoa mais sem carisma da trama, em momento nenhum justificando o endeusamento a Louis.
A intensão de registrar o falatório seria para fazer o espectador ter sua própria conclusão, no entanto, a resignação do personagem não deixa dúvida, Louis acaba sendo o herói porque mesmo prestes a morrer ele não responde as respostas atravessadas de seus parentes. A música noventista da trilha antecipa os sentimentos familiares, quebrando a ideia previa de deixar o público decidir por si e o julgamento bobo sobre o uso de drogas faz o filme soar esquizofrênico e indeciso, variando entre um discurso libertário e absolutamente moralista.
É Apenas o Fim do Mundo é propositalmente incomodo, tenta emular essa adjetivação ruim através do colapso familiar e de um justificado auto isolamento do personagem, mas ainda assim entrega pouco. Soa covarde tanto por parte do personagem principal quanto do roteiro a escolha por não reagir. Tanto o texto quanto o herói da jornada parecem anestesiados em meio a um mundo caótico e auto destrutivo. Os paralelos com histórias bíblicas, como Caim e Abel sendo o exemplo mais evidente acaba por tornar toda a trama ainda mais boba, o que é uma pena, visto o desperdício em relação a performance dos atores, exceção claro a Cassel, que soa interessante ao menos até o final do filme.