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  • Crítica | O Eterno Judeu

    Crítica | O Eterno Judeu

    O Eterno Judeu é um documentário em longa-metragem, de pouco mais de uma hora de duração, dirigido por Fritz Hippler. Sua ideia é alimentar na população uma cultura de ódio e asco pelos judeus, como esforço para desmoralizar a raça e religião destes, igualando-os a seres sub-humanos.

    O começo do filme mostra os guetos poloneses habitados em sua maioria por judeus. Nas placas explicativas, há uma distinção muito clara entre os  europeus legítimos e esses. A xenofobia e exclusão que seriam empregadas nesse povo ao ponto de isola-los em campos de concentração seria revelada também no claro desdém que o narrador escolhido por Hippler faz, tratando-os como inferiores, e ainda acusando-os de avareza e maldade, ainda que tenham sido roubados e explorados pelos alemães que apoiavam o governo tirânico de Adolf Hitler.

    As imagens de arquivo, em preto e branco mostram o martírio de homens e mulheres, que trabalharam para o regime do terceiro reich praticamente como escravos. Quase nunca há silêncio, e quando isso ocorre é um verdadeiro alívio para o espectador, uma vez que em silêncio, o narrador não põe para fora sua ideologia torta e torpe. A escolha das imagens é sui generis, tenta focar em cidadãos comuns, que tem cabelos e barbas desgrenhadas, apelando para um ideal estético, como se os descendentes hebraicos não se arrumassem, escolhendo normalmente imagens do final da jornada de trabalho.

    Outro fator preponderante para que o filme tenha poder, é a apelação de que os judeus são invasores, expansionistas, e tentam tomar a terra e as riquezas alheias, do “nobre” povo europeu “puro”. Os ratos que são mostrados em cenas repletas de detalhes cinematográficos, utilizados para referenciar os judeus, servindo bem para vender a narrativa nazista. No entanto, esta comparação conversa bem com a obra de Art Spiegelman, Maus, que tratava da sobrevivência dos filhos de hebreus durante os anos da Segunda Guerra Mundial e eram retratados como ratos na história.

    Os preceitos da mentalidade fascistas são repetidos continuamente e de maneira tão prolongada que funciona como sugestão da verdade, se passando por material histórico real, por conta do formato que fala mais a linguagem popular do que estudos acadêmicos. O modo de narrar os sofismas faz com que estes não pareçam simples mentiras. As partes de dramatização dos fatos reais são cuidadosamente montadas para fazer os que proferem a fé judaica como enganadores que  se fazem de vítima, encontrando eco em boa parte do discurso extremista atual, que acusa sempre as minorias de se colocarem como falsas vítimas do tempo atual, invertendo a balança de culpa. Incrivelmente, as táticas de hoje são as mesmas de ontem, e existem àqueles que mantenha sua miopia viva, mesmo diante das injustiças repaginadas e atualizadas.

    Mesmo com a curta duração de uma hora e pouco, Kippler dedica alguns minutos para criticar a ideologia marxista, e cita nominalmente Karl Marx como inimigo de sua própria ideologia, já que ela seria contra tudo que é bom, ordeiro e correto de acordo com a religião e o conservadorismo. Talvez se os crentes em teorias da conspiração de que o nazismo é uma ideologia à esquerda vissem somente este filme da propaganda nazista, já teriam argumentos suficientes para perceber a besteira que defendem.

    Durante à época em que Hitler esteve no poder, foram produzidos mais de 1300 filmes, valor este superado apenas pelos Estados Unidos, que além de ser uma potência na arte era também um país de território continental. Eles não eram tão pioneiros, e Kippler não tinha um cinema tão sofisticado quanto de Leni Riefenstahl, sobretudo em O Triunfo da Vontade, mas nota-se também uma ideia de cinema mais refinada, mas nada que salve o conteúdo de ser menos nefasto do que é, principalmente, quando mostra cenas dos ritos israelenses como se fossem um mantra contra tudo que é não-judeu.

    O cinema de propaganda nazista tinha algum pioneirismo sim, no sentido de usar os artifícios mais baixos para destacar o seu ideal e O Eterno Judeu é um dos maiores expoentes dessa mentalidade falaciosa, que se dedica inclusive a desdenhar de seus adversários e daqueles que o governo persegue, elevando o tom de covardia a um nível megalomaníaco.

    https://www.youtube.com/watch?v=jIuBaON4qoE

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  • Crítica | O Triunfo da Vontade

    Crítica | O Triunfo da Vontade

    Em 1934 Leni Riefentstahl, uma cineasta alemã que acabou dedicando sua carreira e filmografia a registrar os feitos do terceiro reich, tratou de documentar a vitoria do partido nazista de Adolf Hitler. A primeira imagem é justamente da águia com a suástica e o ponto de partida é a festa do partido em 5 de Setembro de 34 em Nuremberg, onde se comemoravam as vitórias do governo tirano-fascista que assolou a Europa e o mundo nas décadas de trinta e quarenta do século XX.

    O filme trata de relembrar a perda da primeira Guerra Mundial 20 anos antes do lançamento deste, e essa nova fase política é chamada pelas cartelas de texto como o renascimento da alma alemã. As primeiras cenas com agentes humanos mostram Adolf Hitler saudado pelo povo, desfilando em um carro oficial, glorificado e adulado pelo povo alemão, que o adotou como chanceler e líder.

    É importante lembrar que esse é um filme propaganda, um dos expoentes da cultura que Joseph Goebbels ajudou a montar como máquina forte do Estado, que transformava manifestações artísticas em meras formas de exaltar o poder e o domínio nazi-fascista e autoritário da ala de poder de Hitler. Perder isso de vista é sinônimo de auto enganação e para contextualizar leitores não cientes do cenário histórico politico, Riefenstahl acabou se tornando um dos principais nomes do cinema alemão justamente por essa vontade de fazer documentários sobre o regime, passando não só pelo louvor a Hitler, mas também nos encontros que o líder austríaco teve com outras lideranças do espectro de extrema direita, como Benito Mussolini e as tropas italianas, no entanto nada impressiona mais que a série de discursos dos politicos nacional socialistas, entre lideranças locais e governadores de lugares ocupados, como a Polônia.

    Os aplausos se intensificam com as falas de Goebbels, que destaca que a força autoritária alemã vem das mortes e tristezas de seu povo, evocando um sentimento nacionalista bem condizente com o discurso demagogo que a pátria deve ter seus anseios acima de qualquer outro ideal, justificando inclusive a segregação e obliteração de oposição ou algo que o valha.  Há um cuidado enorme em evocar um espírito de heroísmo e oportunismo barato, que se vale até do fato de Hitler ser veterano da  Primeira Guerra, ainda que claramente ele não tenha sido um dos que mais sofreu na pele a vitória dos opositores da Alemanha.

    É preciso ter estômago para assistir ao filme, soa tragicômico a relação de falsidade que vem de Hitler para os mais novos com quem fala, em especial a Juventude Hitlerista, assim como a idolatria que esses moços o dedicam, e não seria um absurdo afirmar que nem toda essa reverência seja necessariamente imposta, pois o discurso repleto de preconceitos e lugar comum é fácil de ser aderido pelo jovem sem conhecimento, suscetível ao engodo proveniente desse pensamento segregacionista. Engraçado são as partes escolhidas por Riefenstahl para estampar o discurso, com Adolf falando que aquele era um movimento que não diferenciava castas ou credos, quando a maior perseguição era exatamente em quem não se qualificava como membro da raça ariana, “pura” e “ideal”. O discurso demagogo servia principalmente para os de fora ou as plateias mais adultas, eram parte da tentativa de verniz social que a Alemanha pregava, e o discurso daria certo se tivessem sido eles os vencedores da Segunda Guerra.

    O final do longa metragem acontece em meio a grandes celebrações pós morte de militares e políticos importantes, com Hitler benzendo cada uma das novas bandeiras do exercito, cumprimentando um a um seus conterrâneos. Por mais o objetivo não fosse obviamente este, O Triunfo da Vontade registra uma fragilidade de discurso e estrutura do Reich, mostrando um bocado da hipocrisia alemã enquanto povo e dos oportunistas que tomaram o poder, mostrando bem como pode o sujeito comum se aliar a figuras nefastas basicamente por preconceito, prepotência ou por subestimar o potencial destrutivo de autoridades preconceituosas e castradoras.

    https://www.youtube.com/watch?v=WeZPDmGXtNI

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