Tag: Raphael Montes

  • Agenda Cultural 66 | Cinema, Cobra Kai e Blacksad

    Agenda Cultural 66 | Cinema, Cobra Kai e Blacksad

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira) e Filipe Pereira (@filipepereiral) recebem Davi Garcia (@dav1garcia), do Ligado em Série e Cine Alerta, comentam sobre o que rolou no circuito de cinema; o terceiro volume de Blacksad, publicado pela Sesi-SP; Cobra Kai e outras séries.

    Duração: 64 min.
    Edição: Julio Assano Junior
    Trilha Sonora: Flávio Vieira e Julio Assano Junior
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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  • Crítica | Praça Paris

    Crítica | Praça Paris

    Novo filme dirigido por Lucia Murat e roteirizado por Raphael Montes, Praça Paris mira alto ao tentar alcançar o posto de thriller psicológico e viés psicanalítico. Apesar da brincadeira com as palavras, a mistura entre os gêneros não consegue fluir naturalmente, fato que faz o longa carecer de uma identidade própria.

    Uma das regras não escritas para realizadores é a de se uma história secundária for melhor e mais rica que o mote principal, a melhor opção seria elevar essa a um patamar de importância maior. Isso parece ter ocorrido com a história que Murat propõe. Há dois núcleos distintos no roteiro, o da psicóloga portuguesa, Camila (Joana de Verona), que atende pacientes na UERJ, e da ascensorista e moradora da favela, Glória (Grace Passô), uma mulher que tem a rotina comum e sofrida, igual a milhões de brasileiros.

    Logo, o envolvimento das duas vai se estreitando de maneira natural e orgânica. Ambas quebram protocolos tradicionalmente estabelecidos entre paciente e analista. Totens comuns a tantos pacientes de psicanálise são jogados em tela, como abuso na infância, traumas não-resolvidos e revelados mais a frente, e claro, a crença no não tangível através da religião.

    A construção dos cenários urbanos é bem construído, tendo no Rio de Janeiro sob os olhos de Murat uma ótica repleta de veracidade. Os momentos no interior da faculdade estadual, das estações do metrô e das igrejas pentecostais ajudam a estabelecer esse clima de imersão do público.

    Ao mesmo tempo em que essas filmagens remetem a um Rio de Janeiro real, o foco em lugares de turismo pequeno tendem mostrar uma cidade para exportação, fato que obviamente casa com todo o ideal de Camila, que é uma mulher que está no Rio basicamente para saciar sua vaidade, preenchendo seu vazio existencial em atitudes pseudo-solidárias. Toda a construção em volta da personagem transborda alienação e futilidade ao ponto dela se achar o centro do mundo e alvo de todo e qualquer bandido carioca, unicamente por ter tido contato com alguém que, supostamente, tem envolvimento com bandidos poderosos.

    Os momentos finais resultam na reclamação do primeiro parágrafo, basicamente deixando Glória de lado para explorar as inseguranças infantis da outra personagem. A maior decepção em Praça Paris certamente é ligada ao rumo que as tramas desenrolam, deixando os aspectos mais flagrantes de lado para agradar ao espectador mais conservador e membro da elite carioca.

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  • Resenha | O Vilarejo – Raphael Montes

    Resenha | O Vilarejo – Raphael Montes

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    Depois de seus dois thrillers, Suicidas – bom, mesmo com as falhas naturais de um autor iniciante – e de Dias perfeitos – cujo final boa parte dos leitores achou detestável – Raphael Montes apresenta ao leitor uma coletânea de contos de terror numa estrutura fix-up. A denominação é gringa mas quer dizer simplesmente que os contos são independentes entre si, mas interligados por um ou mais elementos, podendo ser lidos na ordem que o leitor preferir. Realmente, podem ser lidos em qualquer ordem, mas em O Vilarejo o mais indicado é deixar o último por último mesmo.

    São sete histórias curtas, cada uma delas enfocando um dos moradores do vilarejo e tratando de um dos sete pecados capitais. Montes faz uso de um recurso narrativo já conhecido, mas sempre interessante, afirmando que traduziu manuscritos em que constava referência a um teólogo alemão – Peter Binsfeld – que realmente existiu e escreveu sobre a classificação dos pecados, relacionando-os a demônios.

    “De acordo com seu trabalho, cada um dos demônios, os Sete Reis do Inferno, era responsável por invocar um pecado capital nos seres humanos: Asmodeus (luxúria), Belzebu (gula), Mammon (ganância), Belphegor (preguiça), Satan (ira), Leviathan (inveja) e Lúcifer (soberba).”
    (pag.8)

    Obviamente é uma honra ter seu nome citado junto ao de Stephen King na mesma frase (na capa), porém, sem querer desmerecer o autor, exceto pelo fato de partilharem do mesmo gênero, o terror, a comparação com King é um tanto quanto exagerada. Seja pela produção de Montes, parca em relação a de King, seja pelo estilo. Enquanto King é bastante descritivo, quase prolixo, Fontes é bem mais econômico nas palavras, tem um texto mais seco e, portanto, mais dinâmico, sem delongas.

    Os demônios nomeiam os capítulos, que tratam do pecado a eles relacionado. É interessante perceber como as histórias se entrelaçam, como o caminho dos personagens se entrecorta. Sob esse ponto de vista, as narrativas estão bem estruturadas. Contudo, em relação à construção de cada conto há algumas lacunas que poderiam ter sido melhor “preenchidas”, isto é, trabalhadas. Em três deles, o desfecho pode ser apreendido bem antes de revelado pelo autor – algo que, num texto tão curto, chega a ser brochante. Mas no geral, os textos se completam bem e algumas passagens são bastante chocantes, para não dizer indigestas.

    Vale destacar o projeto gráfico. As gravuras de Marcelo Damm que ilustram cada conto são impressionantes e complementam o clima sombrio das histórias. É um livro que possivelmente agrada mesmo aos leitores não habituados ao gênero.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • O Caso dos Mais Vendidos

    O Caso dos Mais Vendidos

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    Há um grande mistério na prateleira dos romances policiais, e não se trata de uma nova onda de crimes ou de mais um serial killer. A questão está mais ligada a títulos, autores e editoras do que propriamente aos atos ilegais e aos corpos espalhados pelo caminho. Se o leitor se dispuser a olhar as listas dos mais vendidos dos gêneros Crime-Suspense-Mistério, vai certamente notar que a esmagadora maioria vem de autores estrangeiros.

    Se espiarmos a lista na Amazon, encontraremos Agatha Christie, Ian Fleming, James Paterson, Stieg Larsson, Patricia Cornwell, Nora Roberts, Harlan Coben, George Simenon e Arthur Conan-Doyle entre os primeiros. Bem depois, esbarraremos em alguns conhecidos locais. Tal observação permitiria constatar que esse tipo de literatura só sobrevive à custa de escritores norte-americanos, ingleses, escandinavos, franceses… Mas rezam as cartilhas do romance policial que as primeiras pistas não são suficientes para solucionarmos o caso.

    Deixemos de lado a hipótese derrotista (“autor policial brasileiro não vende”) e arrisquemos uma pergunta em forma de paradoxo: os estrangeiros aparecem mais na lista porque vendem mais, ou vendem mais porque aparecem mais na lista?

    A pergunta se justifica por um dado. Dos quase 61 mil títulos lançados no país em 2014, apenas 9,7% foram traduções. Quer dizer: nove em cada dez livros no mercado são assinados por autores brasileiros. Os dados são de uma pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), encomendada pela Câmara Brasileira do Livro e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros. O estudo não detalha se essa proporção se mantém em Crime-Suspense-Mistério, e se isso acontecesse, aí sim, teríamos um resultado alarmante para os escritores nacionais: venderiam muito pouco se comparados aos colegas gringos.

    Mas não se pode afirmar isso por causa de outro fator: nos catálogos das editoras, raros são os autores nacionais nos gêneros em questão. Claro que essas informações não estão reunidas e sistematizadas, mas podem ser facilmente acessadas nos sites das editoras. Não são muitas as casas que se dedicam a esses livros (Record, Cia das Letras, L&PM, Benvirá, etc.), e elas têm historicamente priorizado a compra de direitos de tradução em vez de apostar em talentos locais. Na Suma de Letras, por exemplo, estão nomes como Michael Connelly e Stephen King (mesmo que este esteja mais para o terror que o policial). A Editora Record investe em Jo Nesbo, Andrea Camilleri e James Ellroy, e até mesmo reedita os suecos ancestrais Maj Sjöwall e Per Wahlöö. Para julho deste ano sai o novo livro de Marcos Peres, ganhador do Prêmio Sesc de Literatura e finalista do Jabuti e do Prêmio São Paulo de Literatura, o romance policial Que fim levou Juliana Klein?. Para além de Peres, André Amado e Al Gomes, quais são seus principais nomes nacionais no gênero?

    A Cia das Letras dedica fatia um pouco mais generosa às apostas brasileiras com Luiz Alfredo Garcia-Roza, Jô Soares, Raphael Montes, Tony Bellotto. A Intrínseca tem a série com o jovem Sherlock Holmes, e a Arqueiro prefere os best-sellers: é assim com os carros-chefe Dan Brown, James Patterson e Harlan Coben. Ano passado, a Arqueiro também organizou encontros de literatura policial pelas livrarias do país para promover as obras de seu catálogo.

    Outras editoras criam selos e coleções que só publicam autores não-brasileiros e ignoram a produção local do gênero. Nova Fronteira, Zahar, Globo Livros, Alfaguara e L&PM se concentram em títulos clássicos (com séries belíssimas de Agatha Christie, Raymond Chandler e Conan Doyle), e a Vestígio, do grupo Autêntica, investe em nomes mais contemporâneos. Na Rocco, há nomes estrangeiros e poucos nacionais no catálogo: de Benjamin Black, passando por Sophie Hannah, JK Rowling e Ruth Rendell a Patricia Melo, Luís Dill e Flávio Carneiro. A editora Planeta publicou o primeiro policial de Mario Prata (que escreveu mais um pela Leya) e um livro do paulista Roger Franchini. E pela Belas-Letras saiu, neste ano, Pólvora, do cantor Tico Santa-Cruz. Finalmente, na Editora Draco encontramos uma seleção de autores nacionais com romances e contos policiais comercializados, como Carlos Orsi e Cirilo L. Lemos. A maioria está disponível apenas em formato digital, e quem não tem um e-reader acaba não descobrindo o catálogo.

    As editoras brasileiras não abrem tanto espaço para autores nacionais por questões estéticas? Isto é: o gênero policial não funciona por aqui? As obras de Rubem Fonseca, Patrícia Mello, Marçal Aquino, entre outros, já mostraram a que vieram. Foram reconhecidas pela crítica e pelo público, e encontraram um lugar na literatura urbana contemporânea.

    As editoras brasileiras não publicam autores nacionais por razões mercadológicas? Quer dizer: o gênero não vende? Besteira. Leitores brasileiros continuam a consumir casos e mistérios, tanto em versões impressas quanto eletrônicas, apesar de estarem soterrados sob toneladas de filmes, seriados, programas de TV e outros produtos que nos impelem a descobrir os culpados dos crimes. Dias Perfeitos, de Raphael Montes, por exemplo, já foi editado em diversos países e, em breve, deve sair em Taiwan e Hong-Kong. O Matador e Elogio da Mentira, de Patricia Melo, já têm edições romenas!

    Raphael Montes

    Raphael Montes, autor de Suicídas e Dias Perfeitos

    Voltemos ao paradoxo, o mistério que nos trouxe até aqui: os estrangeiros aparecem mais na lista de best-sellers porque vendem mais, ou vendem mais porque aparecem mais na lista?

    Arriscamos dizer que as editoras brasileiras têm investido menos do que poderiam na safra de autores nacionais do gênero. As razões para isso estão mais nos temores financeiros que estéticos. Os motivos estão mais no conservadorismo e no oportunismo de mercado do que propriamente na qualidade dos originais recebidos. Afinal, para qualquer empresa, é menos arriscado vender um produto que fez sucesso lá fora ou foi agraciado com algum prêmio do que lançar um novo nome, oferecer um título inédito e original. É mais fácil pegar carona no sucesso internacional do que fomentar uma cena criativa local, que também pode ser bem lucrativa.

    Estamos tratando aqui de uma categoria específica de livros, os de Crime-Suspense-Mistério, que não é tão marginalizado quanto o Terror, por exemplo. Produções do cinema e da TV enxergam no gênero um terreno fértil de novos produtos e experiências. Não se trata de um fenômeno como o dos livros para colorir, um ponto fora da curva do mercado que já vendeu neste ano quase um milhão de exemplares, se contarmos apenas dois títulos, Jardim Secreto e Floresta Encantada, ambos de Johanna Basford, conforme dados da PublishNews. É uma raridade, um evento isolado. Estamos tratando de um gênero que existe e persiste há décadas, que está estabelecido, e que não demonstra cansaço ou perda de fôlego.

    Acreditamos que títulos de autores nacionais poderiam ter performances de vendas melhores se houvesse mais recepção de originais; se existissem mais lançamentos do gênero; se fossem investidas mais verbas de marketing e promoção; se fossem estimuladas produções derivadas das obras na TV e no cinema. Enfim, se os escritores locais tivessem mais espaço e visibilidade. Acreditamos que uma cena literária policial possa ser fomentada, já que existem muitos criadores do gênero no país. Prova maior está na quantidade de títulos lançados nos últimos anos na internet ou em formato impresso, sob o signo da autopublicação.

    Se a fresta estivesse menos estreita, poderíamos sonhar com embriões de uma geração criativa e produtiva no gênero policial. Clássicos e cânones como Agatha Christie e Simenon continuariam a frequentar as listas dos mais vendidos nas livrarias, mas poderiam ter vizinhos com o nosso sotaque e que narram crimes nas nossas paisagens.

    Texto de autoria de Chris Lauxx, pseudônimo dos jornalistas Rogério  Christofoletti e Ana Paula Laux, autores da enciclopédia Os Maiores  Detetives do Mundo e editores do site literaturapolicial.com