Resenha | Sangue na Lua – James Ellroy
James Ellroy estava em início de carreira quando lançou seu terceiro romance, Sangue na Lua, com o detetive Lloyd “Crazy” Hopkings. A partir deste romance, o autor cresce literariamente, modificando estruturas narrativas e moldando o estilo até atingir um primeiro ponto sublime em Dália Negra, que impulsionaria sua carreira destacada pelos romances policiais noir.
No prefácio assinado pela autor na edição da Record, pertencente a Coleção Negra, Ellroy menciona a composição de sua narrativa contrapondo-a a outra lançada um ano depois: Dragão Vermelho, de Thomas Harris. O escritor pontua suas impressões sobre este romance e assume as falhas de sua história perante uma que considera superior na construção de personagens e no paralelo entre assassino e policial. Um espanto que lhe impulsionou a escrever dois outros romances com o detetive Hopkings para tentar lapidar a personagem e aproximá-la da complexidade de Will Graham de Harris. Demonstrando assim, nas entrelinhas, a formação de seu romance ainda que ironicamente Harris teria somente este livro e O Silêncio dos Inocentes como obras-primas em sua carreira, narrativas forte o suficiente para gerar um impacto em outros autores.
Em Sangue na Lua, o detetive Hopkings investiga o violento homicídio de uma mulher quando descobre diversos casos antigos que poderiam compor a carreira de um serial killer. Transformando a investigação em uma obsessão que destrói sua família e põe em risco sua vida, o detetive à beira de um colapso tem um objetivo claro: deter o matador e descobrir sua identidade.
É possível observarmos o embrião da prosa do autor em formação. O estilo narrativo seco equilibrado com bonitas metáforas poéticas que realizam brutais descrições belas. O domínio em desenvolver personagens conflitantes é notável, ainda que a investigação seja um tanto precária devido a sua condução inserida no tradicional estilo do escritor, que desenvolve sempre três atos em suas tramas focando, em momentos anteriores ao ato central, a investigação em si, e o desenlace após a conclusão da investigação. Sendo assim, há uma construção anterior da personagem central para que se compreenda sua psicologia, bem como uma estrutura que fundamenta as motivações do assassino.
Embora tente criar uma efetiva contraposição entre policial e assassino, o estilo e o desenvolvimento do ambiente e as tensões da época se destacam com mais vivacidade, retratando uma dualidade presente em seus romances posteriores com homens da lei vivendo à margem da lei, tanto por atos escusos quanto pelo desamparo em serviço. Quando o embate chega ao ápice, o autor conduz a ação com qualidade, principalmente devido ao seu estilo narrativo capaz de decompor frases comuns ao gênero, como descrições de assassinatos e mortes, com uma poética peculiar que causa choque no leitor, pela leveza momentânea de entregar frases com detalhes grotescos.
Além de uma obsessão comum em investigações fictícias, o detetive Hopkins apresenta as características tradicionais de muitos policiais personagens vivendo com retidão no trabalho mas apresentando deslizes em vícios, além do detrimento familiar. Sua índole tempestuosa se destaca mas foge de qualquer personificação diferenciada como Ellroy afirma em texto que acompanha a contracapa da edição. Ainda assim, a leitura de sua obra inicial é interessante como material comparativo de uma vertente a qual não demonstra o mesmo fôlego do que aquela que o consagrou.
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