Tag: Grace Passô

  • Crítica | Temporada

    Crítica | Temporada

    O cinema de André Novais Oliveira, diretor mineiro que também fez o recente Ela Volta na Quinta mistura uma estética naturalista com um elenco normalmente formado por amadores, registrando um Brasil comum, formado por gente de verdade e que reflete sobre o cotidiano desses. Temporada também reúne esses elementos, e seu inicio é acompanhado de uma musica instrumental ao estilo fanfarra, como boa parte dos filmes norte americanos de comédia antigos.

    Em uma escola de Minas, é apresentada a nova funcionária Juliana, vivida por Grace Passó, uma mulher que vem de Itaúna para o interior de Contagem, trabalhar com o controle de endemias na região. A moça tem problemas de labirintite, e sempre corre o risco de desmaiar e isso agrava o serviço que prestará, pois parte do seu trabalho é fiscalizar as casas e terrenos, tendo que tomar cuidado para não se ferir com cobras e escorpiões que podem estar nos canos ou no quintal repleto de mata.

    A rotina de Juliana é basicamente formada por trabalho e poucos momentos de lazer, normalmente envolvendo os colegas do trabalho, seja tomando cerveja em um churrasco improvisado no quintal do centro de coleta, discutindo as dificuldades financeiras que envolvem o trabalho ou interagindo nas redes sociais com as pessoas de sua antiga cidade, tendo conversas que envolvem todo o lugar comum do que posta no facebook, além é claro de ligações mais íntimas, com o seu marido que ainda mora na sua antiga cidade.

    O filme se dedica a mostrar o incomodo que Juliana tem com qualquer aproximação mais incisiva. Ela até se deixa relacionar com as pessoas, mas só com uma intimidade mínima, quando as perguntas ou indagações tocam a sua vida pessoal, ela rateia, sai pela tangente e não permite nem a ela mesma extravasar e nem aos terceiros conhecerem ela de verdade.

    Entre abandonos e novas fases de sua vida, Juliana passa por essa fase esquisita de sua vida, conseguindo superar seus causos e enfim voltando a sorrir de maneira sincera, atingindo enfim seu estado de espírito alegre graças ao seu próprio esforço. Há muitas semelhanças entre esse e Ela Volta na Quinta, em especial por esse também não ter um drama pesado e específico para explorar, sendo apenas um pretexto natural para os atores desenvolverem seus papéis, e esse filme claramente é feito para Grace Passô, que brilha de maneira estupenda, e o restante, é bem comum, mais uma vez como é tradicional no cinema de Novais.

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  • Crítica | Praça Paris

    Crítica | Praça Paris

    Novo filme dirigido por Lucia Murat e roteirizado por Raphael Montes, Praça Paris mira alto ao tentar alcançar o posto de thriller psicológico e viés psicanalítico. Apesar da brincadeira com as palavras, a mistura entre os gêneros não consegue fluir naturalmente, fato que faz o longa carecer de uma identidade própria.

    Uma das regras não escritas para realizadores é a de se uma história secundária for melhor e mais rica que o mote principal, a melhor opção seria elevar essa a um patamar de importância maior. Isso parece ter ocorrido com a história que Murat propõe. Há dois núcleos distintos no roteiro, o da psicóloga portuguesa, Camila (Joana de Verona), que atende pacientes na UERJ, e da ascensorista e moradora da favela, Glória (Grace Passô), uma mulher que tem a rotina comum e sofrida, igual a milhões de brasileiros.

    Logo, o envolvimento das duas vai se estreitando de maneira natural e orgânica. Ambas quebram protocolos tradicionalmente estabelecidos entre paciente e analista. Totens comuns a tantos pacientes de psicanálise são jogados em tela, como abuso na infância, traumas não-resolvidos e revelados mais a frente, e claro, a crença no não tangível através da religião.

    A construção dos cenários urbanos é bem construído, tendo no Rio de Janeiro sob os olhos de Murat uma ótica repleta de veracidade. Os momentos no interior da faculdade estadual, das estações do metrô e das igrejas pentecostais ajudam a estabelecer esse clima de imersão do público.

    Ao mesmo tempo em que essas filmagens remetem a um Rio de Janeiro real, o foco em lugares de turismo pequeno tendem mostrar uma cidade para exportação, fato que obviamente casa com todo o ideal de Camila, que é uma mulher que está no Rio basicamente para saciar sua vaidade, preenchendo seu vazio existencial em atitudes pseudo-solidárias. Toda a construção em volta da personagem transborda alienação e futilidade ao ponto dela se achar o centro do mundo e alvo de todo e qualquer bandido carioca, unicamente por ter tido contato com alguém que, supostamente, tem envolvimento com bandidos poderosos.

    Os momentos finais resultam na reclamação do primeiro parágrafo, basicamente deixando Glória de lado para explorar as inseguranças infantis da outra personagem. A maior decepção em Praça Paris certamente é ligada ao rumo que as tramas desenrolam, deixando os aspectos mais flagrantes de lado para agradar ao espectador mais conservador e membro da elite carioca.

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