Tag: João Pedro Zappa

  • Crítica | Vende-Se Esta Moto

    Crítica | Vende-Se Esta Moto

    De Marcus Faustini, Vende-se Esta Moto é um filme barato e bastante simples. Na trama, somos apresentado ao casal formado por Xéu (João Pedro Zappa) e Lidiane (Mariane Cortines) no início de uma gravidez, com os personagens fazendo planos para morar juntos, mudar de trabalho, e claro, vender a moto de Xéu, seu bem a tanto tempo que mais funciona como amiga.

    Todo o roteiro gira em torno do casal. Eventualmente um ou outro personagem periférico aparece e age como fator de mudança em suas rotinas, é como se houvesse uma linha guia, com os dois jovens pais sendo cortada sempre por alguém, seja por Quitta (Priscila Lima), uma conhecida dos dois que nutre tesão por ambos, ou por amigos e parentes mais próximos.

    O fato de ser uma obra com núcleo bem definido causa um estranhamento no início, mas logo se torna algo comum. As relações envolvendo Lidiane, seja do passado ou do presente, são registradas de modo muito singelo nos detalhes que Faustini grafa, como fica evidente em detalhes, nas mãos dos personagens que claramente querem se reencontrar e evitam o magnetismo que fica evidente mesmo ao menos observador dos espectadores.

    Mesmo com o advento de alguns triângulos amorosos e participações especiais de atores como Guti Fraga, Vinicius de Oliveira e Sivlio Guindane, é em cima de Zappa e Cortines que se estabelece a maior sensação de vida, sentimento, sacrifício e emoção de Vende-Se Esta Moto. O diretor consegue equilibrar muitíssimo bem o desempenho de seus atores e propõe momentos de ruptura com suas próprias crenças e com a concepção do que é o ideal quando se é um casal. As quebras de paradigmas e a complexidade do texto são apresentadas de forma bastante natural e o texto tem muito mais a dizer do que a maior parte dos filmes naturalistas que normalmente correm os festivais de cinema nacional, O longa de Faustini prova que ele é uma pequena pérola, uma joia rara entre os filmes feitos no Rio de Janeiro.

    https://www.youtube.com/watch?v=6fo6bYGsIPU

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  • Crítica | Gabriel e a Montanha

    Crítica | Gabriel e a Montanha

    Saudade é uma palavra da língua portuguesa que não possui similar em outras línguas. Essa sensação não é exclusiva dos brasileiros, mas certamente acompanha o ideal do país e é baseado nesse sentimento que se ergue Gabriel e a Montanha, de Fellipe Gamarano Barbosa, onde traduz a trágica história de Gabriel Buchman, um rapaz que se lança em uma viagem pelo mundo para que ele possa superar o falecimento de seu pai. O rapaz faleceu no Quênia, tentando escalar o Monte Mulanje.

    Há algumas semelhanças óbvias com 127 horas de Danny Boyle. A persona que João Pedro Zappa emprega é a de um garoto preocupado com o próximo e de hábitos simples. Logo o espectador trata de torcer por ele, mesmo que ele pareça ser um menino apressado e desorganizado demais para alguém que não quer soar como um simples turista.

    É curioso que a parte em que mais se fala português seja a mais controversa de toda a trama. O acréscimo da namorada de Gabriel, interpretada por Caroline Abras serve como divisor de águas, de fato, seja pela homenagem justa ao par do biografado nos seus últimos dias, como no mergulho dentro de sua humanidade. As discussões entre o casal podem ser encaradas tanto como um desvio do foco da viagem do personagem-título, como também um mergulho em sua intimidade e real identidade. Apesar da visceralidade e de ser esse o único momento em que as pessoas realmente são o que elas são, há uma quebra de ritmo e uma dificuldade enorme do roteiro em retomar de onde parou a obstinação do rapaz viajante.

    Seus sonhos e obstinações são retratados por uma câmera que começa em um clima quente e termina de modo lamentoso pelas escolhas do rapaz. Mesmo que de forma involuntária, há um julgamento moral sobre as atitudes de Gabriel, e isso dá ao drama contornos maniqueístas.

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  • Crítica | Boa Sorte

    Crítica | Boa Sorte

    Utilizando o cenário de um manicômio, que simboliza o quão errático anda o mundo, Boa  Sorte, da diretora publicitária Carolina Jabor, conta a história de um jovem chamado João (João Pedro Zappa), cujo vício em remédios tarja preta unido a refrigerantes de laranja o faz ter um desempenho completamente aquém do esperado para um juvenil. Sua expectativa é encurtada, e sua existência parece não ter muito sentido, até que é levado a uma casa de repouso, onde conhece pessoas que compartilham de misérias parecidas com as suas.

    O que deveria ser uma casa de reabilitação para vencer a depressão, ansiedade e o transtorno de stress pós-traumático acaba tornando-se um lugar de descobertas, onde ele encontra pares que fariam seu tempo render mais, além de conseguir dar uma boa razão para sua existência. A principal responsável por isto seria Judite, interpretada por uma inspirada Deborah Secco, uma mulher lindíssima, soropositiva, com os dias contados, que tem em comum com ele o vício em remédios para ansiedade, além de outros tantos pecados de dependência, cuja culpa inexiste graças a sua condição especial.

    Aos poucos a dupla se reúne, encontrando um no outro o ideal para uma parceria, construindo uma estreita relação de interdependência, pautada inicialmente no sexo, evoluindo aos poucos, até que a intimidade deixa de ser puramente carnal e torna-se sentimental. Toda a construção do sentimento é feita de modo muito natural, tão bem urdido que até as inconveniências típicas de seus distúrbios parecem ajuda-los a ficar cada vez mais próximos.

    A aflição da alma é o principal fator que os une. A invisibilidade, indiferença e irrelevância que sofriam por parte dos que os cercavam fazem dos dois solitários de mundos distantes em uma junção de caráter irretocável, até na disparidade da compleição física de ambos.

    O rosto cadavérico de Judite contrasta com o belo e curvilíneo corpo, como se morte e sensualidade convivessem sobre o mesmo invólucro, como sinais evidentes da insanidade que habita sua mente e que se reflete em seu exterior, acrescentando uma camada a mais de fascínio à sua bela intérprete.

    O sanatório vira o lar da afeição, evoluindo até do quadro puramente amoroso para resultar em estima, onde os incompreendidos podem viver suas vidas em moderada paz, tecendo planos para sua existência fora daquelas paredes que os encerram, ao menos para o rapaz que não está em fase terminal. A relação de Judite e João chega a um estágio onde a sujeira e vergonha pensada por um bem maior predomina, rompendo com a dependência que ocorria, quebrando os laços de semelhança entre o modo como um homem e seu animal de estimação se tratam. A servidão incondicional é demolida pela mulher, que não quer assistir o seu improvável príncipe encantado sucumbir ao esperar por um futuro que não virá. Ela o libera, para que viva sua vida, algo miserável, claro, especialmente se comparado ao que sentia quando estava com ela, mas algo comum e ordinário, semelhante ao que Judite sempre sonhou para si, mas que jamais conseguiu alcançar sozinho. Tal subtexto faz de Boa Sorte algo um pouco mais inteligente do que as contumazes histórias de amor do cinema comercial.