Melhores Filmes de 2014, segundo Jackson Good
Mais um ano se encerra, mais uma vez é hora de analisar o que o cinema nos trouxe nesta última translação da Terra – e de também de vencer a preguiça de escrever estas introduções. Um fato curioso: sete dos títulos presentes no TOP 10 são continuações, principalmente segundos filmes. O que isso significa? “Ah, Hollywood está passando por uma crise criativa, não há mais originalidade” – na boa, vamos tirar o monóculo e relaxar um pouco. O que importa é o filme ser bom, independente de ser o primeiro ou vigésimo de uma franquia.
Rápidas menções honrosas: O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro: o Cabeça-de-Teia da Nova Geração segue com vários problemas, mas desta vez teve seus acertos. O final corajoso e a grande evolução em relação a seu antecessor garantem a lembrança; Hércules: subestimado e até injustiçado, o longa estrelado por The Rock parte de uma interessante premissa de “verdade por trás do mito”, e apresenta uma digna aventura sandália-e-espadas, gênero tão maltratado ultimamente; No Limite do Amanhã: um competente sci-fi de ação, melhor representação de um game na telona (sem ser uma adaptação de jogo), e o tio Tom Cruise mostrando que ainda tem lenha pra queimar; Robocop: José Padilha apanhou simplesmente porque a galera não conseguiu se desprender do original. Ainda que peque nas cenas de ação, o remake acertou no cuidado que teve ao construir e embasar seu cenário, justificando a existência do Policial do Futuro.
A triste menção desonrosa fica para Os Mercenários 3. Após a maravilhosa e catártica homenagem autoirônica ao cinema brucutu vista no segundo filme, inexplicavelmente Sly e sua trupe decidiram se levar a sério. O resultado foi uma sequência esquecível e sem qualquer atrativo.
Antes de (finalmente) partir para os melhores do ano, cabe o tradicional aviso aos navegantes, sejam marinheiros de primeira viagem ou marujos calejados que por acaso esqueceram: o único critério para presença, ausência e ordem dos filmes na lista é o gosto pessoal do redator. O título, aliás, já dá uma boa ideia do que esperar.
Ao contrário do supervalorizado lançamento da Disney com a música que ninguém aguenta mais ouvir, esta sim é uma animação de encher os olhos. Acertando em cheio no mantra de agradar a crianças e adultos, o filme da DreamWorks expande seu criativo universo de vikings e dragões, com visual fantástico e personagens carismáticos. Destaque para a jornada de amadurecimento do protagonista Soluço, pontuada de maneira extremamente corajosa.
9. Operação Invasão 2
Ainda não dá para engolir esse título nacional… Enfim, a continuação do sucesso The Raid: Redemption apresenta o agente da lei porradeiro Rama tendo que se infiltrar em uma organização criminosa para resolver um complicado caso que envolve corrupção policial. O apelido “Tropa de Elite indonésio” faz mais sentido do que nunca, pois há uma visão mais ampla do crime organizado local. A ambição fez com que o filme perdesse um pouco de ritmo e charme inovador em relação ao primeiro, mas as coreografias de luta seguem tão insanas quanto – ou mais. Iko Kuwais é sem dúvida o grande nome do cinema de artes marciais atualmente.
8. O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos
Aleluia! Finalmente acabou! Não a trilogia, mas o mimimi em volta dela. Desde O Hobbit: Uma Jornada Inesperada já estava clara a opção de Peter Jackson e do estúdio: muito mais do que adaptar o livro O Hobbit, construir uma “Nova Trilogia” da Terra-Média. Decisão questionável, sem dúvida, mas não tem sentido apontar isso pela terceira vez. Analisado isoladamente, A Batalha dos Cinco Exércitos encerra a saga de maneira positiva, com um ritmo inegavelmente menos cansativo e aspectos técnicos irrepreensíveis. As grandes cenas de batalha, destaque para os combates individuais, valem o ingresso.
7. Rurouni Kenshin: Kyoto Inferno
Sem lançamento oficial no Brasil (como se alguém se importasse), esta sequência mostra a primeira parte da saga do icônico vilão Makoto Shishio. Aquilo que mais chamou a atenção no primeiro filme é mantido: a sagaz percepção da diferença entre mangá/anime e live action, do que funciona em uma mídia e em outra. Podando os exageros – poderes sobre-humanos, lutadores berrando os nomes das técnicas – o admirável trabalho de adaptação consegue ser “realista” na medida do possível. Um clássico filme de samurai, com roteiro mais maduro em relação a seu antecessor, e cenas de ação ainda mais empolgantes.
6. Planeta dos Macacos: O Confronto
O fenomenal desempenho de Andy Serkis na atuação por captura de movimentos mais uma vez é acompanhado por um roteiro à altura. Cesar encara os desafios de ser um líder mediante o choque entre civilizações em diferentes estágios de evolução tecnológica. Tudo é tratado de maneira crível, sugerindo um sentimento de inevitabilidade, pois há mal-intencionados em ambos os lados (que minam os esforços pacificadores dos bem-intencionados). E o melhor: o fato de uma das facções ser composta por símios evoluídos é irrelevante, tamanhos os paralelos com a nossa realidade histórica que podem ser encontrados no filme.
Consenso como a grande surpresa de 2014, a loucura espacial da Marvel conseguiu conquistar público e crítica. Aproveitando o grupo de heróis desconhecidos, sem grandes amarras, o estúdio apostou na zueira sem limites e se deu bem. Personagens marcantes e que só melhoram quando interagem, nada sutis referências culturais (Kevin Bacon = piada do ano) e ação visualmente bem orquestrada garantiram uma divertida aventura com climão anos 80. E que antídoto melhor contra Let It Go do que Hooked On A Felling?
Viva a globalização: o filme é baseado numa hq francesa, dirigido pelo sul-coreano Joon-Ho Bong, e conta com um elenco estrelado que inclui Tilda Swinton, John Hurt, Ed Harris, e o protagonista Chris Evans mostrando que sabe, sim, atuar. Em um cenário pós-apocalíptico onde o planeta foi congelado após um experimento que combatia o aquecimento global, os humanos restantes sobrevivem em um trem que percorre o mundo, completando uma volta a cada 365 dias. A divisão de classes é nítida: poucos vivem luxuosamente nos vagões da frente, sustentados pela maioria que trabalha e vive em péssimas condições na cauda da locomotiva. Tenso, provocativo e poderoso, o filme combina violência brutal com conceitos sociais espetaculares, e o mais importante, acessíveis. Não é preciso fazer mestrado em cinema iraniano para captar as metáforas presentes na história.
3. X-Men: Dias de um Futuro Esquecido
Com Bryan Singer retornando à direção da franquia que iniciou há longínquos 14 anos, o longa tinha a ingrata proposta de organizar a cronologia mutante nos cinemas. Não foi muito bem-sucedido nesse ponto (rebootou/desconsiderou tudo menos X-Men: Primeira Classe), mas individualmente se provou digno das melhores histórias dos X-Men. O preconceito e o medo presentes na relação entre humanos e mutantes estão no centro da história, que não tem medo de deixar Wolverine e Magneto como coadjuvantes e focar no desenvolvimento heroico de Charles Xavier. Existem alguns exageros (Erik com poderes quase divinos) e furos de roteiro, afinal, viagem no tempo nunca é terreno fácil, mas nada que comprometa o resultado final.
2. Capitão América 2: O Soldado Invernal
Justo quando parecia estar perdendo a mão, o Marvel Studios se redime brilhantemente com a segunda aventura solo do Sentinela da Liberdade. Inspirados na abordagem mais recente que o personagem vem tendo nos quadrinhos, os irmãos Russo trabalham elementos de política e espionagem sem deixar de lado a ação super-heroística. Chris Evans (aparecendo duas vezes no Top 5, os haters enlouquecem) encarna Steve Rogers com segurança, mesmo frente a Samuel L. Jackson e Robert Redford. Para não mencionar a bem sacada presença de Scarlett Johansson como Viúva Negra, sidekick de luxo. Se Guardiões da Galáxia sinaliza potencial para diversidade, Capitão América 2 é o filme que dá seriedade ao universo compartilhado da Marvel no cinema.
1. Interestelar
O campeão do ano não poderia deixar de estar envolto em polêmica. Interestelar se mostrou um típico “ame ou odeie”, com um lado se apressando em equipará-lo aos maiores clássicos do gênero sci-fi (nunca vou entender essa necessidade) e outro se concentrando em atacar o diretor e seu estilo. Os méritos do longa em si, uma pena, foram um tanto ignorados. O maior deles foi ter alcançado um sensacional equilíbrio entre conceitos científicos instigantes e um tocante drama familiar, com uma trama profundamente emocional do início ao fim. Tudo potencializado por atuações impressionantes, em especial de Mackenzie Foy, Jessica Chastain, e, claro, de Matthew McConaughey. Longe de ser perfeito (o final força consideravelmente a barra), o filme supera as falhas e entrega a mais gratificante experiência cinematográfica de 2014. Christopher Nolan está perdoado por Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (só para atiçar mais polêmica).
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Texto de autoria de Jackson Good.