Crítica | Eu, Robô
As obras baseadas nos livros e contos de Isaac Asimov sofrem normalmente com uma problemática freqüente: são produções em que o a figura do astro que as protagoniza, é mais comercial e conhecida que a autor. Foi assim em O Homem Bicentenário com Robin Williams, que foi transformado num bobo conto infantil, elogiado pelo publico por afeição ao ator, e foi assim também com Eu, Robô de Alex Proyas, que tem em Will Smith o seu maior chamariz.
O livro de contos não é adaptado de maneira convencional, o que se vê são elementos do conto Sonhos de um Robô*, jogados em meio a historia de Del Spooner (Smith), um detetive forte, robusto, que toma banho com a mesma pose artificial de Angelina Jolie em Tomb Raider e que está aqui para ser a epítome de algo que Asimov vivia criticando: A Síndrome de Frankenstein.
Proyas parece mais preocupado em exibir seu astro sem camisa, se exercitando de maneira muscular e em mostrar um cenário repleto de CGIs artificiais do que contar uma historia coesa e com elementos de ação. A parte filosófica do filme é rasa, se perde em meio as propagandas dos tênis Converse All Star e não são discutidas ou aprofundadas. Em 2004 Smith já estava acostumado a lidar com grandes marcas, em MIB – Homens de Preto ele desenvolveu bem seu papel, foi discreto e não precisava ser o centro das atenções todo o tempo, mesmo em As Loucas Aventuras de James West, que foi muito criticado, ele estava tão canastrão quanto aqui.
A paranoia de Spooner também é algo clichê e gratuito, a velha historia de um passado com problemas envolvendo o caso central de um filme ou série é tão batido que já causa enfado no espectador antes mesmo de se consumir a tal historia. Os cenários também não envelheceram bem, assim como boa parte dos efeitos nos androides e ciborgues, nada parece natural e isso ajuda a distanciar o filme do ideal asimoviano.
Excluindo o fato da onde se baseiam os preceitos de Eu, Robô, o roteiro de filme policial também são pobres, os elementos misteriosos não geram uma grande dificuldade em se notar quem são suspeitos, culpados e os auxiliares na historia que Spooner corre. Algumas coisas simplesmente não batem, como a volúpia do personagem humano central por açúcar, se ele é tão preocupado com seu corpo e se a tecnologia não o impede de exercitar para ser tão forte, não faz sentido ele adoçar tanto o café. A necessidade de diferenciar máquina de humano passa por esse tipo de ausência de sutileza.
Outra caracterização pobre é da doutora Susan Calvin (Bridget Moynahan), uma psicologa robótica que tenta a todo custo trazer o filme para a lógica não bélica dos livros, mas esbarra na necessidade da historia se mover na direção de um filme de brucutu genérico dos anos 90. Absolutamente tudo está montado para dar chance a Smith de soltar alguma frase de efeito, ou simplesmente se alimenta sua paranoia de fobia contra mecânicos, fato que agrava evidentemente a investigação sobre a morte do Doutor Lanning (James Cromwell), e o envolvimento de Sonny (Alan Tudyk) nisso.
Os momentos finais buscar ser emocionantes, com a revolta das máquinas ocorrendo motivadas por uma inteligência artificial suprema, cujas motivações não fazem qualquer sentido. Os combates soam genéricos, não tem muito peso, uma vez que o nível tecnológico empregado nos efeitos não era tão acurado sequer para a época, que dirá mais de quinze anos depois. É uma pena que Proyas tenha realizado um filme tão equivocado e com um script tão pobre quanto esse escrito por Akiva Goldsman e Jeff Vintar.
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