Crítica | Toy Story 4
Havia uma promessa após Toy Story 3 que a saga de Woody e dos outros brinquedos finalmente chegaria ao fim. Ocorre que, nove anos depois a Disney/Pixar trouxe enfim um novo capítulo para a franquia, dessa vez dirigido por Josh Cooley, em uma história que prometia poucas surpresas.
Na trama, já se sabia que Woody reencontraria Betty, a pastorinha de porcelana que não aparecia desde o segundo filme. A trama começa nove anos antes do presente, em um dia chuvoso que marca o retorno de vários brinquedos antigos do Andy. A sequência em si além de animada é bastante emocionante, e marca a ideia central do filme, de que brinquedos vem e vão. Os momentos de ação melhoram ao ser pontuados pela música brasileira de Zé da Viola, que retorna para traduzir os temas de Randy Newman, incluindo uma música inédita.
Woody tem que se adaptar a uma nova condição, sendo muitas vezes ignorado por Bonnie, mas sem jamais culpar a menina por isso. Neste ponto, há homenagens a momentos clássicos, como quando o vaqueiro e Buzz passeiam pelo Pizza Planet. Sua interferência em tudo é um aspecto que ele percebe que precisa mudar, mas essa evolução terá de esperar pela aproximação de um novo personagem, um garfinho criado pela menina durante sua ida ao jardim de infância.
O novo paradigma traz uma nova sensação ao brinquedo, a vontade de não querer existir. O personagem funciona como um pupilo de Woody, mas também ensina algumas coisas, dentro daqueles aspectos estereotipados de filmes otimistas, mas que aqui funciona muitíssimo bem, em especial no que toca a sensação de não mais pertencimento a uma classe ou a um grupo específico. De certa forma, o Garfinho e Woody compartilham parte do mesmo destino, e aos poucos o caubói copia elementos de personagens diferentes entre si.
Se nos outros três capítulos da saga tratam de rejeição, esse tem como um tema central o pertencimento, no caso, o lugar de destino dos brinquedos, não importando se eles são de material descartável, duradouro ou de qualquer outra natureza. Com a adesão de Betty à trama se discute de maneira não-panfletária o lugar que cada brinquedo tem, além de belíssimas reflexões a respeito de consciência, no arco de Buzz.
Há duas personagens femininas fortes: Betty e Gabby Gabby – personagem que segundo os trailers era vilã e tirana mas que no decorrer dos 100 minutos, desconstrói essa imagem. A postura de ambas é bem diferente, e as duas causam diferentes emoções no protagonista, uma fazendo com que ele deseje ser independente e aventureiro, e outra reforçando o apego dele ao seu dono, e o desenvolvimento desse aspecto por parte de Woody talvez seja um dos pontos mais maduro e profundo de todo o roteiro de Andrew Stanton e Stephany Folsom.
Os novos brinquedos também são muito bem apresentados, em especial o curioso Duke Caboom, dublado por Keanu Reeves, personagem esse que garante boas risadas e reflexões sobre superação de obstáculos. Há outros que apelam para eventos mais óbvios, mas ainda assim são bem carismáticos, como os brinquedos prêmios de jogos no parque. Os antagonistas são desenvolvidos, em sua maioria, como personagens multidimensionais, e o rumo destes redime um pouco Lotso, Pete Fedido e outros vilões já apresentados na série.
Os brinquedos quebram muito dos protocolos, e isso ajuda o dar peso nas escolhas que o filme toma, fazendo com que as tiradas cômicas sejam muito mais significativas. A mensagem de que não dá para carregar todos os brinquedos sempre é muito bem explorada, ainda que a história de Toy Story 4 tenha algumas fragilidades. A vida é feita de transições, e mesmo pequenos ritos introduzidos no filme fazem um enorme sentido aqui. Para quem acompanhou todas as aventuras dos brinquedos de Andy e Bonnie é impossível não se importar com toda a carga dramática apresentada nesta sequência, e para ajudar o longa é visualmente belo, divertido e com uma bela carga dramática, pontuando bem o caráter e o espírito que a Pixar traz desde o primeiro Toy Story.