Crítica | Labirinto de Mentiras
O concorrente alemão ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro não traz muito alarde consigo. Apesar de recorrer ao plano de fundo histórico da Segunda Guerra Mundial, o longa-metragem dirigido por Guilio Ricciarelli elabora uma narrativa leve e sem apelos dramáticos, pela perspectiva mais negativa possível do resgate histórico.
O filme nos traz Johann Radmann (Alexander Fehling, rosto familiar em Bastardos Inglórios), um jovem promotor que inicialmente, possui um trabalho monótono e pragmático. Sua rotina profissional e pessoal se transforma quando encontra com o jornalista Thomas Gnielka (André Szymanski). A partir de pequenas reuniões, informações e buscas, Johann se vê em meio ao começo dos processos investigativos dos crimes cometidos em Auschwitz, o campo de concentração responsável por massacrar a população judia durante a década de 40, período do conflito.
Aos poucos, o filme vai dando pequenas pinceladas sobre os fatos que estavam acontecendo treze anos depois do fim dos confrontos. Os processos de antinazismo, a implementação gradual de órgãos americanos na desassociação da influência nazista na sociedade alemã, as divergências dos apoiadores e de quem foi contrário ao regime.
Outro ponto interessante e um triunfo a ser exaltado é a falta de tendencialidade. O filme não caracteriza o lado nazista como o mais perverso do mundo, o vilão a ser enfrentado sobre todos os custos. Ele sai da ideia opinativa e se baseia em conceitos explicativos e demonstrativos. Há dados, estatísticas, questões técnicas e jurídicas que dão base nos argumentos levantados pelos promotores responsáveis pelas prisões dos agentes nazistas. Mesmo que no final o protagonista tenha seu breakout e desenvolva paranoia a partir de uma infeliz descoberta, este arquétipo não é manifestado no decorrer do longa.
Guilio estreia de maneira inquietante e elaborativa. Demonstra um jogo de câmeras interessante, planos sequências desbravando pequenos interiores e associando-os às características e situações atuais dos personagens em cena. Há uma intuição construtiva por parte da direção que permite interpretar as nuances pessoais a partir de análises visuais.
Orgânico, bem calculado, filmado, produzido e com um tema histórico importante, Labirinto de Mentiras é um curioso registro ficcional do início do julgamento de Frankfurt e do combate ao que remanescia do nazismo na derrotada Alemanha.
Texto de autoria de Adolfo Molina Neto.